Chuva onera transporte de cargas em MG

Calor e chuva para o Estado no primeiro mês de 2023, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O período chuvoso preocupa o setor produtivo, em especial o de cargas. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Lobato, as precipitações típicas desta época do ano são preocupantes e agravam a situação das rodovias de Minas Gerais, cujo estado de conservação deixa a desejar. “Minas tem é caminho, não é estrada”, critica o dirigente.
Para se ter uma ideia da situação, o custo operacional em Minas é aproximadamente 25% superior ao de São Paulo, ou seja, afetando a competitividade do Estado.
O presidente do sindicato aponta a região do Vale do Aço como crítica no que se refere aos acessos rodoviários. “São vários pontos de alerta e atenção”, reclama. Problemas que não são exclusivos dessa região do Estado. O dirigente afirma que nas regiões do Triângulo e Sul de Minas a situação das rodovias é melhor, entretanto, ainda não estão na situação adequada.
Lobato diz que as chuvas causam diversos impactos na atividade, com aumento nos custos, como gastos constantes com troca de pneus e peças, além de combustíveis em razão dos desvios e reflexos no aumento dos custos das viagens. O presidente da entidade diz que é complicado falar em percentuais, já que há diversas variáveis a serem consideradas, como rota e tipo de produto transportado. “ O fato é que o quilômetro rodado em Minas Gerais é caro por causa da situação das rodovias que pioram com as chuvas”, analisa.
Ele estima que o custo operacional das empresas que atuam em São Paulo, que tem rodovias numa situação melhor na comparação com Minas, é em média, 25% menor, considerando a mesma distância e produto transportado.
Lobato afirma que os impactos das chuvas no segmento ultrapassam o período das chuvas. “Mesmo que o frete não fique mais caro de imediato, uma hora o repasse vai ter que acontecer, pois os custos aumentam”, observa.
Entrega
O diretor de operações da Patrus Transportes, Sílvio César, diz que não há impactos do período chuvoso no frete, o que acontece na empresa, bem como nas demais do segmento, é o reflexo no prazo de entrega, podendo ter menos entregas por dia.
Ele conta que a empresa não tem tido prejuízos com as chuvas, que acontecem todos os anos. “Fazemos a manutenção constante dos equipamentos, principalmente, as quase 800 carretas que temos”, ressalta.
Também são adotadas várias práticas, como o checklist, de entradas e saída nas filiais, além da adoção de lona nos 3 metros finais da carreta, mais próximos da porta, para aumentar a proteção dos produtos transportados.
O executivo diz que Minas Gerais tem recebido investimentos na área viária, que ainda é carente e possui uma grande quantidade de estradas vicinais. Para ele, as rodovias próximas a Montes Claros e Teófilo Otoni são as mais preocupantes em razão das deterioração por causa das chuvas e da falta de manutenção.
Assim como o presidente do Setcemg, Silvio César, aponta São Paulo como modelo de malha viária, com destaque para as grandes rodovias como Bandeirantes, Imigrantes, Anchieta, Anhanguera, além do Rodoanel e a Via Dutra. Qualidade, conforme ele, fruto das privatizações.
O diretor de Operações da Tora, Charles Dias da Cunha, destaca a Fernão Dias como rodovia relativamente adequada para o tráfego, embora ainda precise de melhorias. “Falta pouco”, observa. Para ele, as rodovias no estado de São Paulo como a Imigrantes, Bandeirantes e Castelo Branco são adequadas, tanto do ponto de vista de pavimentação como escoamento de água, contenção de encostas e estrutura de socorro. Só que todas essas vantagens, conforme Cunha, são pagas com pedágios altos.
Ele afirma que o período chuvoso é extremamente preocupante para a atividade.
“Do ponto de vista da segurança e cuidado com nossos motoristas e terceiros, as estradas ficam muito escorregadias, temos grandes riscos de deslizamentos de encostas, inundações e acidentes. Olhando para aspectos econômicos, o índice de quebras de veículos nas estradas tem alta, há aumento de consumo de combustível e desgastes de peças”, observa.
Diante do cenário, a empresa busca adotar ações preventivas, com treinamentos de direção periódicos. “Nesse aspecto, temos sido bem-sucedidos, pois nossos índices de acidentes são baixíssimos, e se considerarmos acidentes graves, é zero. Vale ressaltar também que, por trabalharmos com frotas muito novas, nossos problemas com quebras nas estradas são inexistentes”, frisa.
Com relação ao preço do frete, o executivo explica que o valor vai depender do que foi estabelecido nos contratos. Por isso, não é garantido que os fretes obrigatoriamente subirão. “Porém, tudo está atrelado aos estragos causados, tempo que perdurará possíveis bloqueios, desvios de rotas, pois, em última análise, mesmo que num determinado contrato não se tenha compensação de fretes por perdas, fatalmente pela queda de produtividade a oferta de equipamento é menor. Com isso, aumenta a necessidade de buscar mais veículos, e até por um conceito econômico os fretes acabam subindo”, analisa.
E isso não significa melhoria de resultados para as transportadoras, já que os custos envolvidos aumentam desproporcionalmente aos fretes, fazendo com que não haja uma equalização positiva. “Em suma, as transportadoras têm redução de seus resultados e os consumidores possivelmente pagarão mais pelos produtos adquiridos”, diz.
Campanha
O presidente do Setcemg ressaltou que a entidade junto com órgãos de segurança e transporte de Minas Gerais lançou no fim de novembro de 2022 a campanha “Ir e Vir Seguro”. O objetivo é a disseminação de boas práticas preventivas de direção e cuidados indispensáveis para a redução dos impactos com possíveis sinistros agravados no período chuvoso. A iniciativa conta com uma ferramenta que disponibiliza um mapa com diversas informações sobre a situação das estradas em Minas Gerais.
Na época das chuvas, os acidentes de trânsito aumentam 25% na comparação com o período de estiagem.
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