Com registro de R$ 275,3 bilhões, PIB de Minas Gerais cresce 1,4% no primeiro trimestre de 2025
Durante o primeiro trimestre de 2025, Minas Gerais registrou um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 275,3 bilhões, alta de 1,4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Frente ao trimestre anterior, permaneceu praticamente estável ao registar variação negativa de 0,1%. O desempenho representa uma participação de 9,1% no PIB nacional no primeiro trimestre de 2025, acima dos 8,8% registrados no mesmo trimestre do ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (17) pela Fundação João Pinheiro (FJP).
O secretário executivo de Desenvolvimento Econômico, Bruno Araújo, destaca o aumento em 0,3 ponto percentual na participação de Minas no PIB do País. “É um número que todos nós mineiros temos que comemorar e que vai colaborar para a gente chegar na principal meta, que é atingir um milhão de empregos gerados desde 2019. Estamos muito próximos de atingir essa marca”, afirma.
Segundo Araújo, são diversos os motivos do crescimento. Ele ressalta o empenho do governo na atração de investimentos. “Estamos chegando a R$ 495 bilhões atraídos aqui para Minas Gerais desde 2019”, comenta.
O crescimento mineiro, entretanto, ficou abaixo da média nacional, que foi de 2,9%. De acordo o especialista em políticas públicas e gestão governamental da FJP, Thiago Almeida, a alta do PIB de Minas Gerais no primeiro trimestre é resultado do bom desempenho das indústrias extrativas e dos serviços, enquanto a agropecuária, as indústrias de transformação, os serviços industriais de utilidade pública e a construção recuaram.
No segmento industrial, a produção extrativa refletiu a recuperação na extração de minério de ferro, que recuperou no primeiro trimestre de 2025 parte dos cortes que ocorreram na produção ao final do ano passado, crescendo 6,2%, em relação ao trimestre anterior. Porém, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, houve retração de 3,5%.
A agricultura de Minas Gerais, marcada pela concentração de poucas culturas como café, soja e cana-de-açúcar, registrou contração de 8% na comparação com o trimestre anterior e de 5,6% em relação ao primeiro trimestre de 2024. Esses resultados foram muito influenciados por dois fatos: a produção menor de banana e tomate e o recuo da primeira safra de feijão e de batata-inglesa.
Segundo Almeida, a concorrência com o aço chinês e o tarifaço de Donald Trump afetaram o setor de metalurgia, contribuindo para a queda do desempenho. “Como a metalurgia possui um peso forte no Estado, ela interfere diretamente nos resultados e também na menor demanda de carvão vegetal, reduzindo o desempenho do agronegócio no Estado”, afirma.
Para o economista-chefe da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), João Pio, o agronegócio foi a maior surpresa negativa, considerando o resultado “muito aquém das estimativas”. Ele atribui o resultado ruim às condições climáticas adversas, ao recuo do crédito rural e aos reajustes de custos que pressionaram o setor.
Ainda conforme os dados da FJP, as indústrias de transformação também retraíram (-1,3%) no trimestre devido à menor produção física dos derivados de petróleo e de biocombustíveis, de produtos de minerais não-metálicos, da metalurgia, de máquinas e equipamentos e de veículos automotores.
A construção civil também não teve um desempenho positivo. Conforme o estudo da FJP, ela refletiu a restrição financeira imposta pelos juros elevados da economia brasileira, e reduziu o volume de produção em Minas Gerais no primeiro trimestre de 2025. A retração foi de 2,1% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
Serviços lideram crescimento
O setor de serviços foi destaque no resultado do PIB de Minas, apresentando o maior crescimento no período analisado. De acordo com os dados, o setor cresceu 2,1% em relação ao mesmo período de 2024 e 1% quando comparado ao trimestre anterior.
Na avaliação do economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Izak Carlos da Silva, o resultado demonstra que o setor de serviços, puxado pelo mercado de trabalho aquecido e pelo aumento do rendimento médio real no Estado, “segue sustentando o crescimento econômico”.
O comércio continuou com expansão no volume de vendas do segmento varejista de hipermercados, assim como nos segmentos de veículos automotores e de materiais de construção – nestes dois últimos casos, em contradição com os primeiros sinais de corte na produção, pelo lado da oferta. O setor registrou alta de 0,7% em relação ao último trimestre de 2024 e 2,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
“A melhora da economia Argentina fez aumentar as exportações de veículos automotores para o país vizinho, contribuindo com os resultados”, comenta Thiago Almeida.
Já as atividades de transportes tiveram crescimento de 0,9% no trimestre, com destaque para o transporte ferroviário, conforme ressalta o especialista da FJP. “Ele anda junto com o desempenho da extração mineral, é importante para o escoamento da produção. Como tivemos a recuperação da indústria extrativa, o serviço de transporte acompanhou”.
Os outros serviços apresentaram aumento de 1,1% na produção estadual. “São diversas atividades agregadas como serviços financeiros, domésticos, de comunicação, entre outros que contribuíram para a alta do PIB mineiro”, afirma Almeida.
Projeções da Fiemg se concretizam e estabilidade do desempenho não é certa
Os resultados do PIB em Minas Gerais ficaram dentro das expectativa da Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg). De acordo com o economista-chefe da entidade, João Pio, a Federação já vinha projetando uma desaceleração da economia para 2025 e o resultado do primeiro trimestre confirmou esta tendência ao registrar um crescimento abaixo da média nacional.
Pio afirma que o PIB estadual ficou praticamente estável ante ao último trimestre de 2024 e reforça que a manutenção da estabilidade econômica em Minas Gerais daqui para frente dependerá de uma série de fatores que vão além do controle estadual. Por isso, acredita que a economia de Minas Gerais deve manter uma trajetória de crescimento moderado, refletindo os efeitos do cenário atual.
“No campo da política monetária, a manutenção de juros elevados, combinada a uma inflação persistente e acima da meta, encarece o crédito e inibe tanto o consumo quanto os investimentos produtivos. Do lado fiscal, medidas que aumentem o custo de produção, como elevação de tributos ou encargos, tendem a impactar ainda mais setores que já operam com margens reduzidas”, diz.
No cenário internacional, Pio destaca o avanço do protecionismo em grandes economias que pode afetar diretamente segmentos estratégicos de Minas Gerais, como a metalurgia e a mineração. “Além disso, estamos assistindo o aumento das tensões geopolíticas e a ocorrência de conflitos armados que ampliam a volatilidade dos fluxos comerciais e financeiros”, conclui.
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