Preocupação com finanças muda hábito de consumo no mundo

O consumidor já não consegue mais levar para casa todo o alimento que escolhe e coloca no carrinho. Isso acontece mesmo com aqueles que frequentam os mais diferentes estabelecimentos do varejo no Estado. O corte de gastos, muitas vezes, acontece no caixa. E, por consequência, a situação é de preocupação dos dois lados do balcão.
“Na verdade, hoje os comerciantes mineiros e em todo o mundo enfrentam a inflação resultante da quebra da cadeia produtiva que ocorreu durante a pandemia de Covid-19. Essa quebra também ocorreu por conta da insegurança geopolítica resultante da guerra entre Rússia e Ucrânia e também é associada ao conflito entre China e Taiwan”, conforme avalia o coordenador do Núcleo de Mercado e Consumo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Marcelo Silveira.
“Esses fatos resultaram no aumento dos custos de energia e da possibilidade de recessão mundial”, destaca Silveira. Ele enfatiza também que esses fatores têm reflexos que atingem mais as famílias de baixa renda neste momento.
Diante dessa realidade, enfrentada por toda a cadeia de comércio de bens e serviços em Minas, a entidade encaminhou um estudo à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag). O material visa a uma redução do custo tributário relativo à antecipação de alíquotas (Difal) de ICMS, que deve ser recolhido à parte pelas empresas optantes pelo Simples Nacional.
Efeitos são sentidos em todas as gerações
Uma pesquisa global desenvolvida pelo escritório multinacional Capgemini Research Institute, que chega a segunda edição do What Matters to Today’s Consumer, aponta a preocupação dos consumidores. Segundo o relatório, no mundo, 61% dos consumidores millennials, entre 27 e 41 anos, estão preocupados com a situação financeira pessoal.
No caso da geração X, 64% das pessoas com idade entre 42 e 58 anos são as mais apreensivas com relação às contas. Já os boomers, de 59 a 78 anos, estão menos preocupados.
A pesquisa aponta ainda que 44%, ou seja, quase a metade dos consumidores afirmam reduzir constantemente os gastos no comércio. Essa parcela representa um aumento de 33% dos consumidores consultados pela mesma pesquisa em sua primeira edição, realizada em novembro de 2020, em meio à pandemia.
“Bye bye”: compras por impulso estão ficando cada vez mais de lado
E quando o desejo súbito de comprar um determinado produto vem à mente? Esse tipo de comportamento também tem sido controlado, conforme aponta a mesma pesquisa da Capgemini.
Os dados mostram que, de 11,3 mil consumidores de 11 países, entre eles o Brasil, 73% estão fazendo menos compras por impulso. Já 69% estão cortando despesas não essenciais, como eletrônicos, brinquedos, itens de luxo e alimentação fora do lar. A opção tem sido procurar por produtos mais baratos ou não comprar, dependendo da situação.
Voltando a Minas, onde a realidade é similar aos demais estados brasileiros, os comerciantes têm adotado estratégias para driblar o cenário de recessão. Marcelo Silveira conta que uma das saídas encontradas pelos empresários e empreendedores do Estado foi a adoção de marcas próprias. “Essa alternativa tem impactado no preço dos produtos ao consumidor, tentando compatibilizar a renda ao nível do poder de compra”.
“Associado a isso, podemos ver o crescimento dos atacarejos, grandes estabelecimentos que vendem maiores quantidades de produtos diretamente ao consumidor com menores preços”, diz.
Nos últimos cinco anos, o mercado de produtos sustentáveis tem apresentado um acelerado crescimento devido à mudança de hábitos para uma qualidade de vida. No entanto, mais uma vez, o consumidor precisou tomar decisões para que essa mesma qualidade não fosse afetada pela inflação.
“O crescimento do consumo de produtos sustentáveis advém muito mais de uma mudança de comportamento do consumidor, que saiu da pandemia muito mais preocupado com as questões sociais e com a sustentabilidade do planeta. E da geração Z, que está entrando no mundo do consumo de forma crescente e tem um alinhamento muito estreito com as causas identitárias e com a questão da sustentabilidade. Podemos observar que, com relação ao consumo de produtos sustentáveis, houve uma redução das diferenças de preço entre os sustentáveis e os não sustentáveis”, conta o especialista, enfatizando que essa diferença tem favorecido os consumidores.
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