Preço do etanol cai nas bombas em Minas Gerais e queda deve ser ainda maior até maio

O preço do etanol caiu R$ 0,28 entre março e abril nos postos de combustível em Minas Gerais. Enquanto na semana de 2 a 8 de março, o preço médio do litro do biocombustível girava em torno de R$ 4,55, entre os dias 6 e 12 de abril o valor foi de R$ 4,27, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Concorrência, sazonalidade econômica e nova tributação são alguns dos motivos da redução que deve persistir no próximo mês, segundo especialistas.
De acordo com o presidente da Associação da Indústria da Bioenergia e do Açúcar de Minas Gerais (Siamig bioenergia), Mário Campos, a queda normalmente não ocorre nesse período já que é entressafra. Portanto, os preços podem ser explicados por dois fatores principais, primeiro, o etanol não depende mais só da cana-de-açúcar. “Ele também vem do milho que não tem sazonalidade de produção e produz o ano todo”, explica.
O segundo motivo é o fato de muitas unidades iniciarem o processamento da cana em março. “Estatisticamente, a gente termina a Safra 2024/25 no final de março, mas essas empresas passaram por um período de manutenção em novembro e, ao invés de iniciar o processamento em abril, começaram em março. Então, a estiagem de março permitiu um melhor aproveitamento do tempo e uma produção significativa, pressionando os preços para baixo”, afirma.
Entretanto, Campos pontua que a queda dos valores do etanol para o consumidor final foi maior do que a do preço ao produtor. Ele atribui essa movimentação à redução da margem de lucro na cadeia produtiva. “Redução de margem não dá para identificar se foi na indústria e no posto ou só em um deles. Talvez até a competição tenha induzido essa redução”, pontua.
Procurado pela reportagem, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo em Minas Gerais (Minaspetro), informou em nota que a queda de 2% do preço do etanol observada nas cinco últimas semanas na pesquisa semanal de preços da ANP é semelhante à queda nas usinas produtoras. “Devido à alta competitividade dos postos, os empresários mantiveram suas margens e repassaram o preço para os consumidores”, afirma.
Nova tributação deve manter a queda do preço do etanol
O professor de Ciências Contábeis da Estácio BH Alisson Batista avalia que uma redução do consumo do etanol era esperada nos primeiros meses do ano, em função da competitividade com a gasolina. “A tendência era as pessoas procurarem mais a gasolina, em virtude do aumento da porcentagem de etanol que a tornou mais competitiva, impactando o valor do biocombustível”, comenta.
Para os próximos meses, Batista acredita que a tendência ainda seja de queda até o mês de maio, tendo em vista a nova política de tributação do etanol hidratado, que será adotada pelo governo federal a partir do próximo mês. “O preço na bomba deve variar entre R$ 0,05 a R$ 0,10”, afirma.
Conforme o professor, esse impacto vai favorecer ainda mais a diminuição do preço do etanol em Minas Gerais e, consequentemente, deve puxar o preço dos demais combustíveis para baixo
A nova tributação a que o professor se refere é a medida incorporada na regulamentação da reforma tributária que vai antecipar a cobrança de alíquotas maiores, no caso de impostos federais, concentradas nas etapas iniciais do processo de produção, diminuindo a incidência nas etapas posteriores de comercialização.
Dentro da nova regulamentação, a forma de tributação federal sobre o etanol muda a partir de 1º de maio deste ano, em que o etanol hidratado e o anidro terão a mesma alíquota: R$ 0,19 por litro. Antes, o etanol anidro (que é adicionado à gasolina) e o hidratado (usado pelos veículos flex) tinham alíquotas diferentes. O primeiro era taxado em R$ 0,139/litro, enquanto o segundo pagava R$ 0,2418/litro.
Portanto, a partir do próximo mês, haverá aumento de impostos para o etanol anidro, de cerca de R$ 0,06/litro, e redução para o hidratado de aproximadamente R$ 0,05/litro, pressionando os preços.
Alisson Batista observa ainda que o segundo trimestre do ano é repleto de feriados e datas comemorativas, como a Páscoa, o Dia das Mães e o Dia dos Namorados, que devem aquecer o comércio.
“Então, é comum a gente ver um comportamento mais ameno na variação do preço dos combustíveis tendo em vista que as cadeias produtivas se mantém aquecidas. Todavia, influências referentes ao preço dos combustíveis como tarifações externas similares ao do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem causar alguma interferência. Nesse primeiro momento o que devemos observar é uma leve queda para o etanol e uma estabilidade para o preço da gasolina”, finaliza.
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