Economia

Para economistas, situação fiscal é o motivo para alta do dólar

Disparada da moeda norte-americana frente ao real estaria ligada às incertezas quanto ao rumo da política fiscal no País, revelam profissionais consultados pelo Diário do Comércio
Para economistas, situação fiscal é o motivo para alta do dólar
Foto: Reprodução Adobe Stock

Economistas refutam que há um ataque especulativo no País, e atribuem a desvalorização do real frente ao dólar à falta de confiança por parte dos agentes do mercado financeiro quanto à condução da política fiscal no Brasil. Os especialistas apontam que, mesmo em um cenário de incerteza, uma crise cambial é pouco provável.

A cotação da moeda norte-americana no Brasil acumula alta de 25,6% em 2024 e, nos últimos dias, a valorização frente ao real tem atingido o maior valor nominal da história.

O professor de economia do Ibmec BH, Gustavo Andrade, afirma que falar em ataque especulativo beira à irresponsabilidade neste momento. “Moeda é um termômetro importante e está mostrando que, internamente, o Executivo não está conseguindo conduzir nem a comunicação e muito menos a política econômica”, disse.

Para Andrade, a situação que tem definido a cotação da moeda, como um todo, é pela percepção de que o crescimento econômico do País, é via impulso fiscal exagerado do governo federal, que induz a demanda. Com isso, há alta temporária do Produto Interno Bruto (PIB), mas uma pressão inflacionária contratada no futuro, o que piora as expectativas.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


“Grande parte do movimento da economia local, dessa irresponsabilidade, falta de expectativa de melhora, e principalmente, é uma resposta dos agentes de mercado não só locais, como estrangeiros”, afirma. O economista não acredita em uma melhora no panorama atual, salvo na mudança de governo com outra visão econômica nas eleições de 2026.

O economista Guilherme Almeida, head de Renda Fixa da Suno Research e colunista do Diário do Comércio, aponta que a divergência, na condução da política fiscal com a monetária, impede que o Banco Central (BC) exerça toda sua potência na política monetária. Frente à incerteza, os investidores buscam alternativas mais seguras, como a moeda norte-americana.

Até mesmo a entrevista do presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT) ao programa Fantástico, da TV Globo, pode ter contribuído para aumentar a desconfiança do mercado financeiro.  “Querendo ou não, ainda que isso tenha um cunho político, isso gera incerteza no mercado, porque você tem um Executivo falando que o Brasil não passa por um problema fiscal. Então a interpretação dos agentes da economia é de um cenário incerto”, ressalta.

O primeiro passo do governo federal, afirma Gustavo Almeida, é alinhar o discurso entre Executivo e ministérios envolvidos no debate sobre a situação fiscal do País, para fazer os cortes de gastos necessários e tentar recuperar credibilidade no mercado financeiro.

“A comunicação é a primeira frente para o controle para esse clima de incerteza. Uma política fiscal e uma política monetária, uma política econômica de uma forma geral, para ser crível, precisa ter essa convergência entre os interlocutores”, analisa.

Com Trump e Fed, EUA afeta o dólar no Brasil

O economista e sócio da 3A Riva Investimentos, Samuel Leite, explica que a atual fuga de capital no País, tanto nacional quanto estrangeiro, deriva realmente da falta de credibilidade do pacote fiscal, do governo federal, no mercado financeiro, mas aponta a volta de Donald Trump à presidência dos EUA como outro fator determinante para a alta do dólar.

O futuro presidente dos EUA é conhecido por suas políticas protecionistas, que deverão levar a um fortalecimento global da moeda da maior economia do mundo frente a outras economias.

No momento, pontua, qualquer cenário no futuro é factível, tanto de alta quanto de queda do dólar. Um dólar mais baixo pode acontecer com a realização de mais leilões feitos pelo BC.

Dos Estados Unidos, de Trump, também parte uma “esperança”. O Federal Reserve (Fed, o banco central do país) cortou os juros em 0,25 ponto percentual (p.p.) nesta quarta-feira (18).

Uma taxa de juros alta no Brasil e baixa nos EUA, explica Leite, incentiva a entrada do investimento estrangeiro em território brasileiro. “Se isso acontecer, o investidor estrangeiro volta com dinheiro pra cá, para investir em renda fixa, e isso faz o dólar cair novamente. Mas não me arrisco a dizer qual cenário pode acontecer”, declarou.

No final das contas, ressalta o economista, o que o mercado financeiro espera mesmo, para reduzir a cotação da moeda americana no País, é um déficit zero nas contas públicas do governo federal. “Como o déficit vem, pouco importa. Ele tem que vir. A partir desse momento, está tranquilo, aí o dólar cai e o juro cai também”, finaliza.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas