Paulo Paiva prevê nova crise econômica mundial
Com o cenário econômico mundial desafiador – inflação elevada, juros altos e um aperto da política monetária -, há uma expectativa de que a economia do mundo entre em crise. De acordo com o professor e economista Paulo Paiva, este será um dos grandes desafios a serem enfrentados no pós-pandemia. Apesar da tendência de uma nova crise, a estimativa é que ela seja mais branda que a crise de 2008 e com menor duração.
Para a retomada, será necessário articular o crescimento econômico com práticas sustentáveis, menor emissão de carbono e com inclusão social. No Brasil, também serão necessárias políticas e projetos que gerem resultados rápidos, a custos menores. Além disso, será preciso reorganizar a economia, já que existe um enorme desequilíbrio fiscal, por conta de medidas adotadas, recentemente, pelo governo.
O assunto foi discutido, ontem, na abertura da 2ª Capacitação Política do projeto Imersão Indústria, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).O projeto Imersão Indústria tem o objetivo de levar informações que contribuam para o melhor preparo político dos industriais e população em geral.
No evento, o economista Paulo Paiva falou sobre as oportunidades e desafios econômicos e políticos para o Brasil no período pós-pandemia. Segundo Paiva, em função do ponto de vista internacional, os desafios para a retomada do crescimento econômico no pós-pandemia são grandes.
Diferentemente do avanço da globalização, o novo modelo econômico será pautado pela maior sustentabilidade, com uma economia que emita menores volumes de carbono e que promova a inclusão social.
“Do ponto de vista mais estrutural, temos um novo modelo em que o crescimento de qualquer economia dependerá de como se articula o crescimento econômico com redução de emissão de CO2 e com inclusão social. Estas são as grandes falhas do processo de globalização que tivemos. Isso é uma questão estrutural, profunda, e o mundo não será o mesmo que foi no passado”.
Outro desafio pós-pandemia e também associado à guerra entre Ucrânia e Rússia é o aumento da inflação global. Para controlar a inflação, há um movimento de aperto da política monetária, com a elevação dos juros. De acordo com Paiva, a combinação levará a economia mundial a um período recessivo.
“Há estimativas de que vamos viver uma nova crise econômica. Possivelmente, não será tão profunda como foi 2008 e nem tão longa, mas, certamente, 2023 e 2024 serão anos desafiadores”.
Eleições
No que se refere ao Brasil, Paiva explica que um desafio é como o País será organizado a partir do ano que vem, após as eleições. O novo governo e as relações junto ao Congresso Nacional serão fundamentais.
“Temos um desafio político. As pessoas olham muito a eleição do presidente, mas a eleição do Congresso é tão ou mais importante. Saber qual o Congresso irá acompanhar o presidente é fundamental”.
Para 2023, Paiva destaca ainda que será importante reorganizar a economia. “Vamos ter um enorme desequilíbrio fiscal, por conta das medidas adotadas recentemente pelo governo. Além disso, temos uma inflação alta. Provavelmente, em 2023, a economia não crescerá. Por isso, será necessário definir estratégias para que, em 2024, o crescimento seja retomado”.
Neste período de reorganização, muitas serão as agendas e o importante, segundo Paiva, será priorizar as medidas e projetos que tenham impacto rápido sobre o crescimento e que tenham menor custo, como projetos de infraestrutura, por exemplo. A inovação também será fundamental.
“Não adianta propor reformar o Estado. Está certo que é uma questão fundamental, mas não terá o efeito rápido e imediato que é necessário e com um custo altíssimo para aprovar uma reforma muito grande. Será importante iniciar por aquilo que o custo seja menor e o benefício seja maior, do ponto de vista relativo”, disse Paiva.
‘Imersão Indústria’ é um projeto orientativo
No longo prazo, entre os desafios estão o aumento da produtividade, o equilíbrio fiscal, desenvolvimento sustentável e inclusivo e o esforço conjunto entre setores privado e público.
Também há uma grande necessidade de se restabelecer o diálogo e a confiança com a sociedade. O presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, explicou que o projeto Imersão Indústria é importante para orientar sobre o processo eleitoral e estimular a maior participação dos empresários e da sociedade no processo, seja como candidato ou escolhendo de forma consciente os representantes políticos.
“Infelizmente, vimos nos últimos anos uma demonização da política, o que é um equívoco. Nós, da Fiemg, queremos resgatar isso. As pessoas precisam participar de maneira ativa da política do nosso País. Com o projeto, quero engajar todos, vamos participar ativamente da vida política do País. Sendo apoiando pessoas nas quais acreditamos e que podem fazer a diferença, ou seja participando do processo de maneira ativa e efetiva”, explicou.
O deputado estadual Antônio Carlos Arantes, durante o evento, ressaltou que a participação dos representantes do setor produtivo na política mineira ainda é pequena e que seria importante uma aproximação e participação maior das federações com a classe política.
“As entidades renegaram a política, são poucos os que representam o setor produtivo na política. Mas, com esta iniciativa (projeto Imersão Indústria), o setor está quebrando paradigmas, mostrando a importância de participar. Este é o caminho. A sociedade é que faz o País se transformar e precisa acordar”.
A secretária de Desenvolvimento Social de Minas, Elizabeth Jucá, explica que para o avanço sustentável da economia serão necessárias políticas que também sejam mais inclusivas e que promovam a inovação.
“Estamos aqui para construir. O espaço de debate promovido pela Fiemg é exemplo, com o setor público junto com o privado construindo um País mais inclusivo, mais inovador e voltado para o nosso desenvolvimento econômico”.
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