Preços do minério de ferro devem permanecer estáveis até dezembro

A tendência até o final deste ano é de estabilidade nos preços do minério de ferro no mercado internacional, de acordo com especialistas. Atualmente, o minério de ferro 62% Fe, CFR China, está cotado em aproximadamente US$ 105 por tonelada.
A doutora em economia no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, afirma que o esperado é que os preços se mantenham firmes ou com ligeira tendência de alta. O contrário deve acontecer apenas se houver uma queda acentuada da demanda chinesa – maior consumidora da commodity – ou alguma situação de interferência regulatória significativa.
Conforme ela, dentre os fatores que podem pressionar o preço pra cima, estão a retomada de obras de infraestrutura em países emergentes, as políticas de estímulo industrial, o aumento nos custos de produção das mineradoras, por exemplo, com transporte e energia, e a escassez de minério de alta qualidade em certas regiões.
Do lado oposto, os fatores que podem puxar o preço para baixo, segundo Diana Chaib, são a desaceleração econômica na China, o mercado imobiliário fragilizado no País, reduzindo demanda por aço, as políticas ambientais chinesas limitando a produção de aço e a oferta abundante de minério de ferro de baixa qualidade competindo com minérios de alta pureza.
O economista da Valor Investimentos, Ian Lopes, diz que, no geral, o mercado trabalha com um cenário sem grandes picos, mas também sem desabamento de preço no curto prazo. De acordo com ele, as projeções apontam para preços do minério de ferro entre US$ 95 e US$ 105 a tonelada até dezembro, com viés de estabilidade.
Lopes também aponta que alguns fatores podem mexer nessa faixa de preços esperada, como estímulos mais fortes na China ao setor de construção, que podem puxar a demanda para cima, o clima no Brasil e as questões portuárias na Austrália, que ainda podem limitar embarques, e os estoques em portos chineses em níveis elevados, limitando altas.
Impactos da possível suspensão de compras da China de minério da BHP
Circulam informações extraoficiais de que a trading estatal chinesa, a China Mineral Resources Group (CMRG), teria instruído as siderúrgicas do país a suspender temporariamente o uso de um produto popular da BHP, chamado jimblebar blend fines, produzido na Austrália, após falhas nas negociações de contratos de longo prazo. A Associação Chinesa de Ferro e Aço (CISA) teria apoiado a recomendação.
Esse episódio, de acordo com avaliação do economista da Valor Investimentos, traz incerteza de curto prazo e pode pressionar preços, visto que afeta contratos e oferta. A doutora em economia no Cedeplar/UFMG faz uma análise parecida, explicando que a situação pode afetar a cotação do minério, especialmente para esse tipo de produto, porque a retirada de demanda tende a gerar pressão para queda ou concessões de preço.
Efeitos sobre as vendas brasileiras de minério de ferro
A possível suspensão de compras chinesas do produto da BHP pode ainda gerar efeitos sobre as vendas brasileiras ao país. Diana Chaib destaca que pode ocorrer efeito substituição: “a China pode comprar mais minério de outras origens, incluindo o Brasil, dependendo da qualidade, logística e custos de importação”. Lopes também salienta que pode abrir espaço: “a Vale tende a ganhar share se as siderúrgicas chinesas realmente substituírem esse produto australiano por alternativas brasileiras”.
Dados do governo federal mostram que, entre janeiro e agosto, o Brasil exportou 187,5 milhões de toneladas de minério de ferro para a China, totalizando US$ 11,9 bilhões. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve quedas de 5,6% em volume e 12,8% em valor. Em Minas Gerais, líder nacional na produção da commodity, os embarques para os chineses somaram 93,8 milhões de toneladas (-1,1%) e US$ 5,9 bilhões (-17%).
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