Economia

Pacote para conter a inflação poderá ser inócuo

Pacote para conter a inflação poderá ser inócuo
Anúncio desagrada setor sucroenergético, prestes a fazer a colheita da nova safra em MG e no País | Crédito: Divulgação

A tentativa do governo federal de frear a inflação por meio da redução a zero de impostos que incidem sobre a importação de sete produtos que estão presentes no dia a dia dos brasileiros pode ter pouco efeito prático. A medida – anunciada na noite da última segunda-feira (21) pelo Ministério da Economia e que tem validade até 31 de dezembro de 2022 – resultou na isenção da alíquota do açúcar, café moído, etanol, macarrão, margarina, óleo de soja e queijo. 

A iniciativa já desagrada o setor sucroenergético, que está prestes a fazer a colheita da nova safra em Minas Gerais e no País, e pode, ainda, ser insuficiente por não ter ação direta nos fatores que estão encarecendo os produtos incluídos no pacote. 

Conforme explica a gerente de economia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Daniela Brito, a redução da tarifa de importação não consegue absorver aumentos que são provocados pela guerra deflagrada entre Rússia e Ucrânia e pelo valor de commodities no mercado internacional, além das expectativas de retomada do crescimento mundial após os momentos mais críticos da pandemia da Covid-19. 

Como exemplo disso, a especialista cita o macarrão. “A base do produto é a farinha de trigo. Nós estamos assistindo a uma guerra entre os maiores produtores de trigo. O aumento dos custos em decorrência disso irá repercutir muito mais que a redução do imposto de importação”, explica Brito. 

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Com a insuficiência da medida para controlar a instabilidade global diante da falta ou altas elevações nos preços de insumos e do conflito no Leste europeu, que está prestes a completar um mês, eventuais efeitos positivos para o consumidor serão sentidos por pouco tempo. Ainda de acordo com a gerente de economia da Fiemg, a medida irá baratear a oferta dos produtos, mas, a partir do momento em que houver redução dos preços, a demanda aumentada por itens com preços mais baixos causará um novo desequilíbrio no preço dos produtos, encarecendo-os novamente. 

Etanol 

O anúncio do governo federal foi recebido com surpresa pelo setor sucroenergético, responsável pela produção de açúcar e etanol, principalmente. O Fórum Nacional Sucroenergético, que representa 15 associações de todo o País, inclusive a de Minas Gerais, emitiu nota contrária à isenção de impostos de importação sobre o etanol e defendeu que a ação desconsidera as relações bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, que pode ser um dos principais beneficiários da medida, visto que tem condições de exportar etanol excedente de sua produção. 

O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, afirma que, apesar de legítima a preocupação com as constantes altas da inflação no País, é preciso considerar a reciprocidade no comércio internacional. Segundo ele, os Estados Unidos já tentavam há um tempo aumentar a capacidade de exportação de etanol para o Brasil e que a medida demonstra que o Brasil abriu mão de negociar a taxação sobre o açúcar que é exportado por produtores nacionais para aquele país. Além disso, o presidente da Siamig afirma que a medida ocorre em um momento em que já haveria uma redução dos preços com a safra que se aproxima e, mais uma vez, dos efeitos futuros que a guerra pode representar. 

“Para o setor é muito ruim. Nós estamos na iminência de iniciar uma nova safra e esse marco, por si só, já tem um efeito provável de redução do preço, porque há uma oferta adicional de etanol. Nós estamos sob o ambiente de instabilidade mundial pela guerra e temos receio de que lá na frente tenhamos uma janela de importação muito grande do produto americano”, pontua Campos, que lembra, ainda, que não há falta de etanol nacional para suprimento das necessidades de consumo e que é pouco provável que o açúcar seja importado de outros países para o Brasil. 

Nesse sentido, Daniela Brito ressalta que a redução de tarifa de importação precisa ser bastante criteriosa justamente para não prejudicar setores que produzem itens similares. Os prejuízos advêm, por exemplo, dos custos de produtos que os empresários tiveram com a safra anteriormente planejada e as expectativas de preços que estavam sobre elas. Ademais, Brito lembra que os custos de produção no País são maiores que em demais produtores, o que torna os produtos externos mais competitivos frente aos nacionais. 

Redução nos postos 

De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Rafael Macedo, a medida não deve surtir efeitos para os consumidores e, consequentemente, não deve satisfazer os objetivos do governo federal. 

“O Brasil é um dos maiores produtores de etanol do mundo e possivelmente o impacto será mais na distribuição que propriamente no varejo. Nesta semana mesmo, por exemplo, as distribuidoras já repassaram um aumento no custo de etanol hidratado de 4% e no custo do anidro em 8%. Ou seja, é preciso aguardar para ver como os outros elos da cadeia vão se movimentar”, avaliou Macedo. 

Alta de itens é vista como o maior problema

São Paulo – Pesquisa Exame/Idea divulgada ontem mostra que mais da metade dos brasileiros, 57%, consideram a inflação o maior problema do País a ser resolvido em 2022. O desemprego aparece na sequência, com 19% das pessoas escolhendo essa opção, seguido pela pobreza (12%) e violência (6%).

A pesquisa ouviu 1.284 pessoas entre os dias 15 e 17 de março. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

A ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem indicou que a projeção para o IPCA de 2022 no cenário de referência está em 7,1%.

Este cenário pressupõe a taxa de juros variando conforme a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 5,05 e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Para 2023, a projeção está em 3,4%.

As projeções do BC reforçam o novo rompimento da meta de inflação este ano, considerando o teto de 5,0%. Para 2023, a estimativa está um pouco acima do centro da meta (3,25%).

A pesquisa Exame/Idea também questionou os entrevistados sobre a maior preocupação pessoal. A inflação também alcança o maior percentual, com 36%. Logo depois aparece a opção “sustentar a família”, com 14%, e a guerra na Ucrânia, com 12%. (Uol/Folhapress)

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