Política fiscal será ajustada nos próximos meses, diz gestor do Itaú

O governo federal deverá ajustar a política fiscal de forma a estar mais condizente com o que foi definido pelo novo arcabouço fiscal no próximo ano, afirmou o gestor líder da família de fundos Itaú Janeiro e ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, durante o evento MacroVision 2024, promovido pelo Itaú BBA.
Ele aponta que, após a economia passar por um período de grande impulso fiscal do governo federal, tanto na virada de 2022 para 2023, quanto na virada do último ano para o atual, com o pagamento dos precatórios atrasados no governo Bolsonaro, agora esse estímulo começa a perder força.
A situação das contas públicas deverá se enquadrar às metas do arcabouço fiscal para o orçamento de 2025. “Pelo menos o número cheio começa a ficar mais condizente com um crescimento perto dos dois e meio real que o arcabouço define para frente”, disse Serra.
Ele ressalta que, no atual governo Lula III, não aconteceu o ciclo eleitoral que geralmente ocorre com governos recém-eleitos em boa parte do mundo e, principalmente, na América Latina: uma restrição na política fiscal nos primeiros anos do mandato, para uma expansão depois, na segunda metade do período, mais próximo das eleições.
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Bruno Serra acredita que isso será feito agora, principalmente nos próximos meses, com o previsto ciclo de alta da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central (BC).
“A gente acha que os próximos seis, nove meses, será um período que o governo vai arrumar a casa até para poder chegar no final de 2025, 2026, mais organizado. E aí acho que vai ter efeito esse ciclo de juros, juntamente com fiscal desacelerando a margem, então a gente acha que vai acabar funcionando”, disse.
Bruno Serra considerou que a política monetária do BC, na presidência de Gabriel Galípolo, está bem encaminhada para colocar a inflação na meta, com o novo grupo de indicados pelo governo Lula votando em linha e com discursos bem alinhados para ajustes necessários.
“A gente escutou hoje o futuro presidente do Banco Central com discurso super alinhado, super correto, que a gente escutou de todos os presidentes do Banco Central que passaram e que fizeram o melhor trabalho no BC. A gente torce para que seja assim”, pontuou.
Já o sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, é menos otimista e elencou a situação fiscal do País como o “vilão” para a situação atual, que considerou “estranha”: crescimento econômico, com taxa de desemprego na mínima histórica, em um cenário de juros elevados.
Sistema parafiscal
Xavier aponta que o governo federal criou um “sistema parafiscal” que impulsiona a economia por meio de fundos, mas que esses gastos não estão incluídos no resultado primário das contas públicas, como o Pé de Meia, programa de incentivo financeiro a alunos do ensino médio público.
“A verdade é que a gente tem tido várias contas que não estão passando pelo resultado primário e que estão afetando a economia positivamente. Por exemplo, a gente tem vários fundos que estão sendo criados e usados pelo governo para estimular e burlar o resultado fiscal”, criticou Xavier.
Ele aponta que este “sistema parafiscal” movimenta cerca de R$ 100 bilhões e tem feito a economia crescer acima das expectativas. “Pelo discurso e pela ação, eu não vejo hoje nenhuma vontade política de se atacar o gasto público. Então a taxa de juros, em tese, teria que ser a que for necessário para botar a inflação na meta”, afirma.
“Como o governo continua gastando – no fiscal e no parafiscal – muito, a probabilidade da gente ter sucesso em trazer, com todo esforço, toda vontade que o Banco Central tem de colocar na meta, acho difícil que a gente consiga”, completa o gestor. (Leia mais na página 14)
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