Economia

Pneus chegam ao Brasil custando bem abaixo do mercado internacional, alerta setor

Associação que representa o setor vê risco de demissões e desindustrialização
Pneus chegam ao Brasil custando bem abaixo do mercado internacional, alerta setor
Crédito: Adobe Stock

Por conta da falta de barreiras tarifárias de proteção, o Brasil virou um dos principais destinos de pneus importados, principalmente da Ásia, que chegam ao País custando de 30% até 69% menos que o registrado no mercado internacional.

Segundo levantamento, os pneus de carga importados chegaram ao mercado nacional com custo médio de U$ 2,90 o quilo no ano passado, enquanto no mercado internacional o quilo do produto era comercializado por U$ 4,20, em média.

Os dados são do estudo realizado pela LCA Consultoria Econômica para a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) e confirmam, na visão da associação, que o Brasil se tornou alvo de concorrência desleal para distribuição de pneus importados.

O levantamento também verificou o custo do pneu de carga importado em alguns mercados de referência. Nos Estados Unidos, o maior mercado importador do mundo, o preço médio do quilo do pneu importado ficou na casa de US$ 4,40; no México, o valor praticado foi de U$ 4,50; e, na França, alcançou o patamar de U$ 5,30 o quilo.

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Quando se trata de pneus de passeio, a variação no preço também é significativa. Em 2023, o quilo do importado era comercializado internacionalmente a US$ 5,70 o quilo. No Brasil, o produto está chegando ao país por U$ 3,20. Nos EUA, o valor de ingresso de pneus importados de passeio estava balizado em U$ 5,80 e, na França, comercializado a US$ 6,50 o quilo.

Associação vê risco de demissões e desindustrialização do setor no País

Enquanto esse cenário de preços desleais no mercado local continuar, toda a cadeia de produção de pneus no Brasil será afetada negativamente, alerta o presidente executivo da Anip, Klaus Curt Müller, que já projeta riscos de demissões no segmento e também a desindustrialização do setor no País.

“Essa variação absurda mostra principalmente que os países asiáticos estão aproveitando a falta de proteção tarifária no Brasil para exportar para nós os pneus com preços desleais no mercado local, afetando negativamente toda a cadeia de produção brasileira”, criticou o presidente executivo da ANIP.

A entrada indiscriminada dos pneus importados, principalmente da Ásia, está afetando duramente a indústria instalada e o mercado brasileiro, disse Müller. Em 2023, o aumento da importação de pneus de passeio foi de 104%, quando comparado com 2021. No segmento de carga, o aumento foi de 84% no mesmo período de comparação.

“Essa concorrência desleal está ameaçando empregos, colocando investimentos futuros em risco e trazendo desorganização da cadeia produtiva, afetando também os produtores de borracha, de têxteis, de produtos químicos e de aço, insumos usados largamente na produção dos pneus”, enumerou o presidente da Anip.

Barreiras tarifárias para o mercado de pneus

Para restabelecer o equilíbrio do mercado e garantir condições isonômicas, a Anip entrou, em outubro de 2023, com pedido de elevação transitória da Tarifa Externa Comum (TEC) para pneus de passeio e de carga de 16% para 35%, pelo prazo de 24 meses junto à Secretaria Executiva da Câmara de Comércio exterior (Camex).

“A medida é necessária para evitar demissões e desestruturação da cadeia de produção de pneus no Brasil que, no final das contas, pode resultar em desindustrialização. É absolutamente impossível competir com produtos que chegam ao País muitas vezes com valor inferior ao custo da matéria-prima”, afirmou Müller.

Observando os pneus importados de países asiáticos, segundo dados da Receita Federal do Brasil (RFB), 100% das importações ingressam no país com preços abaixo do custo de produção nacional e 50% chegam ao mercado doméstico a valores inferiores ao custo da matéria-prima, segundo informações da Anip.

Estados Unidos, México e países da Europa, entre os anos de 2021 e 2023, ao contrário do que ocorreu no Brasil, levantaram barreiras tarifárias para defender as indústrias e os empregos de seus mercados locais.

No caso dos EUA, em 2022 foi concluído o processo para o estabelecimento de medidas compensatórias contra as importações chinesas, estabelecendo taxas entre 25% e 125%. Em abril de 2020, o país já havia renovado o antidumping contra as importações chinesas, estabelecendo uma taxa de 76,5%. Após as medidas, as importações nos EUA de pneus de carga e de passeio que chegavam da China encolheram 30,5% frente ao verificado em 2022.

Brasil possui 11 fabricantes de pneus em sete estados

O Brasil conta hoje com 11 fabricantes de pneus em operação no País. São 21 plantas industriais, distribuídas por 7 estados. Este conjunto de empresas foi responsável pela venda de 52 milhões de pneus no mercado local em 2023.

As fabricantes instaladas no país investiram, nos últimos dez anos, cerca de R$ 11 bilhões em suas unidades fabris para excelência de processos, aumento da capacidade de produção, tecnologia, inovação e sustentabilidade.

Os fabricantes de pneus instalados no Brasil empregam 32 mil trabalhadores no país e geram 500 mil postos indiretos de trabalho no mercado local.

“Os empregos do setor estão em risco no País. Hoje temos 2.500 trabalhadores parados, aguardando para voltarem aos seus postos de trabalho e o temor é que isso possa não acontecer se esse cenário persistir”, considerou Müller.

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