PIB de Minas Gerais cresce 1,2% no 2º trimestre de 2025, puxado pela agropecuária

A economia mineira voltou a registrar desempenho positivo entre abril e junho de 2025. Segundo dados divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP), o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais alcançou R$ 305,4 bilhões no segundo trimestre, com crescimento de 1,2% em relação aos três primeiros meses do ano.
É o sexto trimestre consecutivo de alta do PIB estadual, consolidando um ritmo de recuperação que, no entanto, já mostra sinais de moderação. Na comparação com o mesmo período de 2024, o crescimento real foi de 2,5%.
“Nesse trimestre, o que puxou mesmo foi a agropecuária. A gente teve um crescimento expressivo, de 8,3%, comparado com o trimestre anterior. Isso foi determinante”, destaca o pesquisador da FJP Thiago Almeida.
Soja, milho e algodão garantem resultado positivo no agro
De acordo com a FJP, o setor agropecuário foi o principal motor da economia mineira no trimestre. Culturas como soja, milho e algodão apresentaram bom desempenho, ao lado da recuperação da produção de leite, suínos e aves.
“A gente teve uma dissipação do efeito negativo de culturas que vinham com desempenho mais fraco, como a primeira safra da batata-inglesa. No segundo trimestre, a produção de soja teve um peso importante”, explica Almeida, destacando que também houve um resultado favorável na parte de produção florestal, com aumento na utilização de madeira para papel e celulose.
Mineração e energia também foram destaques
A indústria extrativa teve crescimento de 2,9%, puxada por grandes mineradoras que atuam no Estado. Segundo os dados, o resultado é explicado pela expansão das operações das empresas Mineração Usiminas, CSN Mineração e Anglo American no período.
O setor de utilidades públicas, como geração e distribuição de eletricidade, gás, água e saneamento, cresceu 2,6%. Segundo Thiago Almeida, mesmo com redução no consumo, a produção aumentou.
“Apesar de termos uma queda na distribuição, no consumo de eletricidade, a gente registrou um aumento na geração de eletricidade nas diferentes fontes: solar, termoelétrica e hidrelétrica”.
Já a indústria de transformação registrou retração de 0,4%, com queda na produção de alimentos, produtos químicos, derivados de petróleo e metalurgia. A construção civil, por sua vez, teve leve alta de 0,3%.
“O setor de construção civil foi destaque no ano passado. No primeiro trimestre deste ano foi bem fraco, mas tivemos uma ligeira recuperação nesse segundo trimestre. Esse é um setor que depende muito da taxa de juros”, avalia.
Setor de serviços cresce pouco e mostra sinais de desaceleração
O setor de serviços, o maior da economia estadual, teve crescimento de 0,3% no trimestre, com acréscimo do volume de valor adicionado no comércio (0,9%), nos transportes (0,3%) e no agregado de outros serviços (0,6%).
O comércio foi o destaque positivo, com avanço de 0,9%, puxado por hipermercados e farmácias. Por outro lado, segmentos como vestuário, veículos, turismo e comunicação tiveram desempenho negativo.

“O comércio mineiro mostrou uma resiliência maior do que a média nacional, mas já vemos sinais de desaceleração, principalmente nos outros serviços”, analisa Almeida. “Esse comportamento tem muito a ver com o alto endividamento das famílias e os juros elevados”, pontua o pesquisador.
Para Almedia, a redução na taxa de desocupação no segundo trimestre pode ser um fator atenuante ao cenário de desaceleração. “O setor vem ainda, vamos dizer assim, operando no positivo, mas já com um cenário de desaceleração”, explica o economista.
PIB de Minas tem participação de 9,6% na economia nacional
A composição do PIB mineiro no segundo trimestre de 2025 foi a seguinte:
- Agropecuária: R$ 47,7 bilhões
- Indústria: R$ 66,9 bilhões
- Serviços: R$ 157,6 bilhões
Com esse resultado, Minas Gerais manteve 9,6% de participação na economia brasileira, consolidando sua posição como um dos principais estados do país em geração de riqueza. Os dados mostram um crescimento de 0,5% na participação mineira no PIB nacional, que foi de 9,1% no primeiro trimestre de 2025.
Perspectiva para próximos trimestres é de cautela
Apesar do bom desempenho, a FJP projeta cautela para o segundo semestre de 2025, com possibilidade de desaceleração ou até mesmo de estabilidade nos próximos trimestres.
“A soja tem peso no primeiro semestre, mas agora, no terceiro trimestre, a gente entra no período da colheita do café, e esse ano é de bienalidade negativa. Ou seja, a produção de café tende a ser menor, o que pode impactar negativamente o resultado da agropecuária nos próximos meses”, ressalta.

Na construção civil, o cenário também é desafiador. “Com os juros ainda elevados, vemos uma tendência desfavorável para o segundo semestre. Já há queda no emprego formal em obras de infraestrutura em Minas”, alerta Almeida.
A indústria de transformação, que acumula dois trimestres seguidos de queda, é outra fonte de preocupação. “Esse setor é muito integrado a outros setores e à economia global. A desaceleração da China e o tarifaço dos Estados Unidos podem afetar bastante”, diz o especialista.
Efeitos do tarifaço e cenário externo preocupam
Os impactos das novas tarifas impostas pelos EUA a produtos brasileiros ainda não apareceram nos dados do segundo trimestre, mas devem começar a ser sentidos nos próximos meses.
“Já temos notícias de impacto na pauta agrícola, como o café, carnes e frutas. Isso pode limitar o desempenho da agropecuária e das exportações mineiras no segundo semestre”, observa.
A desaceleração da economia chinesa, principal compradora do minério de ferro brasileiro, também gera incertezas. “A gente já vê uma redução no volume exportado e nos preços do minério. Se isso se intensificar, pode afetar a indústria extrativa em Minas”.
Mesmo com incertezas, Minas deve fechar ano com crescimento
A Fundação João Pinheiro projeta que, mesmo num cenário de estagnação nos dois próximos trimestres, Minas Gerais deve encerrar 2025 com crescimento acima de 2%.
“A gente faz simulações com base na série histórica. Mesmo sem crescimento no segundo semestre, Minas fecharia o ano com alta de 2,1%. O segundo trimestre foi muito forte. Isso já garante uma base sólida para que o ano tenha saldo positivo, mesmo com um segundo semestre mais desafiador”, conclui Almeida.
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