Preço do etanol fecha o ano em patamar elevado nas usinas
A combinação entre oferta reduzida e demanda aquecida manteve os preços do etanol em patamar elevado ao longo de 2025. Na última semana, o valor médio do etanol hidratado vendido pelas usinas avançou 0,4% e alcançou o maior nível do ano, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).
O preço médio do litro passou de R$ 2,9177 para R$ 2,9296. O indicador do Cepea, referência para o Sudeste, reflete diretamente o mercado de Minas Gerais.
A trajetória de valorização vem sendo observada desde junho, quando o litro do etanol hidratado era negociado, em média, a R$ 2,57. Desde então, os preços avançaram de forma gradual, semana após semana, impulsionados pelo aperto na oferta.
Para o presidente da Associação da Indústria da Bioenergia e do Açúcar de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), Mário Campos, o cenário é resultado do encerramento da produção aliado a um consumo consistente ao longo do ano. “Estamos com a produção praticamente finalizada e tivemos uma demanda significativa por etanol em 2025”, afirma.
O etanol anidro, utilizado na mistura da gasolina, também apresentou valorização importante. Na última semana de dezembro, os preços praticados pelos produtores subiram 1,25%, alcançando R$ 3,3489 por litro.
De acordo com o Cepea, o avanço foi influenciado pela variação no percentual de etanol adicionado à gasolina e pelo aumento do consumo do combustível fóssil, que se manteve mais competitivo que o etanol hidratado durante boa parte de 2025.
Na avaliação do economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Izak Silva, os preços elevados refletem dificuldades enfrentadas pelo setor ainda em 2024, cujos efeitos se materializam ao longo deste ano.
“Em 2024, grandes queimadas atingiram áreas de cana-de-açúcar no interior de São Paulo. Somadas à crise hídrica e a adversidades climáticas, essas ocorrências resultaram em uma safra menos produtiva”, explica. Segundo ele, a redução dos estoques impulsionou os preços, prejudicando a competitividade do etanol frente à gasolina e contribuindo para a queda do consumo nas bombas.
Expectativas para 2026
Para 2026, o cenário tende a ser mais favorável, na avaliação de Silva. “Não há expectativa de aumento no percentual de etanol misturado à gasolina, e a safra deste ano foi melhor do que a anterior. Isso deve resultar em maior produção, crescimento das vendas e recuo nos preços, com recuperação da competitividade do etanol”, projeta.
Apesar do otimismo, o presidente da Siamig chama atenção para a imprevisibilidade das questões climáticas. “Estamos tendo um verão atípico. Não dá ainda para cravar essa recuperação. Mas uma coisa é certa, teremos uma elevação consistente da oferta de etanol a partir do milho, o que vai aumentar a disponibilidade do biocombustível no mercado”, destaca.
Mário Campos também aponta uma tendência de mudança no mix de produção. Com os preços do açúcar em patamares menos atrativos, cresce o movimento de direcionamento da produção para o etanol, o que pode reforçar a oferta nos próximos ciclos.
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