Produção da indústria volta a cair em setembro

A produção industrial em Minas Gerais caiu no último mês e voltou a sinalizar queda de atividade. As informações são da pesquisa Sondagem Industrial de setembro, divulgada pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). O índice de evolução da produção da indústria registrou queda de 6,2 pontos em relação a agosto (52,3) e alcançou 46,1 pontos, ficando abaixo dos 50 pontos – limite entre queda e elevação.
Para a economista da Fiemg Daniela Muniz, há uma esperada desaceleração da economia. “Apesar da resiliência da atividade, principalmente no mercado de trabalho e com melhora na inflação, os indicadores mensais dão sinais de desaceleração. Tanto na produção como na evolução do número de empregados, fica clara uma desaceleração do setor industrial, que já era prevista. Estamos com um nível de taxa de juros muito elevado e o objetivo é o controle da inflação. Para que esse controle exista, é via redução da atividade”, aponta.
A economista explica que as indústrias foram diretamente afetadas pelas decisões do Banco Central (BC), que contraíram o consumo no País. “Os mecanismos de transmissão de política monetária atuaram sobre a demanda doméstica, no caso o consumo das famílias, os investimentos, e, consequentemente, afetou setores cujas atividades dependem em grande medida dessa demanda. Isso já era esperado”, reforça.
Além da produção industrial, a pesquisa mostrou que o emprego diminuiu pela terceira vez seguida. O indicador de evolução dos números de empregados diminuiu 2 pontos quando comparado com o mês anterior e registrou 47,9 pontos ante 49,9 em agosto. Em relação a setembro de 2022 (51,8), a redução foi 3,9 pontos, a maior para o mês em seis anos.
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Insatisfação do setor
Ainda segundo a pesquisa, os empresários demonstraram insatisfação com as atuais margens de lucro de seus negócios pela quarta medição seguida. Neste quesito, a Sondagem Industrial registrou leve alta e marcou 46,5 pontos, aumento de 0,5 ponto frente ao segundo semestre de 2023, mas queda de 4,8 pontos em relação ao mesmo período de 2022 (51,3 pontos).
Daniela Muniz aponta que o enfraquecimento da demanda cria um obstáculo para o empresariado colocar a margem de lucro que considere mais adequada. “O empresário fica com dificuldade para reajustar preços, justamente porque a demanda está mais enfraquecida e a atividade econômica também está desacelerando”, comenta.
Inclusive, a “demanda interna insuficiente” cresceu 5,8 pontos percentuais e voltou ao topo da tabela dos problemas enfrentados pelas indústrias, citada por 39,1% dos entrevistados na pesquisa. Ultrapassou a “elevada carga tributária”, citada por 31,4% dos participantes.
As dificuldades de acesso ao crédito é outro descontentamento por parte do setor. O índice de setembro de 43,8 pontos registrou baixa de 3,8 pontos frente ao mesmo trimestre de 2022 (47,6 pontos). Segundo a economista da Fiemg, essa é uma questão diretamente atingida pela alta taxa de juros, que prejudica as condições desse acesso.
Outro fator de insatisfação dos empresários é o acúmulo indesejado de estoques. Em setembro, os acúmulos de produtos finais voltaram a ficar acima do planejado pelas indústrias e o índice registrou 52,5 pontos. É o maior acúmulo de estoques observado desde junho de 2019, em linha com o desaquecimento da economia nos últimos meses.
Expectativas da indústria, incluindo produção, segundo Fiemg
O índice de expectativa de demanda marcou 53,7 pontos em outubro, registrando queda de 1,9 pontos ante setembro (55,6 pontos). Porém, o resultado sinalizou perspectiva de crescimento da demanda nos próximos seis meses pela 40ª vez seguida, ao ficar acima dos 50 pontos – fronteira entre recuo e expansão. Em relação a outubro de 2022 (56,8 pontos), o indicador caiu 3,1 pontos, sendo o menor para o mês em cinco anos.
Já o indicador de intenção de investimento registrou 57 pontos em outubro, queda de 2,4 pontos em relação ao mês anterior (59,4 pontos). Em relação a outubro de 2022 (61,3 pontos), o indicador registrou retração ainda maior, de 4,3 pontos.
Daniela Muniz afirma que o cenário externo continua conturbado, sobretudo com a economia chinesa desacelerada e a política monetária restritiva nos Estados Unidos. O conflito entre Israel e Hamas, em Gaza, ainda não afeta a economia mundial, como a guerra na Ucrânia, mas pode acontecer caso atinja outros países, como Irã e Egito.
Por fim, a economista comenta que mesmo novas quedas nos juros, previstas nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), ainda não serão suficientes para aquecer a economia. “A taxa permanece em níveis elevados, então vai demorar um pouquinho para reduzir em um nível significativo que chegue a sair desse nível restritivo. Por um bom tempo ainda as taxas vão continuar elevadas, mesmo com essas reduções, e vão estar atuando no sentido de diminuir a atividade econômica”, finaliza.
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