Parceria reduz conta de luz das empresas em Minas

A indústria brasileira já não ia bem, quando a pandemia ampliou ainda mais as dificuldades do segmento, obrigado a se reinventar diante da queda do consumo. Em 2020, o auxílio emergencial deu um refresco para o setor, assim como a mudança de hábitos do consumidor durante a quarentena. Preso em casa, ele passou a privilegiar a compra de bens em detrimento dos serviços, que naquele momento não estavam disponíveis.
A inflação, a alta dos juros e a queda de renda foram as más notícias de 2021, refletindo-se diretamente em menor procura por bens de consumo. Junte-se a elas o aumento de praticamente todos os custos industriais, aí incluído o do dólar, que se reflete no preço de matérias-primas importadas; e o dos combustíveis, que contamina toda a cadeia de produção, a começar pelo frete. Com margens cada vez mais achatadas, o setor industrial se vê diante da necessidade urgente de rever a planilha de custos, para garantir a sustentabilidade de suas operações.
A partir de hoje, o DIÁRIO DO COMÉRCIO inicia uma série de reportagens sobre o aumento de custos de produção em diversos setores industriais e as iniciativas para mitigar este cenário e apontar caminhos para os empresários que enfrentam o problema. Começamos pela energia elétrica, que foi um dos insumos que mais aumentou nos últimos meses.
A crise hídrica esvaziou os reservatórios e, em 2021, fez com que a energia elétrica acumulasse alta de 114%, segundo a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). Enquanto isso, as chuvas de janeiro, que causaram tragédias em várias cidades brasileiras, ainda não se refletiram na redução das contas de energia.
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Em Minas Gerais, uma parceria entre a Cemig e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) resultou em um programa que está fazendo diferença nas contas de luz das empresas. E o melhor de tudo é que também está contribuindo para um meio ambiente mais limpo. As empresas mineiras que participam do programa estão recebendo crédito de energia desde abril de 2020, sem nenhum valor investido por elas, por meio de fonte de energia hídrica ou fotovoltaica. Os custos com o insumo foram reduzidos e também a emissão de gases de efeito estufa.
“A energia que chega nas casas não tem carimbo. O Operador Nacional do Sistema, dependendo do horário, pode distribuir energia hídrica ou de termelétricas, por exemplo. E pode ser solar ou eólica, a primeira abundante durante o dia e a segunda, à noite, quando venta mais”, lembra a gerente de Energia da Fiemg, Tânia Mara Santos. Nas parcerias estabelecidas pela Fiemg, todas as fontes são limpas e renováveis, o que significa lucro com sustentabilidade.
São dois modelos, que podem ser utilizados por CNPJs com contas de luz a partir de R$ 500,00. Os descontos na energia injetada em favor das indústrias que aderiram ao modelo variam entre 22% no Cemig SIM, de energia hídrica e 25% na Alsol, de geração fotovoltaica. Não há nenhum investimento por parte da indústria, que faz a adesão aos consórcios para receber crédito de energia na instalação indicada. Ideal para as indústrias de pequeno porte, que utilizam rede de baixa tensão.
Já a parceria para as indústrias conectadas em média tensão, como é o caso de algumas padarias com alto consumo de energia, o modelo de compensação de energia é similar, porém o valor do desconto é de 13%, já que a tarifa paga por essas empresas à Cemig Distribuição são bem menores. Por este sistema, tanto a Cemig quanto a Alsol fazem os investimentos em usinas hídricas ou solares.
Empresas reduzem as despesas
A padaria Boníssima aderiu a esta segunda opção em 2020. Criada há 20 anos, hoje ela tem duas grandes lojas em Belo Horizonte e é pioneira em Minas na oferta da baguete .
“Eu entendo que, ao optar pelo sistema da Cemig SIM, eu estou usando apenas energia hídrica, mais sustentável que aquelas que têm como fonte o petróleo, por exemplo. A Fiemg ajudou em tudo, através de uma parceria que foi disponibilizada para todas as indústrias. Nós não pensamos duas vezes em utilizar, porque usar uma energia limpa agrega valor aos nossos produtos. Além da economia, é claro, já que a tarifa não está submetida a variações cambiais, por exemplo”, conta o proprietário da empresa, José Batista de Oliveira, que é vice-presidente da Fiemg e presidente da Associação Mineira das Entidades de Classe da Panificação (Aepemg).
“Isso resume o que a panificação mineira, brasileira, está tentando fazer nas últimas décadas. Agregar conhecimento ao produto final em favor do cliente. É um esforço constante para ser mais competitivo, fazer melhor com menos, o que se reflete em preços melhores para o consumidor”, completa.
Batista calcula que, hoje, sua empresa paga 15% a menos no kwh. O próximo passo, segundo ele, será gerar sua própria energia, através de células fotovoltaicas, seja onde for.
A Alva Cosméticos é uma indústria mineira, com 98 funcionários, que produz maquiagens e dermocosméticos. Fundada em 2003, fabrica marcas próprias e também de clientes como influenciadores digitais de maquiagem e o Canal Farma. “A Fiemg nos ajuda nos vários desafios de empreender na Indústria mineira e brasileira e não foi diferente quando nos apresentou a oportunidade da Cemig SIM em 2019”, conta o cofundador da Alva, Ronaldo Riccio.
Entre os desafios que sua empresa tem enfrentado, ele destaca os aumentos de custos de insumos, a falta de alguns e o alongamento dos prazos de entrega por parte de fornecedores. “Com os lockdowns, tivemos que nos reinventar várias vezes. Produzimos álcool em gel e produtos de higiene nos primeiros meses da pandemia, criamos novos produtos para reforçar nosso portfólio e reforçar nossas vendas, estruturamos nossos processos internos para nos adaptarmos aos desafios que estamos vivendo até hoje”, conta o empresário.
Na Alva, a energia responde por 3% dos custos fixos.” Pode parecer pouco, mas, com a Cemig SIM e outras ações somadas, tivemos uma redução que nos proporcionou passarmos por este período turbulento”, garante Riccio.
Resultados
“Além da redução na emissão de CO2, outra vantagem é que as indústrias deixaram de repassar aumento de custo com energia para o produto final ao consumidor”, destaca a gerente do setor, Tânia Mara Santos.
Sem necessidade de obras e investimentos desses industriais, o modelo gerou uma economia, desde 2019, superior a R$ 4,5 milhões aos 440 participantes, com mais de 25 milhões de kwh de energia 100% renovável e limpa, injetada na rede para esses consumidores e redução de cerca de 2 toneladas de CO2 .
O montante contratado de energia representa oito usinas solares fotovoltaicas de 1 MW de potência instalada e duas pequenas centrais hidrelétricas de 1MW, que geraram aproximadamente 350 empregos diretos e indiretos em sua construção. Além do fator econômico e ambiental, devido ao emprego de energia limpa e renovável, a solução traz um ganho importante para o processo de produção responsável da indústria.
A consolidação de uma nova matriz energética para o processo industrial traz benefícios importantes para a economia das empresas, mas também para a do Estado. “Boa parte dessas usinas foi construída em regiões do Estado que têm baixo IDH e uma necessidade premente de melhoria do nível socioeconômico das pessoas. Estes investimentos geraram novas oportunidades de emprego e renda e, quando melhora o nível socioeconômico, melhora também a gestão ambiental”, disse o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, quando lançou o programa.
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