Economia

Preço do minério de ferro deve encerrar ano estável

DC ouviu especialistas sobre previsões
Preço do minério de ferro deve encerrar ano estável
Incertezas globais decorrentes do conflito entre Rússia e Ucrânia foram um dos motivos para volatilidade da commodity | Crédito: Reuters/Muyu Xu

O preço do minério de ferro deve encerrar 2022 em patamares parecidos aos do fechamento de 2021. Apesar disso, o cenário ao longo do ano foi de instabilidade. No porto de Qingdao, na China, por exemplo, o minério com 62% de teor de ferro atingiu seu pico de valorização em março (US$ 147,36/tonelada) e de desvalorização em outubro (US$ 78,91/t). A cotação final da última semana foi de US$ 106,19/t.

As incertezas globais decorrentes do conflito entre Rússia e Ucrânia foram um dos motivos para a volatilidade da commodity, porém, os principais fatores continuam relacionados à China, que dita o mercado. O país asiático, que é o principal importador mundial de minério de ferro, vem sofrendo com isolamentos sociais impostos à população, além de estar vivendo uma longa crise imobiliária, o que afeta diretamente a demanda.

“As movimentações nas cotações foram maiores do que o esperado, mas o preço do minério de ferro deve terminar o ano em um nível esperado. O minério de ferro foi negociado entre US$ 95 e US$ 155 a tonelada esse ano, demonstrando que a volatilidade que houve no início da pandemia ainda não se dissipou no mercado de commodities. Entretanto, o minério de ferro caminha para o fim do ano com o preço dentro do esperado”, explicam os analistas da Terra Investimentos, Régis Chinchila e Luis Novaes.

Segundo eles, durante o primeiro semestre do ano, o mercado esperava que a economia chinesa se recuperasse, visto que vários países já haviam “demovido” as políticas de combate à Covid-19. Além disso, ainda havia o fato da guerra no Leste europeu não ter impacto direto sobre o país e ser visto como algo que duraria apenas semanas. No entanto, a China manteve a política de Covid Zero e os resultados não vieram. Assim, a demanda não correspondeu às expectativas e os preços desabaram nos meses seguintes. Já neste fim do ano, como o mercado voltou a projetar uma recuperação da economia chinesa em 2023, o minério de ferro se valorizou.

O professor titular do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roberto Galéry, também ressalta que o mineral sofreu uma grande variação de preço neste ano muito pelo fator chinês. “Se o mercado interno imobiliário da China retrai, o preço cai, porque ela consome muito ferro. Se a China faz uma grande compra de minério, o preço aumenta. E assim por diante”, disse.

O analista de investimentos da Mirae Asset, Pedro Galdi, lembra que a cotação do minério de ferro no final do ano passado na Bolsa de Dalian era de US$ 122,26/t, já atualmente está em US$ 113,85/t. Sendo assim, entre os períodos houve um recuo de quase 7%. Apesar disso, ele pondera: “Considerando o que está acontecendo no mundo, entendo que esta queda é até pequena, ou seja, o preço está se mantendo em um patamar acima do esperado”.

Já o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, além de todos os fatores já citados, destaca o aumento na taxa de juros nos países desenvolvidos e emergentes. “O minério de ferro é uma commodity muito cíclica e, portanto, responde mais do que proporcionalmente à expectativa do nível de atividade econômica”, aponta. Segundo ele, quando criada uma política de estímulo à economia em geral, como a chinesa em relação ao setor imobiliário residencial, há um impacto ainda mais veloz no mercado de minério de ferro.

Para os últimos dias do ano, a expectativa quanto à cotação é parecida entre os analistas. Chinchila e Novaes acreditam que o minério de ferro termine o ano entre US$ 105 e US$ 115/t, próximo à cotação final de 2021 – em torno de US$ 115/t. Galéry acredita que a commodity feche em US$ 110/t. Galdi estima o mesmo valor, mas ressalta que pode sofrer alterações, caso piore o quadro de saúde na China. Já Oliveira afirma não ter preço-alvo, mas espera um cenário de estabilidade.

Expectativa de preço a curto e médio prazo

Os analistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO também comentaram sobre a expectativa de preço do minério de ferro para os próximos anos. Apesar de divergirem em relação à cotação, todos eles citam a recuperação chinesa como fator crucial para uma possível variação.

“O minério de ferro pode voltar a ser negociado a um preço maior no curto prazo, refletindo o aumento da demanda após possível retomada da economia chinesa. Entretanto, esse cenário só deve se concretizar com o fim da política de Covid Zero na China, algo que pode demorar mais do que o projetado, ou seja, é uma valorização especulativa. Para longo prazo, os preços do minério de ferro não devem voltar a ser negociados nos patamares recentes, historicamente altos. E, sim, voltar à normalidade em aproximadamente US$ 85 em 2025, considerando também que os custos de produção hoje são mais altos, o que impede a negociação da commodity na faixa dos US$ 50”, afirmam Chinchila e Novaes.

Oliveira diz que para 2023, a expectativa é de estabilidade, tendo em vista que as medidas globais de aumento de juros para controle da inflação começaram a dar sinais de efetividade. Desse modo, pode haver um favorecimento à manutenção ou retomada da atividade econômica e, consequentemente, a demanda por minério de ferro. Ele cita ainda que o país asiático já vem dando indícios de uma possível retomada do mercado imobiliário residencial, o que também pode beneficiar a commodity. “Isso tudo deve contribuir para a sustentação desse nível de demanda. Portanto, ano que vem a gente pode esperar uma maior estabilidade com essa reticência, só que há um risco de recessão que dependerá muito do tamanho do aumento de juros”, salienta.

Já Galdi ressalta que a cotação segue pressionada com a China, devido aos isolamentos sociais. Enfatiza, porém, que com a redução das restrições, a economia chinesa deve mostrar uma recuperação no primeiro trimestre de 2023. Ainda conforme ele, há potencial para que a cotação atinja US$ 120/t no ano que vem, a depender da retomada industrial e habitacional chinesa. Um pouco mais otimista, Galéry afirma que a tendência para o próximo exercício é de alcançar US$ 130/t.

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