Economia

Ex-presidente do Banco dos Brics chama tarifaço de ‘Trumpulência’ e vê oportunidades para o Brasil

Política de taxação adotada por Donald Trump impõe desafio,s mas pode ter impactos positivos para Brasil
Ex-presidente do Banco dos Brics chama tarifaço de ‘Trumpulência’ e vê oportunidades para o Brasil
Marcos Troyjo na Fenabrave | Foto: imagem cedida ao Diário do Comércio

“Trumpulência” é como o ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, Marcos Troyjo, classificou a política de taxação adotada por Donald Trump. O neologismo foi usado durante palestra no 33º Congresso & ExpoFenabrave para denominar o momento de turbulência que o Brasil e a economia mundial vêm passando em decorrência das decisões do atual presidente dos Estados Unidos.

Durante a palestra “A geopolítica e as consequências para as concessionárias de veículos”, Troyjo destacou as tensões entre os Estados Unidos e a China, e como a estratégia econômica adotada por Trump pode influenciar positivamente a economia brasileira nos próximos anos.

“Esta é uma grande oportunidade para o Brasil devido a dois aspectos muito importantes. Por um lado, o aumento da percepção de risco relativo em outros mercados emergentes, como China e Índia, que são alvos das retaliações americanas. Mas, também, como resultado da relação com esses países, que ainda passam por um grande processo de crescimento econômico”, observou.

A Trumpulência

Troyjo avaliou que, devido ao tamanho da economia americana, as decisões de Trump, quando acertadas, podem trazer grandes benefícios para os Estados Unidos, mas caso sejam negativas, têm um potencial destrutivo muito maior à economia americana e aos países que se relacionam com o país. Dessa forma, a ‘Trumpulência’, apesar de ser classificada pelo economista como um momento microgeopolítico, ou seja, de curto prazo, é complexa e se ancora em três grandes pilares:

O primeiro é a personalidade do presidente norte-americano, que, de acordo com Troyjo, toma decisões em ciclos de 24 horas. Ele citou a mudança de postura em relação a empresários como Elon Musk e medidas como a extensão de tarifas a 192 países, além da revisão de acordos comerciais e o aumento da pressão sobre a China, para embasar essa volatilidade das estratégias econômicas dos Estados Unidos.

O segundo pilar é a força da economia dos Estados Unidos, que alcançou um PIB US$ 30 trilhões em 2025 – cenário que fica mais claro quando Troyjo compara os EUA com outros mercados. “Se você comparar a renda per capita nos Estados Unidos à renda per capita da Zona do Euro em 2008, verá que os americanos ganhavam apenas 10% a mais que os europeus. Atualmente, é o dobro”, comentou.

O terceiro pilar é a incoerência da política norte-americana, que busca estimular produção e atrair investimentos domésticos, ao mesmo tempo em que impõe dificuldades às suas próprias multinacionais. “Se por consequência dessa fase da política industrial americana, as empresas americanas tiverem que remontar todas as suas atividades verticalmente nos Estados Unidos, não somente elas terão que lançar esses custos nos livros contábeis, como também enfrentarão um período artificialmente acelerado de depreciação do capital do mercado”, analisou.

A questão tributária

Apesar de o momento ter alguns pontos que podem influenciar positivamente a economia brasileira no futuro, Troyjo também comentou que as mudanças tributárias americanas podem colocar o Brasil em desvantagem no futuro. “Enquanto a carga tributária sobre corporações nos EUA pode cair de 22% para 15% nos próximos anos, no Brasil, mesmo após a reforma tributária, o índice segue em 33%”, ponderou. Na avaliação do economista, esse diferencial reduz a atratividade do país para novos investimentos, em um momento em que a economia poderia apresentar crescimento mais consistente.

Fenabrave

O 33º Congresso & ExpoFenabrave, realizado de 27 a 28 de agosto no São Paulo Expo, em São Paulo, reuniu autoridades públicas, lideranças empresariais e especialistas para discutir os rumos da economia, da mobilidade e da gestão de concessionárias.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas