Economia

Preço do minério de ferro segue com instabilidade

Instabilidades na China e conflitos mundiais podem interferir no preço do minério de ferro. Cotação está em torno de US$ 115 a tonelada
Preço do minério de ferro segue com instabilidade
Ontem no fechamento na China, preço do minério estava em torno de US$ 115 a tonelada | Crédito: Patrick Grosner/Divulgação

A tendência para o preço do minério de ferro segue instável. Para especialistas, se por um lado o crescimento aquém do esperado na China e a crise do imobiliário impactam de forma negativa na cotação, por outro, o conflito entre Israel e Hamas pode reverberar para o mundo todo. Assim, há chance de alta nos preços das commodities em geral, o que pode incluir o preço do minério de ferro. 

Conforme o CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, o preço do minério de ferro está em torno dos US$ 110 a US$ 115 a tonelada. O valor é considerado bom.

“O principal ponto para o minério de ferro é sempre a China. Ela é um dos maiores mercados consumidores do produto, principalmente o mercado imobiliário. Hoje, há uma preocupação do quão resiliente pode ser o mercado imobiliário chinês ao longo dos próximos anos, uma vez que ele já se expandiu tanto nessas últimas décadas”.

Ainda segundo Cunha, com a expansão significativa do mercado imobiliário chinês nas últimas décadas, hoje, o preço das residências está caindo. Esta redução que impacta na demanda pelo aço e, consequentemente, pelo minério de ferro.

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“Temos visto uma expansão mais fraca desse mercado lá, e há muitos receios em relação à economia chinesa em relação a um ambiente de alta de juros mundialmente acontecendo, principalmente, no cenário norte-americano”.

Ao contrário de outras commodities, como o petróleo, que ainda têm mostrado resiliência e, até mesmo subido por questões de conflito tanto na Ucrânia quanto no Oriente Médio, o minério de ferro tem outra dinâmica. O minério tem correlação direta com a China, por isso, o produto pode vir a sofrer mais.

“Existe uma procura maior, de quem opera commodity, por petróleo, e o minério tem acabado ficando um pouco de lado. Há a incerteza na economia chinesa que precisa ficar um pouco mais clara, para vermos apostas um pouco mais assertivas”, explicou.

Queda da produção de aço impacta no preço do minério de ferro

O analista de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Marcos Marçal, explica que o preço do minério de ferro estava em torno de US$ 115 a tonelada no fechamento de ontem, na China. O valor mostrou um ligeiro aumento frente ao preço registrado na última sexta, que havia apresentado forte queda. Assim, o mercado segue instável em função das incertezas.

“O setor chinês tem enfrentado um cenário de incertezas e dificuldades financeiras relacionado às incorporadoras. A gente tem grandes incorporadoras que não estão conseguindo rolar as dívidas e pagar os bônus das dívidas, trazendo assim, uma certa incerteza quanto a demanda por aço. Em resposta ao elevado endividamento e também da queda do volume de moradias construídas, as siderúrgicas chinesas apontam para uma redução da produção de aço”. 

Então, a queda na expectativa de produção de aço acaba pressionando negativamente o preço do minério de ferro. “Diante da situação, para o restante do ano, a gente espera que o preço oscile em torno de US$ 100 a US$ 115 a tonelada”.

Incertezas em 2024 

Conforme Marçal, as grandes incertezas estão relacionadas ao próximo ano. “Existe a expectativa de que o governo chinês busque ferramentas financeiras para estabilizar o mercado das incorporadoras e que também invista em infraestrutura”. 

Marçal ressalta ainda que, atualmente, a economia da China está em processo de  transição. Hoje, a economia ainda é focada, um pouco, no investimento – moradia e infraestrutura -, mas há uma busca maior no consumo, com maior destaque para o setor de serviços.

“Então, essa mudança gera uma incerteza no mercado do aço. A China ainda vive um processo de transição demográfica do meio rural para o urbano, que, por sua vez, continua tendo uma demanda por moradia grande”. 

Conflitos podem impactar os preços

Para o especialista e sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, a tendência até o final do ano é de alta no preço do minério de ferro. Conforme ele, além do conflito entre Rússia e Ucrânia, agora, há também o conflito entre Israel e Hamas, o que vai reverberar para o mundo inteiro.

“Já há expectativas de que mais países estarão envolvidos no conflito. Isso tudo traz um temor global, fazendo com que as commodities subam de forma geral”.

Meira explica que, a retomada da China foi muito mais lenta do que o esperado pelo mercado. Assim, o impacto no mercado do minério vem sendo sentido desde o início do ano. 

“O mercado tinha expectativa de que no segundo semestre a China teria uma recuperação maior, o que não veio. Além disso, há problemas envolvendo uma das maiores construtoras do país. Então, possivelmente, terá uma demanda um pouco menor. Mas, o temor dessa geopolítica global, acaba fazendo com que as commodities subam um pouco mais. Então a tendência que a gente enxerga é de alta até o final do ano. Não sei dar um número porque vai depender da escalada do conflito”.

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