Preços do aço no Brasil ficam estáveis, mas seguem pressionados

Os preços do aço praticados no Brasil se mantiveram relativamente estáveis nos últimos 60 dias, contudo, os valores continuam pressionados para baixo, sobretudo, pelas importações, que seguem em alta. É o que apontam especialistas do mercado financeiro.
“Foi um período de mais estabilidade nos preços praticados no País”, analisa o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira. “Mas a pressão baixista continua, principalmente por conta das importações de aço chinês”, ressalta.
Conforme dados do Instituto Aço Brasil, as importações de aço somaram 3,5 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, uma alta de 28,8% em comparação ao mesmo intervalo do ano passado. Somente a China enviou 2,2 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 50,3%. A participação chinesa no total importado pelos brasileiros chegou a 63,6%, um avanço de 9,1 pontos percentuais (p.p.).
Reforçando o que disse Paulino, o analista de investimentos da AGF, Pedro Galdi, pontua que os preços do aço praticados no País em julho ficaram estáveis, mas sem espaço para aumentos significativos. De acordo com ele, o que ajudou as companhias foi a queda de preços do insumo de siderurgia, como no caso da cotação do minério de ferro.
“Espaço para correção continua prejudicada, sendo que a melhora das margens [das empresas] estão sendo originadas justamente da menor pressão de insumos”, diz. “No curto prazo não vejo mudanças neste cenário. Não há espaço para ajustes, porém, com a queda dos insumos [as siderúrgicas] não precisam se apegar a descontos [para vender]”, analisa.
Por outro lado, o economista da Valor Investimentos, Ian Lopes, faz uma avaliação oposta dizendo que, entre junho e agosto, os preços do aço no Brasil registraram baixa. A redução, segundo ele, foi reflexo de uma confluência de fatores estruturais e conjunturais.
“O movimento foi condicionado pelo excesso de oferta global – tanto de minério de ferro quanto de produtos siderúrgicos acabados –, pela demanda doméstica e internacional mais contida, além do ambiente de incertezas associado a disputas tarifárias”, afirma. “Soma-se a isso, o incremento das importações a preços mais competitivos, sobretudo provenientes da China, que ampliou a pressão sobre as cotações praticadas no mercado local”, explica.
Cenário é problemático para as siderúrgicas
Mesmo com a cota-tarifa imposta pelo governo federal para tentar conter a entrada de aço importado, as importações continuam em alta, como citado anteriormente. O cenário é problemático para as siderúrgicas, sendo que a Gerdau, por exemplo, já demitiu mais de 1.500 colaboradores no Brasil no período entre janeiro e julho deste ano e decidiu que reduzirá o volume de investimentos no mercado brasileiro nos próximos anos.
O tarifaço dos Estados Unidos sobre o Brasil também trouxe preocupações para o setor, embora menos significativas. Conforme Galdi, a tarifa de 50% sobre o aço resultou em problemas para a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), contudo, como volumes de exportação dessas empresas para os EUA não são expressivos, outros mercados tendem a receber as mercadorias.
No caso da alíquota sobre outros setores brasileiros, a Usiminas foi uma das siderúrgicas que se mostrou apreensiva. A companhia disse temer o impacto negativo em segmentos como o de máquinas e equipamentos, que são compradores de seus produtos.
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