Hotéis registram movimento de antecipação e procura para o Carnaval em BH cresce 50%

A pouco mais de 40 dias para o Carnaval, a procura por hospedagens em hotéis de Belo Horizonte já está 50% superior ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG).
Neste ano, a rede hoteleira da cidade registra um movimento de antecipação de reservas, consequência da repercussão nacional que o Carnaval da capital mineira vem alcançando. A expectativa é que a folia atraia cerca de 6 milhões de visitantes e movimente aproximadamente R$ 1 bilhão na economia local.
A abertura oficial da festa em 2025 será em 15 de fevereiro, mas a cidade deve ser mesmo tomada pelos foliões de sábado (1º/3) a terça-feira (4/3), com picos de alta taxa de ocupação no sábado e domingo de Carnaval. Além dos eventos de pré-folia, o reinado de Momo prevê uma agenda que inclui desfiles de escolas de samba, festivais privados e aproximadamente 600 blocos nas ruas.
“Para o Carnaval, as expectativas são muito boas. A gente tem registrado uma movimentação 50% maior em procura. Acreditamos que devemos chegar a uma taxa média de ocupação de 96% nos hotéis da região Centro Sul na semana do Carnaval. Os principais hotéis da cidade devem atingir o pico de 100%”, afirma o consultor hoteleiro da Abih-MG, Maarten Van Sluys. No ano passado, a taxa média dos hotéis da região ficou em 82%.
Na média geral da cidade, incluindo os estabelecimentos mais afastados, em 2024 a taxa média de ocupação foi de 71,3%. “Neste ano, projetamos 78%”, afirma.
A coordenadora de Marketing da rede Samba Hotels Group, Marilene Lopes relata que, a pouco mais de um mês da folia, a taxa de ocupação das unidades Hotel Samba BH Vintage e Hotel Samba BH Centro, ambas no Centro da Capital, já está em 70% para a semana do Carnaval.

“Nos últimos anos, a Rede Samba tem registrado resultados expressivos durante a semana de Carnaval, atingindo 100% de ocupação. E 2025 segue na mesma direção. A cada edição da festa, percebemos que a procura começa com mais antecedência”, ressalta Marilene Lopes.

Para o diretor comercial da rede de hotelaria MHB, Daniel Sanches, marca que administra sete empreendimentos hoteleiros em Belo Horizonte, a previsão é de ultrapassar 70% de reserva para os dias de festa.
“Historicamente, a demanda para o Carnaval em Belo Horizonte é de última hora. Mas, neste ano, estamos vendo uma antecipação do movimento de compra. Temos apostado em promoções em nosso site para que o folião vire nosso hóspede”, detalha o diretor comercial da rede de hotelaria MHB, Daniel Sanches. A rede reúne sete empreendimentos distribuídos por várias regiões da Capital.
De acordo com Daniel Sanches, dos empreendimentos da MHB, o hotel Belo Horizonte Plaza é o mais procurado pelos foliões por conta de sua localização, na região Centro-Sul, próximo às concentrações dos blocos de rua.

Desafio da descentralização ainda é grande na capital mineira
À medida em que o Carnaval de Belo Horizonte cresce em popularidade e movimentação econômica, o evento também enfrenta desafios sociais e urbanísticos persistentes. Problemas de superlotação e mobilidade precária desafiam a gestão pública e comprometem a experiência turística.
Para Maarten Van Sluys, essas questões demandam atenção prioritária da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em conjunto com a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur).
“Há pautas que precisam ser avaliadas como prioridade pela prefeitura e pela Belotur. Não conheço nenhuma grande cidade, além de Belo Horizonte, cuja a rodoviária fica bem na avenida principal da cidade. Imagina isso em São Paulo ou Rio de Janeiro? A rodoviária de São Paulo em plena avenida Paulista? Isso gera um grande problema de mobilidade urbana. No caso de Belo Horizonte, esse problema é acentuado especialmente durante o Carnaval. Além disso, a presença de moradores de rua preocupa hoteleiros e turistas”, destaca Maarten.
O consultor ressalta que o entorno da rodoviária é a primeira cena que um turista vê após desembarcar do terminal. “O impacto visual e a mobilidade urbana são desafios para o turismo aqui. É uma questão complexa, que requer políticas sociais. Qualquer problema dessa natureza, envolvendo precariedade, sujeira, trânsito e infraestrutura, afeta o setor hoteleiro”, avalia.
Para Maarten, uma alternativa seria descentralizar os grandes blocos carnavalescos, levando-os para bairros de outras regiões com menor movimento durante o Carnaval.
“Isso ajudaria a reduzir congestionamentos, a melhorar a mobilidade e oferecer uma experiência mais agradável aos turistas. Hoje os hotéis mais afastados do Centro não ficam com uma taxa de ocupação similar aos hotéis da região Centro-Sul, que ficam superlotados. Um folião não vai sair de longe para aproveitar um bloquinho no Centro. Ele quer ficar hospedado de frente para onde terá o bloco”, aponta.
O que dizem os blocos
Dos 600 blocos de rua cadastrados pela PBH, aproximadamente 460 devem desfilar neste ano. Isso porque, segundo o presidente da Associação Blocos de Rua de BH (AbraBH), Robhson Abreu, vários acabam desistindo por falta de suporte financeiro.
Neste ano, a previsão é de que 105 blocos de rua sejam contemplados pelo edital municipal de apoio aos blocos. Entretanto, o principal desafio continua sendo a falta de aporte para custear infraestrutura. Abreu aponta que o valor de locação de um trio-elétrico, por exemplo, varia entre R$ 30 mil e R$ 100 mil.
“Quanto maior for o bloco, maiores serão os custos. No entanto, parcerias com patrocinadores podem ajudar a equilibrar esses custos. Uma solução viável seria hotéis patrocinarem blocos e realocá-los para outras regiões da cidade. Isso geraria movimento próximo aos hotéis que não não têm taxas de ocupação tão boas quanto os hotéis da região Centro-Sul”, aponta o presidente da AbraBH.
Abreu lembra que um exemplo bem-sucedido foi a parceria, em 2018, entre o Bloco de Belô e o Hotel Othon Palace, quando o empreendimento hoteleiro apoiou 20 ensaios realizados. Contudo, a parceria só não foi renovada no ano seguinte, pois o hotel fechou as portas definitivamente.
No caso do Bloco de Belô, por exemplo, que tradicionalmente ‘arrasta’ uma multidão de aproximadamente 390 mil pessoas, sempre na tarde do sábado de Carnaval, o desafio, segundo Abreu é grande para colocá-lo na rua.

“Tudo ficou muito caro. As marcas só querem patrocinar com produtos e não financeiramente. As empresas poderiam ajudar o Carnaval mineiro. Falta incentivo”, lamenta.

O que dizem a prefeitura e a Belotur
Procurada pela reportagem, a PBH afirma que desenvolve diversas ações voltadas para o atendimento da população em situação de rua. O Serviço Especializado de Abordagem Social, que realiza atendimentos diretamente nas ruas, busca estabelecer vínculos e compreender os motivos que levaram essas pessoas à situação de rua, além de identificar as demandas necessárias para superação dessa realidade.
“Este serviço realiza orientações e encaminhamentos para que essas pessoas consigam acessar outros serviços públicos, como saúde e alimentação, além do acolhimento em abrigos. Muitas chegam à cidade por essa porta de entrada e permanecem na região até seguirem para outros territórios. É importante ressaltar que a remoção compulsória de pessoas em situação de rua não é uma prática adotada pelo município, que segue as diretrizes estabelecidas por normativas nacionais”, diz a prefeitura em nota.
Com relação ao processo de descentralização do Carnaval de Belo Horizonte, a PBH afirma que essa medida já vem sendo adotada nos últimos anos. Segundo a prefeitura, todas as regionais da cidade recebem cortejos e são oferecidas programações especiais ao longo do período oficial da folia nos Centros Culturais.
Para o Carnaval de 2025, a Belotur adianta que, em breve, a divulgará a programação das apresentações dos Blocos de Rua, que irão realizar os cortejos em todas as regionais da cidade. “A Belotur reafirma o compromisso com a descentralização do Carnaval, atribuindo pontos no Edital de Auxílio de Blocos de Rua a grupos que optam por realizar os cortejos em locais que não pertencem a região central da cidade”, conclui.
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