Preços do pãozinho disparam em BH com crise do trigo

O pão nosso de cada dia tem se tornado cada vez mais raro na mesa do belo-horizontino. Uma pesquisa do site Mercado Mineiro aponta que o quilo do pão francês, ou de sal, teve, em janeiro, aumento do preço e, para agravar a situação, com uma variação saindo de R$ 15,99 a R$ 25,99 entre os estabelecimentos, ou seja 62%. Já no caso do pão doce, o quilo pode variar de R$ 15,99 a R$ 39,90 pelas padarias da cidade, cerca de 149%.
A pesquisa também comparou os preços médios de janeiro de 2022 a janeiro de 2023. No caso do quilo do pão de sal, o valor subiu de R$ 16,42 para R$ 19,10. Essa diferença representa uma alta de 16,35%. Já o quilo do pão doce saiu de R$ 18,96 para R$ 21,75. Ou seja, uma elevação de 14,72%.
As altas nos preços têm ligação direta com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que já se prolonga por 11 meses. Isso porque os dois países são importantes exportadores do trigo, matéria-prima para a produção de pães.
“Tivemos durante todo o ano passado recorrentes alterações no preço. A guerra trouxe uma série de problemas. O transporte e a logística do trigo saindo da Rússia fez com que a Argentina elevasse muito o preço, uma vez que todo mundo da Europa veio e desceu (para a América do Sul) para poder buscar o trigo dela”, explica o presidente da Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Vinícius Dantas.
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Distribuição argentina é falha
O executivo conta que agora, de forma abundante, ocorre uma crise econômica na Argentina que tem piorado a situação. “Vários moinhos brasileiros com contratos fechados e com compras antecipadas do trigo não estão recebendo o insumo. Mas, quando recebem, é com muita dificuldade e obviamente com repasse de custo”, conta.
Além do pão, outros produtos comuns em padarias e confeitarias também enfrentam alta disparada. O litro do leite integral Itambé, por exemplo, subiu de R$ 5,11 em janeiro de 2022 para R$ 7,11 em janeiro de 2023. Segundo o levantamento, o produto sofreu um aumento de 39%. Já o leite integral Cotochés subiu de R$ 4,70 em janeiro de 2022 para R$ 6,59 o litro em janeiro de 2023, com 40% de alta.
A manteiga também teve valorização. O produto da marca Itambé com 500g subiu 14%, saindo de R$ 26,85 em janeiro de 2022 para R$ 30,67 em janeiro de 2023. O preço do quilo da muçarela subiu 31% também no mesmo período, com preço saindo de R$ 44,22 para R$ 58,01. Por fim, o tradicional cafezinho, que antes custava R$ 1,29, agora é vendido a R$ 1,51, com alta de 16,88%.
Operacionalizar padarias tem exigido esforço fora do comum
A questão da rotatividade de mão de obra, assim como a elevação de custo também é uma outra dificuldade encontrada pelo setor. Dantas conta que, para suprir essa necessidade empregatícia, muitos ajudantes de padeiros precisaram atuar como padeiros.
“O transporte urbano de Belo Horizonte, além de carente, é péssimo e gera custos altíssimos. Isso tudo somado ao eSocial e ferramentas que entram constantemente para ser implementadas necessitam de ter um novo profissional. São necessidades de abastecimento, geração de notas, departamento fiscal, RH e técnico de segurança. O Brasil é um país muito complicado para se empreender. O que a gente menos faz e tem tempo pra fazer é pão. Então, isso tudo tem se refletido nos preços. E quem não repassar o custo está fadado a fechar”, diz o presidente da Amipão.
No entanto, toda essa realidade não é enfrentada somente pelos donos de padarias em Belo Horizonte. A situação tem sido sentida também no exterior. Nos últimos dias, a imprensa internacional tem mostrado que, na França, os padeiros estão fazendo um movimento contra os custos elevados de energia e de produção. O segmento tem forte possibilidade de extinção, e o produto vai ficando cada vez mais inviável.
“Nós somos um processo artesanal. É preciso que o governo visualize que temos que ser isentos e desonerados de tributo. Esse País que onera o trabalho em vez de onerar a riqueza, ele sempre vai ter inflação, preços altos e baixa produtividade. Hoje quando se fecha uma padaria perde muito mais quem é consumidor do que propriamente um empreendedor”, conclui Vinícius Dantas.
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