Ovos de Páscoa menores e lembrancinhas: produtores artesanais usam criatividade para vender mais

Com a alta do cacau e o consequente aumento no preço dos chocolates, os ovos de Páscoa parecem estar cada vez menores. Faz parte da estratégia. Como os consumidores estão optando por presentear menos pessoas e fazendo escolhas mais econômicas, diversificar as opções da iguaria é uma das apostas dos produtores artesanais para esta Páscoa.
Lembrancinhas, kits personalizados, mini ovos de Páscoa e barras de chocolate recheadas são algumas das opções encontradas na produção local. Já no varejo, os ovos de chocolate robustos e industrializados permanecem lá e, inclusive, serão a preferência da maioria dos consumidores belo-horizontinos neste ano.
A concorrência, no entanto, não arrefece a expectativa dos confeiteiros e produtores artesanais de chocolate. Eles esperam faturar nesta Páscoa, pelo menos 30% a mais do que no ano passado.

Em nenhum supermercado o consumidor vai encontrar, por exemplo, o ovo de colher que a Flávia Moreira, de Belo Horizonte, faz. Ela escolhe os melhores ingredientes para a sua produção e cria novos sabores todo ano. A sensação da vez é o recheio de pistache com frutas vermelhas.
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“O ovo de colher é o que eu mais vendo. As pessoas têm buscado opções mais baratas, como lembrancinhas mesmo, que é esse ovo de colher mas em tamanho menor. O kit confeiteiro também tem bastante saída. Ele é para crianças, e vem com os ingredientes para ela confeitar o próprio ovo de colher. Também vendo ovos fechados, com o recheio na casca, e uma novidade que estou lançando, que é uma petisqueira em formato de coelho, com várias divisórias e ingredientes para petiscar ovinhos de Páscoa”, conta.

Os produtos da marca Flávia Moreira Confeitaria Artesanal para a data vão de R$ 20 a R$ 98.
Proximidade e encomenda personalizada
A qualidade da produção artesanal depende necessariamente de uma boa alquimia entre os ingredientes. Por isso, os produtores escolhem os insumos a dedo. O cuidado de quem está fazendo com as mãos um produto sob encomenda, endereçado a alguém que, muitas vezes, faz parte de seu círculo de convívio, é diferente, reflete Flávia.
“Eu acredito tanto na qualidade de quem está fazendo como na qualidade do produto. Eu, por exemplo, não uso qualquer ingrediente e prezo muito por isso. Acho que é essa a diferença entre o produto artesanal e o industrializado. O ovo no supermercado pode ficar meses lá que ele não estraga devido à quantidade de conservantes que possui para se manter. Outro aspecto é que o que chama a atenção da criança é o brinde que vem junto. Então, geralmente, esse ovo industrializado é um ovo com casca fina, sem recheio. Muitas vezes, é só o chocolate comum de tal marca em formato de ovo”, explica.

Sucesso na última Páscoa, ovo de bombom caribe está de volta
Sucesso de crítica e público, o ovo de bombom Caribe virou febre no ano passado, tanto que, rapidamente, estava esgotado nas prateleiras. Então, o jovem empreendedor Antony Araujo Clark, também de BH, desenvolveu uma versão artesanal da iguaria, e conversou com o Diário do Comércio em primeira mão.
Depois, foi procurado por outros veículos de imprensa, e foi tão requisitado pelos consumidores ávidos pelo sabor do bombom de banana, que seu produto também esgotou.

Para este ano, o dono do Ateliê Gastronômico Hermes se preparou para a alta demanda e aumentou a sua produção em cerca de 30%. É este também o volume que espera faturar a mais nas vendas, na comparação com o ano passado.
“O ovo de bombom Caribe é um destaque muito grande, foi uma unanimidade. Como muita gente não conseguiu comprar ano passado porque esgotou, estou o trazendo de volta no menu deste ano, além de outros sabores como o de pé de moleque cremoso, que vem com brigadeiro de café. Quero priorizar mais sabores mineiros também”, adianta.
Ele tem também os sabores de Ferrero Rocher, ninho com morango, prestígio, Maracujack (que além da fruta, leva brigadeiro de uísque) e Darkmelo (com caramelo salgado). São ovos de colher com tamanho aproximado de 500g e valor de R$ 110. Mas o menu também traz opções mais econômicas, como barras de chocolate recheadas e mini ovos de Páscoa, com valores entre R$ 18 a R$ 42.

“As expectativas estão muito boas para este ano. O Ateliê tem se consolidado cada vez mais e, ano passado, se firmou bastante na Páscoa. O menu foi lançado na última semana e desde a semana anterior já estou sendo procurado para encomendas. Este ano, me organizei para atender primeiro as encomendas corporativas, que são as empresas e profissionais que precisam de lembrancinhas para esta época e, depois, já vou para a produção de Páscoa no varejo”, conta.
Preparação até para encomendas de última hora
Ele também se prepara para atender os retardatários. “Já é uma demanda muito grande, e na semana mesmo da Páscoa, ela fica ainda maior, porque quase todo mundo deixa para pedir em cima da hora. Por isso, com uma produção inteligente, eu vou conseguir pensar nos atrasados também e me preparar para isso. Este ano, vou conseguir atender até quem faz e encomenda um dia antes”, diz Antony Clark.
O menu do Ateliê Gastronômico Hermes também tem opções de tábuas e petiscos, e sobremesas, para o almoço de Páscoa. Mesmo com a alta demanda nesta data, é o fim do ano que movimenta mais os negócios.
“Temos outras datas muito boas de vendas como a Páscoa mesmo, e o Dia das Mães, mas o fim do ano é nosso top de vendas, porque é aquele período que as pessoas recebem o 13º e também estão mais propensas a gastar, a presentear”, cita.
Em datas comemorativas, ele lança tábuas e cestas de café da manhã ideais para entrega, um serviço que começou na pandemia como forma de possibilitar que as pessoas pudessem presentear, de forma segura, quem elas amavam e de quem sentiam saudades no período de restrições. Permanece, ainda, o afeto gerado, o cuidado e a personalização com os preparos, justamente os diferenciais de uma produção artesanal.
“Por ser artesanal, não consigo massificar tanto a minha produção como as grandes empresas, então, mesmo me preparando para atender mais encomendas, há um limite. Mas também há o bônus de ser um produto mais específico feito com carinho, atenção e personalização”, observa.
“O custo-benefício pode não ser visível aos olhos, mas quando o consumidor compra um ovo de Páscoa industrializado no valor de R$ 90, ele tem praticamente só a casca ali. Já o ovo artesanal, mesmo a R$ 110, vem o dobro ou até o triplo de peso, e muito cuidado com a qualidade do recheio, com o preparo, a atenção com os insumos, a relação com os fornecedores dos ingredientes, das compotas. Acho que isso é algo que nos diferencia bastante”, completa.
Minas tem quase 4 mil pequenos negócios no ramo de chocolates
Segundo informações compiladas pelo Sebrae Minas, com base no banco de dados da Receita Federal, Minas Gerais conta com 3.989 pequenos negócios no ramo de fabricação e comércio de chocolates. Além disso, são 1.809 Microempreendedores Individuais (MEI) trabalhando no ramo.
Uma delas é a confeiteira Ana Paula Nunes, da cidade de Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas, que tem na atividade sua única fonte de renda. Ela espera, nesta Páscoa, um aumento de 45% nas vendas em relação ao ano passado.
“Minha primeira Páscoa foi em 2020. Comecei na confeitaria durante a pandemia, em meio ao caos que pegou todo mundo de surpresa. Era uma forma de renda extra, na época. Hoje, a confeitaria é 100% a minha fonte de sustento. Comecei fazendo pastel de leite ninho e fui crescendo cada vez mais”, lembra.
Neste ano, ela também vai oferecer opções menores de ovos de Páscoa, para atrair a clientela, que busca por opções mais econômicas para presentear.

“Essa é a melhor época para a confeitaria. Nossas vendas estão indo conforme planejamos. Acho que, mesmo com todo o aumento do chocolate e das embalagens, esse ano será ainda melhor que o ano passado. Temos que oferecer opções de diversos valores para que o cliente possa escolher nosso produto. Portanto, acho que um cardápio bem planejado atrai o cliente e faz com que ele opte pelo produto artesanal. Este ano, vamos trabalhar com dois tamanhos: o maior e o menor, para que o cliente tenha mais opções”, conclui.
*Colaborou Dione AS
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