Preço do minério cai impactado pelo clima

Os preços do minério de ferro no mercado internacional são tradicionalmente marcados pela sazonalidade climática típica do primeiro trimestre do ano. Chuvas nas regiões produtoras do Brasil e ciclones nos portos da Austrália são alguns dos fatores que geralmente interferem na cotação do insumo siderúrgico mundo afora, puxados pela demanda ou até especulação vindas do maior consumidor global do produto, a China. Em 2023, a preocupação climática do próprio país asiático segue como um dos fatores que têm derrubado os preços – pelo menos nos últimos dias.
Para se ter uma ideia, os contratos futuros para maio na bolsa de Dalian encerram as negociações a US$ 127,80 a tonelada, nesta terça-feira (21), após já ter recuado 2,48% no dia anterior. Já na Bolsa de Cingapura, o minério de ferro de referência em abril registrou queda de 0,6%, chegando a US$ 124,75 a tonelada, o menor nível desde 6 de março.
“Os principais fatores que pesaram nos preços são as restrições de produção de siderúrgicas (no norte da China), induzidas pela proteção ambiental, e as incertezas quanto a políticas de controle em resposta aos preços altos”, disseram analistas da Huatai Futures em nota.
Especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO confirmam o movimento e citam para além das intervenções do governo chinês e da preocupação climática o aumento dos juros, que tem efeito recessivo, e segue em níveis globais, impactando os preços de algumas commodities.
O fundador e CEO da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, explica que uma vez que a China representa 54% da produção de aço no mundo, qualquer controle de produção naquele país tem efeito imediato no preço do minério de ferro. E que as baixas observadas na cotação nos últimos dias tem alguma influência do nível de poluição dentro das regiões produtoras de aço, bem como de alguns comentários típicos do governo chinês com críticas a movimentos especulativos da commodity.
“Num contexto mais amplo, o que a gente tem vivido é um aumento de juros global, o que tem efeito recessivo. O minério de ferro é uma commodity cíclica que é afetada mais rápido do que o restante da atividade econômica e, inclusive, que em outras commodities. Neste contexto, é natural essa queda da demanda e, consequentemente, do preço”, afirma.
O analista de investimentos da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, completa que a queda recente está associada à pressão do governo para fiscalizar o comércio de minério de ferro no país, buscando evitar altas representativas do insumo siderúrgico. E que os esforços do governo para reduzir a poluição nas cidades siderúrgicas também estão influenciando.
As cidades de Handan e Tangshan, no Norte da China, dois grandes centros siderúrgicos, por exemplo, implementaram respostas de emergência de nível 2, após uma previsão de forte poluição do ar nos próximos dias.
“De toda maneira, os estoques de minério de ferro nas siderúrgicas chinesas estão baixos e agora será iniciado o trimestre mais ativo para o setor naquele país. Além disso, os economistas estão revisando o cenário econômico para cima. Com isso, vejo o preço médio do minério de ferro em 2023 se sustentando na faixa de US$ 120 a tonelada”, projeta Galdi.
Emissões de carbono estão na mira da China e afetam preço do minério de ferro
Da mesma forma, o sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, reforça que não é de hoje que a China sofre cobranças quanto a questões climáticas e emissão de carbono e que as intervenções do governo vêm impactando os preços. Madruga também fala da valorização da commodity nos últimos meses.
“Em novembro, o preço da tonelada do minério estava em US$ 80, agora na segunda quinzena de março, já beira os US$ 130. Há uma acomodação neste movimento também. Sem contar que o setor imobiliário chinês enfrenta uma certa crise, diminuindo a demanda por aço”, lembra.
Por fim, o analista da Terra Investimentos, Luis Novaes, também ressalta a expectativa de retomada econômica do gigante asiático, que valorizou os preços do minério nos primeiros meses de 2023. Segundo ele, a perspectiva sobre a progressão da atividade econômica naquele país permanece incerta e o governo adotou uma postura conservadora ao estabelecer a meta de crescimento.
“Mantemos nossa visão de que o minério de ferro deve terminar o ano em, aproximadamente, US$ 115 por tonelada, contando com o ajuste após a sazonalidade e que não haverá um grande impulso econômico que resulte em excesso de demanda, a ponto de levar o minério de ferro para além das projeções”, conclui. (Com informações da Reuters)
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