Por impacto do tarifaço, usinas de ferro-gusa paralisam operações

O impacto negativo da tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos do Brasil para a indústria de ferro-gusa de Minas Gerais não é mais iminente e, sim, realidade. Sem perspectiva de acordo entre os governos para que a sobretaxa não entre em vigor na próxima sexta-feira (1º), a medida já provoca a paralisação de usinas pelo Estado.
Localizada em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a Fergubel, por exemplo, decidiu interromper os trabalhos a partir dessa segunda-feira (28), quando terminou de esvaziar o alto-forno. Ficou pré-definido pela empresa, uma pausa de 30 dias, prazo que pode ser encurtado ou alongado, a depender do desenrolar da situação.
A Fergubel produz ferro-gusa para aciarias. A produção mensal gira em torno de 5 mil toneladas. Aproximadamente 80% a 90% desse volume têm como destino o mercado externo, sendo os norte-americanos os únicos compradores internacionais.
O CEO André Ribeiro afirma que, diante da sobretaxa, na segunda-feira (21), um cliente norte-americano cancelou as entregas. Na sexta-feira (25), a empresa finalizou um último pedido que tinha programado. Logo, as operações começaram a ser interrompidas.
Ele explica que a Fergubel concedeu férias coletivas de 15 dias para cerca de 120 pessoas e pretende suspender o contrato dos funcionários após esse período, disponibilizando curso de qualificação profissional para que sigam recebendo salário – a serem pagos com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A ideia é que a suspensão também dure 15 dias, embora possa perdurar por até cinco meses, limite previsto no seguro-desemprego.
Conforme o executivo, durante a parada, a empresa vai aproveitar para antecipar o planejamento e realizar manutenções nos fornos e setores operacionais que estavam programadas para o fim do ano, de modo a otimizar processos e preservar a qualidade das operações. Ribeiro ressalta que, caso o cenário negativo se estenda e as atividades fiquem paralisadas por um tempo maior, os equipamentos podem ser afetados.
Sem mudanças, demissões podem acontecer
Se não houver mudanças nos próximos meses, a Fergubel, assim como outras produtoras de ferro-gusa, pode partir para demissões. Ribeiro ressalta que não é possível desenvolver um mercado alternativo para receber toda a produção enviada aos EUA rapidamente. “É um volume muito alto. Não tem condição”, sublinha. De acordo com o CEO, a venda dos produtos para o mercado interno não é favorável, porque os preços são baixos.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), Fausto Varela, no primeiro semestre deste ano, 90% das exportações de ferro-gusa das usinas mineiras foram para os Estados Unidos, totalizando cerca de 1,3 milhão de toneladas. Ele reitera que é difícil realocar os embarques para outros países, visto que o setor tem um mercado bem definido, com poucos compradores e clientes antigos.
Embora a Fergubel tenha paralisado a operação em Matozinhos e tenha relatos de outras usinas paradas, por exemplo, em Curvelo e em Sete Lagoas, o dirigente diz que a entidade não recebeu informações oficiais de paralisações. No entanto, há conversas nesse sentido e, caso a tarifa dos EUA vigore, a maioria das empresas devem parar. “Alguns pensam em dar férias coletivas ou antecipar férias. Existem dispositivos que serão acionados e se nada se resolver, pode haver demissão em massa”, afirma.
Setor vai até Brasília para tratar sobre o tema
Nesta terça-feira (29), uma comitiva formada pelo Sindifer, empresários do setor de ferro-gusa de Minas Gerais e prefeitos vai até Brasília para expor os problemas que as empresas enfrentam devido ao “tarifaço”. O objetivo é debater alternativas e solicitar apoio federal para mitigar os efeitos da política tarifária. A agenda inclui reuniões com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG).
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