População mineira está ficando mais velha e acende alerta na economia

A população de idosos de Minas Gerais, assim como a do Brasil, vem crescendo nos últimos anos. É o que apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nessa sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2022, a parcela de pessoas com idades a partir de 65 anos no Estado é de 10,9% do total. Enquanto no País, a população com 60 anos ou mais passou de 11,3%, em 2012, para 15,1% no ano passado. Isso serve para confirmar a tendência de envelhecimento populacional que já é perceptível em toda a sociedade.
O CEO da Epar, empresa especializada em gestão, Eduardo Luiz, conta que um dos problemas que tanto o Brasil quanto Minas deverão enfrentar futuramente é o fato de a população com idade para trabalhar estar ficando mais velha. Atualmente essa parcela representa 52% do total de pessoas que vivem no País.
Ele explica que, com o passar do tempo, ela vai deixando de produzir e também de consumir e, portanto, ela para de gerar riqueza. “Então você tem um problema, de ordem objetiva, a não geração de riqueza das pessoas que vão ficando aposentadas”, conclui.
Luiz ainda reforça a falta de “peças de recomposição” dessas pessoas que vão deixando o mercado de trabalho, já que as famílias brasileiras estão tendo cada vez menos filhos.
Políticas econômicas
Na visão do especialista, é preciso que haja mecanismos macroeconômicos para poder subsidiar essas pessoas. “Uma ferramenta seria dar meios de políticas sociais e econômicas que possibilitem que essas pessoas pudessem se inserir ou serem recolocadas no mercado de trabalho”, declara.
Ele ainda cita a questão do etarismo, a crença de que as pessoas mais velhas não servem para o mercado de trabalho, como uma grande barreira para a solução de realocar os mais velhos no mercado.
Para Luiz, esse envelhecimento ainda não é um problema, porém, se nada for feito, isso poderá trazer grandes consequências. “Teremos um grande problema, uma bomba que irá explodir no colo de alguém. Pode ser inclusive na Geração Z que está entrando agora, porque alguém vai ter que pagar essa conta”, afirma.
Mais pessoas morando de aluguel
A pesquisa do IBGE também demonstrou que o percentual de domicílios alugados vem aumentando no Brasil, passando de 18,5% em 2016 a 21,1%, ou 15,7 milhões de moradias, em 2022. Na contramão dessa tendência, está o número de imóveis quitados em território nacional, que saiu de 66,7% em 2016, para 63,8% no último ano.
O CEO da Epar conta que isso é motivado por dois fatores: mudança de geração e dificuldade no acesso ao crédito para financiamento.
Ele lembra que antes havia uma relação cultural de que quando uma pessoa se casava ou completava 18 anos queria ter uma casa ou um carro. Ela queria ter esse bem e fazia um financiamento para adquiri-lo.
Porém, essa relação mudou, e, agora, comprar um imóvel está apenas na quarta posição da lista de prioridades das novas gerações. “Eles querem estudar, viajar, querem empreender. Mas comprar um bem, ativo ou imóvel, está na quarta posição para eles”, relata.
Apagão de imóveis
Luiz explica que, atualmente, a pessoa quer ter o acesso ao bem e não necessariamente ter esse bem. “Vivemos no Brasil hoje um apagão de imóveis destinados à locação. Não tem imóvel para ser alugado”, revela.
Outro motivo para essa grande procura por aluguéis, segundo o especialista, é a atual crise de acesso a crédito. “Quando o crédito fica caro, o consumidor se sente restringido para fazer um financiamento da casa própria, para comprar um carro ou coisa do tipo”, explica.
Ele ainda conta que cerca de 1,1 milhão de pessoas se casam em cartórios todos os anos e cerca de 330 mil divórcios ocorrem no Brasil. “Então, temos quase 300 mil pessoas que estão se separando e que, obrigatoriamente, uma das partes terá que buscar por uma nova moradia e mais 1,1 milhão que estão se casando. Ou seja, você tem mais de 1,3 milhão de pessoas querendo uma moradia”, descreve.
Para efeito de comparação, o programa habitacional Minha Casa Minha Vida/Casa Verde Amarela conseguiu entregar, em 12 anos, cerca de 1,2 milhão de moradias. “Nós estamos falando de uma demanda constante e linear de quase 1,3 milhão de moradias por ano. Então não tem crise no mercado imobiliário, o que tem é problema de acesso ao crédito”, afirma.
Tendência
Com isso, Luiz explica que a forma mais rápida de atender a essa grande demanda por moradia é por meio dos aluguéis de imóveis. “A alocação é a maneira mais cômoda, mais rápida e mais fácil de você conseguir morar em um imóvel”, diz.
Na visão do especialista, esse crescimento da procura por aluguéis deverá continuar nos próximos anos. Ele lembra que em 2001 havia cerca de 7 milhões de moradias em situação de locação, em 2016 esse número passou para 13 milhões e em 2022 o total já alcança 15,5 milhões de unidades. Enquanto o número daqueles imóveis próprios já quitados vem apresentando queda.
O CEO da Epar conta que a previsão para a próxima década é de alcançar até 28% dos imóveis alocados no País. Luiz conta que o Brasil saltou de 7% em 2001 para 21% atualmente.
Porém, se comparar a realidade brasileira com a de outros países, essa porcentagem ainda é baixa. Ele conta que nos EUA é 37%, no Canadá é 35%, na Suíça é 51%, na Alemanha é 48% e em Portugal é 27%. Portanto, trata-se de uma realidade e de uma tendência mundial.
O especialista ressalta ainda que a alocação também surge como uma opção ágil e rápida para o dono do imóvel que pretende vendê-lo. Afinal, um imóvel locado, em muitos casos, possui uma potencialidade maior de vendas do que um imóvel parado que gera custos. “A alocação não é mais uma possibilidade, ela já é uma realidade”, afirma.
Queda na população que se declara branca
A Pnad Contínua também revelou que a população de pessoas que se declaram de cor ou raça branca vem diminuindo tanto no Brasil quanto em Minas Gerais. No País, a taxa passou de 46,3%, em 2012, para 42,8% em 2022. Já no Estado, foi de 44% para 40,4%.
Por outro lado, o número de autodeclarados pretos cresceu em ambos os casos. No Brasil essas pessoas representavam 7,4% da população em 2012 e atualmente elas correspondem a 10,6%. Em Minas esse número saltou de 8,7%, em 2012, para 12% em 2022. Já os demais 47,1% dos mineiros e 45,3% dos brasileiros se declaram como pardos.
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