Pedro Leopoldo perde planta da Heineken
A Heineken desistiu de implantar uma fábrica em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O projeto, que previa investimentos de R$ 1,8 bilhão, vinha enfrentando, desde setembro, embargo e questionamentos judiciais de várias entidades, já que o terreno que abrigaria a unidade fica próximo às cavidades da Lapa Vermelha, área onde foi encontrado o fóssil humano mais antigo das Américas. Com a decisão, a Heineken retoma os estudos para a escolha de um novo espaço e garante que o investimento será mantido em Minas Gerais. O anúncio do local da nova planta será feito no início de 2022.
O diretor de Assuntos Corporativos do Grupo Heineken, Mauro Homem, explicou que o grupo vem em processo de crescimento no Brasil, o que torna necessária a construção de uma nova unidade. Devido ao posicionamento, oferta de água e logística facilitada, Minas Gerais foi escolhido para sediar a nova indústria.
Apesar de ter obtido as licenças necessárias e estar legalmente liberada para a implantação do empreendimento cervejeiro em Pedro Leopoldo, os diferentes entendimentos de órgãos envolvidos e da sociedade em geral, relacionados à proximidade do atual terreno com uma importante área de preservação ambiental e arqueológica da região, fizeram com que a empresa repensasse a decisão.
“Pensando em como a Heineken se pauta na sua decisão sempre com valor, respeito e cuidados muito fortes, pra gente não faria sentido manter um projeto tão importante como este sem que o entendimento do entorno fosse de que aquilo geraria prosperidade para todos e não somente para a Heineken. Então, decidimos mudar a localização da nossa futura cervejaria no Estado de Minas Gerais. A gente sai daquele ponto específico de Pedro Leopoldo, mas mantém o compromisso de investimento de uma nova planta ainda em Minas Gerais”.
Homem ressaltou que a empresa revisará os estudos realizados anteriormente para a escolha do município e que abre oportunidade para novas localizações dentro de Minas. A indústria pode ser instalada em qualquer região do Estado, desde que tenha os recursos necessários para a implantação da fábrica.
“Ainda não temos localização definida. Estamos estudando junto ao Estado potenciais localizações que possam receber nosso empreendimento. Nossa expectativa é anunciar a decisão no início de 2022”, afirmou Mauro Homem.
Com a suspensão das obras e demanda pelos produtos crescente, o grupo vai investir na expansão da unidade de Ponta Grossa (Paraná), que será ampliada e terá capacidade de atender a demanda do mercado até 2023, quando a unidade de Pedro Leopoldo entraria em operação. A Heineken não informou o valor a ser investido, nem a capacidade da fábrica.
“Com o investimento em Ponta Grossa teremos suprimento de capacidade para 2023. Já para 2024, a gente certamente precisará de capacidade adicional e, por isso, precisamos, no começo de 2022, ter uma posição do local onde será instalada a nova fabrica”, explicou.
O novo projeto da cervejaria deve sofrer ajustes no valor de investimento, mas a ordem de grandeza deve ser próxima ao que foi anunciado para a unidade que seria construída em Pedro Leopoldo.
Termo de cooperação
Mesmo desistindo do projeto em Pedro Leopoldo, devido ao bom relacionamento, a Heineken vai assinar um termo de cooperação com o Ministério Público, no valor de R$ 300 mil, para ajudar a financiar ações de preservação para a cidade.
A instalação da indústria em Pedro Leopoldo foi anunciada no final de 2020, com aportes girando em torno de R$ 1,8 bilhão. A fábrica teria capacidade de produção de 760 milhões de litros por ano e seria a maior planta da Heineken no Brasil, com capacidade para atender toda a região Sudeste e focada no segmento premium. A unidade seria a 16ª produtiva da marca no País. A cervejaria também conta com 29 centros de distribuição (CDs) no Brasil, dois em Minas Gerais: um em Poços de Caldas e outro em Contagem.
Empresariado lamenta a decisão
Por Marcelo Queiroz
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Pedro Leopoldo, Hermane Estevam, lamentou a decisão da cervejaria Heineken de não construir mais uma fábrica na cidade. Os comerciantes acreditam que seriam gerados cerca de 400 a 500 empregos diretos no município.
“É um temor muito grande, acho que a gente pode trabalhar atividade econômica com atividade ambiental. Temos o aeroporto aqui perto, ia facilitar a logística e em torno de uma fábrica dessas viriam outras, agregando valor para Pedro Leopoldo”, reclama.
O empresário disse que vinham sendo realizadas conversas entre o Governo do Estado, Prefeitura e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mas as negociações não evoluíram. De acordo com Hermane Estevam, o desfecho da história é motivo de tristeza para o comércio local. ‘’Fica chato, gerou uma polêmica danada, todo mundo estava envolvido, querendo a empresa, fizeram até manifestação. A região é rica, mas o desemprego está só aumentando e a gente perde uma fábrica dessas’’, afirmou.
Nenhum representante da Prefeitura de Pedro Leopoldo foi encontrado para comentar o assunto.
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