Petrobras perde R$ 74 bilhões em valor de mercado

São Paulo – O Ibovespa fechou em forte queda ontem, com Petrobras perdendo R$ 74 bilhões em valor de mercado e investidores enxergando aumento relevante de risco de interferência do governo em estatais. Banco do Brasil desabou 11,65%.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 4,87%, a 112.667,70 pontos, menor patamar de fechamento desde 3 de dezembro de 2020. Foi também a maior queda percentual diária desde 24 de abril do ano passado.
Influenciado pelo vencimento de opções sobre ações, units e cotas de ETFs na B3 nesta sessão, o volume financeiro atingiu R$ 84,5 bilhões, superando o recorde de dezembro do ano passado, quando registrou R$ 81,5 bilhões, em sessão marcada pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa.
Após indicar na última sexta-feira (19) o general Joaquim Silva e Luna para assumir o comando da Petrobras após o encerramento do mandato de Roberto Castello Branco, o presidente Jair Bolsonaro prometeu no fim de semana mais mudanças e afirmou que irá “meter o dedo na energia elétrica”.
Ontem, Bolsonaro afirmou a apoiadores que é possível reduzir em 10% o preço dos combustíveis intervindo na bitributação e em mudanças no ICMS.
O entendimento no mercado é o de que as declarações de Bolsonaro elevam de forma expressiva o risco político e se somam a incertezas já relevantes nas áreas da saúde e fiscal, bem como no cenário prospectivo para a agenda de reformas. Para alguns, o problema não é uma mudança na Petrobras, mas como aconteceu.
Além do efeito de curtíssimo prazo, executivos de bancos de investimento e gestores temem que a forte reversão das políticas favoráveis ao mercado do Brasil por Bolsonaro possa impactar o recente renascimento das ofertas de ações por empresas no País.
“Há uma aumento de aversão a risco relacionado a Brasil com as dúvidas sobre o que podem ser essas medidas do Bolsonaro…”, disse o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos. “Fica um pouco em suspenso o cenário (de IPOs) até todo mundo entender exatamente o que está acontecendo.”
Destaques – Petrobras PN caiu 21,51%, a R$ 21,45, voltando para níveis de novembro do ano passado, assim como Petrobras ON, que recuou 20,48%, a R$ 21,55. Foi o pior desempenho percentual diário das ações desde março de 2020.
Uma bateria de analistas cortaram a recomendação e os preços-alvo dos papéis da companhia, citando aumento de incertezas com a maior interferência do governo na petrolífera de controle estatal.
Para o Credit Suisse, as principais dúvidas agora se referem à continuidade da política de preços da Petrobras atrelada à paridade internacional; e a mudanças no plano de negócios.
Banco do Brasil ON recuou 11,65%, a R$ 28,83, mínima desde maio do ano passado. Foi também a maior queda percentual diária desde abril, equivalente a uma perda de valor de mercado de R$ 10,9 bilhões.
O BB também sofreu com o aumento da percepção de risco de interferência política em entidades estatais após decisões ligadas à Petrobras, com o BB já sob os holofotes após ruídos com Bolsonaro por causa da reestruturação do banco.
O Itaú BBA reiterou visão cautelosa para as ações, enquanto o Credit Suisse cortou a recomendação para ‘neutra’ e reduziu o preço-alvo para R$ 38. Entre os bancos, Bradesco PN caiu 6,56% e Itaú Unibanco PN cedeu 7,28%.
BR Distribuidora ON caiu 7,22% e Ultrapar ON fechou com declínio de 7,83%, também afetadas pela verborragia de Brasília relacionada aos combustíveis. Mais cedo, ontem, Bolsonaro afirmou a apoiadores que é possível reduzir em 10% o preço dos combustíveis intervindo na bitributação e em mudanças no ICMS. Cosan ON recuou 6,61%. (Reuters)
Mudança não terá impacto imediato no crédito
São Paulo – A indicação do presidente Jair Bolsonaro para a troca de Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras não possui impacto de crédito imediato na empresa, disse ontem a agência de classificação de riscos S&P.
A agência afirmou que, embora o cenário-base considerado para a petroleira estatal seja de manutenção da política de preços de paridade de importação dos combustíveis, os ratings atribuídos à Petrobras – atualmente BB, com perspectiva estável – já embutiam riscos de potencial influência do governo.
Influenciada por fatores como o preço do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar, a política de paridade foi estabelecida em 2016, no governo do ex-presidente Michel Temer.
Segundo a agência, a mudança na política de preços poderia prejudicar a rentabilidade e o fluxo de caixa da estatal.
Para a S&P, porém, o perfil de crédito individual da Petrobras reflete uma visão sólida da escala da empresa e de seu negócio de exploração e produção, em conjunto com medidas de redução de custos e desinvestimentos de ativos não estratégicos.
A agência também vê uma liquidez forte na petroleira e projeta uma redução no indicador dívida sobre Ebitda para patamar entre 3 vezes e 3,5 vezes em 2021, ante cerca de 4 vezes em 2020.
“Mesmo se houver uma mudança na direção e na estratégia de preços da Petrobras, nossos ratings da empresa continuariam a refletir o rating soberano, uma vez que o governo federal detém seu controle”, acrescentou a S&P em comunicado. (Reuters)
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