Economia

Preço do minério de ferro despenca no primeiro trimestre

Cotação da commodity no mercado internacional é afetada pela crise imobiliária na China neste início de ano
Preço do minério de ferro despenca no primeiro trimestre
Preço médio do minério de ferro no mercado internacional caiu de US$ 120 para entre US$ 95 e US$ 100 a tonelada neste ano | Crédito: Carlos Ornelas / Governo da Bahia

Entre janeiro e março de 2024, o preço do minério de ferro sofreu uma forte queda. A tonelada da commodity, que havia sido negociada, no ano passado, a US$ 120 em média, despencou para a faixa dos US$ 95 a US$ 100. O recuo acentuado está relacionado diretamente com a economia da China, o maior produtor mundial de aço e o principal consumidor do insumo siderúrgico. 

A economista e doutoranda em Economia no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, diz que a expressiva redução do preço da matéria-prima está atrelada a fraca demanda. Uma das razões para a baixa procura é justamente a interminável crise imobiliária chinesa. 

A explicação é que, quando o país que mais consome minério de ferro no mundo diminui suas compras, há uma clara pressão sobre os valores. Sendo assim, ela opina: “Acredito que à medida que a China volta a retomar as atividades de construção, os preços tendem a se estabilizar”.

Adicionalmente, o CEO da iHub Investimentos, Paulo Cunha, destaca que existe um grande estoque e uma baixa atividade imobiliária dos asiáticos, atrapalhando ainda a margem das siderúrgicas locais. Ou seja, há um excesso de oferta de aço e minério de ferro também. 

“E vamos lembrar que o preço do minério de ferro é totalmente correlacionado com a atividade de construção chinesa, que não está em um momento muito bom, está fraco. Por isso, o preço caiu dos US$ 120 para agora essa faixa entre US$ 90 e US$ 100, perto de US$ 98”, reiterou. 

Segundo o executivo, existem rumores que mencionam um piso próximo dos US$ 90, o que seria aproximadamente o custo das produtoras. Logo, se o valor caísse ainda mais, as empresas iriam parar de produzir a commodity e, naturalmente, haveria uma regulação da oferta e demanda.

Avaliando o futuro, ele afirma que não se tem perspectivas de recuperação dos valores. E pondera que a Vale, a maior mineradora do Brasil, por ter um custo de produção baixo, ainda é rentável com esse nível de preço, mas outras empresas podem ter problemas se a situação for mantida.

Preço do minério de ferro no segundo trimestre e no longo prazo

De acordo com o sócio da iHub Investimentos, Daniel Abrahão, o preço do minério de ferro oscilou significativamente no decorrer do primeiro trimestre. No início de janeiro, chegou a alcançar US$ 143,50 por tonelada, mas posteriormente acumulou uma queda de quase 30%. 

Sobre os fatores que influenciaram o drástico recuo, o executivo também menciona a prolongada crise imobiliária que os chineses enfrentam já há algum tempo. Entretanto, afirma que sinais de recuperação na economia do país, como a retomada da atividade das fábricas em março, contrastaram com a baixa na cotação. Além disso, cita que a postergação da queda da taxa de juros americana, faz com que o mundo fique mais cauteloso em novos grandes investimentos.

Quanto ao segundo trimestre, ele diz que é incerto, mas que há indicações. “Espera-se uma recuperação sazonal da demanda, possivelmente impulsionada pelo fim do inverno no hemisfério norte, que historicamente aumenta a atividade de construção na China. Porém, essa recuperação pode não ser suficientemente forte para reverter totalmente a tendência de queda”, disse.

Conforme Abrahão, existem outros fatores como as preocupações sobre a sustentabilidade dos níveis de investimento dos governos locais e a cautela dos consumidores, que podem continuar impactando a procura por minério de ferro. Adicionalmente, as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) também podem afetar a demanda pela commodity.

Em uma análise de longo prazo, o executivo diz que há aflições com as projeções indicando estabilização em níveis mais baixos nos próximos anos. Isso ocorre dado que as mudanças nas políticas governamentais em Pequim, com foco em impulsionar setores como energias renováveis e tecnologia avançada, também podem ter desempenhado um papel na volatilidade dos valores.

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