Para Gerdau, importação de aço da China é desleal

As importações de aço vindas da China têm afetado sobremaneira a indústria do Brasil. É o que alertou o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, na divulgação de resultados do terceiro trimestre de 2023, em entrevista coletiva. O CFO da empresa, Rafael Japur, revelou que a competição com os chineses pode até mesmo mudar o destino da produção de aço em Minas Gerais, que não é voltada para exportação.
“Nossa ideia não é exportar a produção de aço de Minas, mas produzir para o mercado doméstico. O Brasil tem que fazer uma escolha: se a gente quer exportar minério para a China, para que ele volte como aço subsidiado para o Brasil, gerando emprego e renda na China, ou se o aço será produzido no Brasil, gerando emprego e renda aqui. É uma escolha que cabe a todos nós”, afirmou Japur.
Gustavo Werneck comentou que a China tem “inundado o mundo com aço subsidiado” pelo governo chinês e acusou o país de competição desleal. Segundo ele, é urgente que o governo federal tome medidas já adotadas por outros países, como o México, e estipule uma taxa de importação de 25%.
“De fato, esse é o maior problema que temos hoje na indústria do aço brasileira. Está relacionado a essa desindustrialização que já vem ocorrendo no Brasil, essa competição desleal feita por muitos países no mercado mundial, a qual se agravou muito nos últimos meses, com essa importação de aço no Brasil”, disse Werneck. Este ano, a importação de aço cresceu 58%.
O CEO afirmou que as importações chinesas não seguem as normas e recomendações da Organização Mundial do Comércio (OMC), aceleram a desindustrialização brasileira e ameaçam investimentos para os próximos anos. “Eu vejo que tem um entendimento, uma compreensão (no governo) muito mais profunda que me leva a crer para uma situação de maior equilíbrio. Não vamos desmobilizar”, comentou.
Impacto
Ele explicou que a capacidade instalada no País é de produzir 50 milhões de toneladas de aço por ano, enquanto para a China, somente para exportação, a previsão é de comercializar 100 milhões de toneladas em 2023. “São números chocantes. Os países estão implementando medidas para que o aço não chegue de forma desleal. Se continuar nesse nível de importação, em toda a cadeia do aço pode impactar 250 mil empregos”, disse Gustavo.
O CEO conta que a Gerdau demitiu 700 empregados e está com três usinas paralisadas no País. Em Minas, somente a usina de Ouro Branco, na região Central, está com produção normalizada, enquanto as de Barão de Cocais, também na região Central, e de Divinópolis. no Centro-Oeste, estão com capacidade reduzida.
Por fim, Werneck expressou que a indústria do aço não pleiteia protecionismo na economia brasileira, mas uma equiparação com os concorrentes chineses. “Competimos de igual para igual com qualquer produtor de aço do mundo. A única coisa que pedimos é que se implementem medidas urgentes para combater essa penetração injusta de aço no Brasil”, finalizou.
Balanço do trimestre
Ao longo do terceiro trimestre de 2023, o lucro líquido ajustado da Gerdau caiu 47,3% e chegou a R$ 1,592 bilhão ante os R$ 3,022 bilhões registrados em igual trimestre de 2022. A queda trimestral fez com que a empresa começasse o segundo semestre com retração de 40,3% no lucro, que chegou à cifra de R$ 6,12 bilhões.
O Ebitda ajustado chegou a R$ 3,34 bilhões, valor 11,7% menor que o gerado no segundo trimestre e 37,6% inferior se comparado com o mesmo intervalo de 2022. Nos primeiros nove meses do ano, o Ebitda chegou a R$11,46 bilhões, 35,9% menor.
A receita líquida foi de R$ 17,063 bilhões no terceiro trimestre, 6,6% menor quando comparada com o trimestre imediatamente anterior. Na comparação com o terceiro trimestre de 2022, a queda foi ainda maior, de 19,3%. Nos nove meses de 2023, a receita líquida da Gerdau caiu 15,9% e encerrou em R$ 54,2 bilhões.
Mesmo assim, os investimentos serão mantidos. Com aporte de R$ 1,75 bilhão, a empresa vai expandir os perfis de produção em Ouro Branco. Além disso, investirá R$ 1 bilhão na formação de florestas para a produção de carvão vegetal e R$ 1,4 bilhão no Parque Solar de Arinos, para a produção de energia fotovoltaica.
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