Economia

Preço de alimentos não cairá com importação

Imposto de importação foi reduzido
Preço de alimentos não cairá com importação
Entre os fatores que impulsionam os preços dos alimentos estão a escalada no valor do óleo diesel e a alta das commodities | Crédito: Charles Silva Duarte/Arquivo DC

Correndo atrás de uma inflação que, cada vez mais, se distancia do centro da meta, o governo apostou na redução de alíquotas de importação para tentar reduzir os preços internos. No entanto, tais medidas podem não surtir o efeito desejado, alerta o economista Ricardo Balistiero.

Doutor em economia e coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Balistiero lembra que esta é uma tentativa legítima do governo para controlar a inflação, mas que precisa ser analisada com cautela.

“Facilitar a importação pela redução das tarifas pode ter um impacto muito pequeno na inflação, porque os preços dos produtos neste momento já estão muito altos. Então não adianta, após os preços terem subido 30% ou 40%, zerar uma alíquota de importação de 10%. Em termos líquidos, o produto vai continuar mais caro”, aponta o economista. “Infelizmente, a inflação deve continuar rodando a dois dígitos no Brasil pelo menos até a virada de setembro a outubro”, prevê.

Para o economista, no caso dos alimentos, essas medidas não vão resolver, exatamente porque existe uma alta internacional de preços. “O que deve ocorrer, nas próximas semanas, se não houver uma ‘agudização’ da crise internacional, é uma redução da taxa de câmbio, que pode ter um impacto positivo no preço dos combustíveis e afetar de alguma maneira a cadeia produtiva. Mas é muito pouco provável que essa redução de alíquota gere algum tipo de melhora para o consumidor final”.

Balistiero: taxa de câmbio pode ter impacto positivo nos preços | Crédito: Ricardo Bakker / Divulgação

A primeira medida do governo neste sentido foi tomada em novembro do ano passado, com a redução em 10% das alíquotas do universo de produtos sujeitos à Tarifa Externa Comum (TEC). A decisão foi unilateral, sem aval de todos os membros do Mercosul, com a alegação de haver urgência para lidar com a alta de preços.

No dia 11 de maio deste ano, o governo anunciou a redução da taxa de importação sobre 11 produtos da cesta básica e da construção civil, entre eles carne bovina desossada, pedaços de galinha, farinha de trigo, milho em grão, fios de aço, entre outros. 

Doze dias depois, no dia 23 de maio, o Ministério da Economia anunciou nova redução de 10%, desta vez horizontal, das alíquotas do Imposto de Importação. O ministério estima que o impacto, em termos de renúncia tarifária, será de R$ 3,7 bilhões. Enquanto o ganho previsto, no longo prazo, deve atingir os R$ 533 bilhões.

Serão afetados pela medida produtos como feijão, carne, massas, biscoitos, arroz e materiais de construção, dentre outros itens. No total, 6.195 mercadorias, quase todos os bens importados, terão redução no imposto.

Para Ricardo Balistiero, a tentativa não é totalmente inválida. Ela só vai ser inócua nesse momento de preços muito altos. “Nós não temos muito o que fazer. Talvez fosse interessante o governo tentar sinalizar aos investidores internacionais que vai manter o equilíbrio fiscal, não vai fazer nenhuma loucura pela reeleição; isso daria uma estabilidade ao câmbio que ajudaria a amortecer os preços internamente”, sugere. “Hoje, é o que dá pra fazer. Não há nenhuma ação mais mirabolante que reduza preços na marra, em um momento de tensão como este”, finaliza o economista.

Corte deveria ser maior

Para o professor Ricardo Ghizi Corniglion, coordenador do curso de Administração da PUC e especialista em Política e Negócios Internacionais, a redução das alíquotas tinha que ser maior, para fazer algum efeito. “Deveria zerar o imposto de importação porque, além dele, incidem sobre esses produtos o IPI, o ICMS, em efeito cascata e o PIS-Cofins também. Ou seja, a redução não foi suficiente para baixar a importação destes alimentos, até porque ela tem também custos de logística, frete, seguro, distribuição interna. Esses penduricalhos somados a uma redução pouco agressiva estão contribuindo para desestimular a importação desses alimentos”, sustenta Corniglion.

Segundo o professor, existem três motivos principais para a inflação estar em alta no Brasil. O primeiro é a alta do preço do óleo diesel, já que praticamente tudo precisa de transporte para chegar ao consumidor. Em segundo lugar, vem a alta do preço dos alimentos lá fora, já que o Brasil, apesar de grande produtor de commodities, está sujeito à sua variação no mercado internacional.  

O terceiro motivo é o dólar estar tão alto. Neste contexto, não adianta reduzir a alíquota de importação porque o importador vai pagar em dólar e uma coisa anula a outra, aponta o professor. “Olha que situação, alta do óleo diesel, das commodities e do dólar, são três variáveis que o governo tem muita dificuldade de conseguir mexer ou enfrentar no curto prazo”, conclui.

Economia dolarizada

Para o economista Paulo Bretas, enquanto o País estiver pagando combustíveis e alimentos a preços internacionais, que não param de subir, o que dá pra fazer é isso mesmo e, não à toa, é o que todos os países estão fazendo. “O problema é que tais medidas não resolvem enquanto houver uma crise de abastecimento no mundo, provocada pela guerra na Ucrânia e a Covid na China. As taxas de juros estão subindo no mundo inteiro e não atacam diretamente uma inflação de custo, enquanto provocam recessão e redução de consumo por falta de poder aquisitivo da população”, afirma.

Para ele, eficiente seria mudar a paridade de preços da Petrobras: “A solução seria encontrar uma outra equação para os aumentos internacionais de preços. Outra coisa é voltar a fazer estoques de grãos e combustíveis para períodos longos e investir para que as cadeias produtivas brasileiras sejam menos dependentes de importações. Mas isso requer, é claro, políticas de longo prazo”, finaliza. 

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