Economia

Pix completa três anos com grande adesão dos brasileiros

Especialistas comentam trajetória, novidades e desafios futuros do sistema de pagamentos
Pix completa três anos com grande adesão dos brasileiros
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Lançado em 16 de novembro de 2020, o Pix completa três anos consolidado como o sistema de pagamentos mais utilizado no Brasil. Ao todo são 155,8 milhões de usuários cadastrados, mais do que a população economicamente ativa no País, que representa, atualmente, 97 milhões de brasileiros. Outro número interessante diz respeito aos R$ 1,5 trilhão transacionados até setembro deste ano, de acordo com dados do Banco Central (BC). 

No mesmo mês em que chegou ao mercado, o Pix ultrapassou as transações feitas em DOC e já em janeiro de 2021 o sistema superou os pagamentos em TED. Em março desse mesmo ano, já havia se tornado mais usado que os boletos e, em maio, ultrapassou a soma de todos os meios de pagamentos existentes. Em 2022 superou as operações com cartões de débito, seguido pelos pagamentos em cartão de crédito e tornou-se o meio de pagamento mais utilizado do País. 

Segundo o BC, o crescimento do Pix em volume de transações foi de 220% em 2022, tendo sido responsável por 15% do total de movimentações que aconteceram em tempo real no mundo. E a expectativa é de que, até 2027, a média de transações mensais por pessoa triplique.

“A praticidade, baixo custo e disponibilidade 24 horas, sete dias por semana, fez com que o Pix se tornasse uma escolha conveniente para consumidores, pequenas e grandes empresas. Não demorou para ele ocupar o lugar do cartão de débito e de transferências como DOC e TED”, destaca o especialista em pagamentos e diretor da fintech Qesh, Cristiano Maschio.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Pix ajuda a movimentar a economia e fomenta a inclusão financeira

Estudo publicado em 2022 pela empresa americana de pagamentos ACI Worldwide mostrou que o Pix proporcionou uma economia de aproximadamente R$ 27 bilhões para empresas e consumidores nos últimos anos, o que ajudou a gerar uma produção econômica adicional de US$ 5,5 bilhões (R$ 26,9 bilhões), o equivalente a 0,34% do PIB brasileiro. Segundo o levantamento, essa economia pode chegar a R$ 38 bilhões até 2026. 

A modalidade de pagamento instantâneo é ainda ferramenta essencial para a diminuição do uso do papel-moeda e para milhares de brasileiros saírem da condição de desbancarização, promovendo a digitalização e inclusão financeira.

O Pix também foi responsável por colocar o Banco Central do Brasil nos holofotes mundiais, sendo referência como agente inovador, fomentador da concorrência e facilitador do diálogo entre as principais figuras do mercado: bancos e consumidores finais. 

Para a CRO e cofundadora do Bankly, Marilyn Hahn, o Pix cumpre o papel de trazer agilidade e facilidade para os meios de pagamento, reduzindo os custos do ecossistema. “Além de ser gratuito para pessoas físicas e empreendedores individuais, o Pix traz algo inédito: a padronização da experiência dos usuários nos aplicativos e nas plataformas das instituições financeiras, facilitando o uso, independentemente do banco”, explica. 

Mais um destaque do Pix ao longo dos anos foi a evolução para as empresas, com novos recursos para aprimorar a experiência das organizações, como o Pix Cobrança, que permite aos empreendedores venderem e receberem pela modalidade. No primeiro trimestre de 2022, foram contabilizados 4,3 bilhões de Pix no varejo e, no comércio eletrônico, o pagamento instantâneo já chega a 100% de aceitação, empatado com o cartão de crédito. 

Cristiano Maschio destaca a estrutura de custos potencialmente mais baixa em comparação com outros meios de pagamento como a característica mais atrativa para as empresas. “Em muitos casos, a operação via Pix apresenta custos menores do que taxas associadas às transações de cartão de débito e crédito, que chegam a 5%. Essa e outras adições refletem o comprometimento contínuo em atender às necessidades do setor empresarial, além de melhorar a experiência do cliente”, avalia.

Desafios e segurança

Apesar da forte adesão do Pix pelos brasileiros, o BC estima que cerca de 92% dos usuários ainda são pessoas físicas, ou seja, o engajamento ainda é baixo por parte do público PJ, principalmente no que diz respeito ao chamado empreendedor não individual – pequenas e médias empresas (PMEs) com mais de um sócio. “É necessário estudar alternativas que possam preencher possíveis gaps. O Pix QR Code, por exemplo, se integrado à plataforma de gestão, pode promover grande eficiência operacional em automações e inteligência de dados, fazendo com que seja mais fácil gerir o negócio no dia a dia”, afirma Marilyn Hahn.

Outro desafio significativo, principalmente para os bancos, é a cibersegurança. Segundo dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), as instituições investiram cerca de R$ 3,4 bilhões em mecanismos de segurança e prevenção a fraudes digitais em 2022. No mesmo período, o número de golpes aumentou em 165%, de acordo com uma investigação da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Além da segurança interna e de rede, os bancos têm tentado realizar também conscientização para evitar que os clientes caiam em golpes e fraudes. 

“O Pix é a ferramenta que mais cresce no Brasil e com isso medidas de segurança precisam ser aprimoradas. Este mês entraram em vigor novas mudanças no meio de pagamento para garantir mais proteção aos usuários, assim eles poderão continuar utilizando a tecnologia de maneira segura”, comenta o educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, Fernando Lamounier.

Acompanhando essa movimentação, recentemente, o Banco Central lançou o Mecanismo Especial de Devolução (MED) para facilitar o processo de reconhecimento de crimes e o eventual ressarcimento dos bancos aos clientes em casos de fraudes. Outros reforços de segurança já disponíveis aos usuários incluem notificação de infração e consulta de informações vinculadas às chaves Pix para fins de segurança.

“O compartilhamento de dados, por meio da resolução nº 343/23, incentiva os bancos a colaborarem na luta contra fraudes, fortalecendo a segurança do setor financeiro e protegendo consumidores. Agora, bancos podem agilizar o processo de reembolso para vítimas de fraudes, fornecendo evidências sólidas e acelerando a resolução de casos”, avalia Cristiano Maschio.

O consultor de cibersegurança da empresa de tecnologia keeggo, Jonathan Arend, reforça que, além das medidas de segurança orientadas pelo BC para mitigar ameaças em constante evolução, a proteção depende também de práticas individuais. “O Pix foi projetado com medidas como duplo fator de autenticação e criptografia. Mesmo assim, é importante ativar critérios de segurança que as próprias detentoras desses mecanismos – no caso, as instituições financeiras – oferecem, como autenticação em dois níveis de biometria, e buscar proteger contas o máximo possível para dificultar o roubo de dados em casos de ataques de phishing ou engenharia social, por exemplo”, explica.

Próximos passos do Banco Central para o Pix

banco central oriente médio dólar petróleo
Crédito: Reuters/Adriano Machado

A adoção maciça do Pix fez com que o Banco Central tenha novidades planejadas para o sistema que prometem acelerar ainda mais a digitalização financeira no País nos próximos anos. Entre elas estão o Pix Automático, que possibilitará automatizar pagamentos recorrentes, e o Pix Internacional, que permitirá transações além das fronteiras com menores custos e tempo de espera. Países como EUA, Argentina e Portugal já aceitam Pix para atender a demanda de turistas brasileiros.

O Pix como meio de pagamento instantâneo já veio acompanhado de um extenso roadmap de funcionalidades desenhado pelo próprio BC. Algumas delas já estão disponíveis, como as modalidades de Pix saque e Pix troco, que permite retirar o dinheiro em espécie no estabelecimento comercial onde o usuário se encontra; Pix agendado e até o Pix parcelado. 

Outra novidade anunciada em setembro deste ano é que, no futuro, o Pix poderá ser usado para pagamento de pedágios em rodovias, estacionamentos e transporte público. Funcionalidades como o Pix automático, que permite pagamentos recorrentes, devem estar disponíveis para os usuários a partir de outubro de 2024. Há ainda a possibilidade de utilizar a ferramenta para operações internacionais, como remessas, pagamentos entre empresas e de compras de bens e serviços no exterior. 

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas