Produção industrial do Estado cai 2,6% em julho e reflete cenário de incertezas

A produção da indústria de Minas Gerais teve um recuo de 2,6% em julho. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O analista do IBGE em Minas, Bernardo Almeida, explica que o cenário de incertezas vivido pelo empresariado resultou em uma retração na produção industrial. “No primeiro momento, o parque fabril foi impactado com a chegada da pandemia. Investidores com o cenário nebuloso para o futuro. Um período de paralisação das máquinas. Com a Covid-19, veio o desemprego, menos contratações, que impactou diretamente na cadeia produtiva”, explica.
Almeida avalia que outras questões também influenciaram na diminuição do ritmo da cadeia produtiva, como a política, a crise econômica, a crise hídrica e a falta de insumos. No que se refere à produção nacional, a queda foi de 1,3%, de acordo com a pesquisa mensal do IBGE.
Um fator que acabou afetando a produção industrial no Estado é o alto preço do minério de ferro, que vem atingindo patamares recorde neste ano. A cotação elevada vem onerando alguns setores que usam a commodity ou o aço como insumo.
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O analista do IBGE explica que o ritmo de extração do minério de ferro apresentou retração em julho na comparação com o mês imediatamente anterior. Além disso, outros setores também contribuíram para a queda na produção, como os de bebidas e os de produção de veículos, por conta da falta de insumos. “Além desses, aparecem outros esporádicos como a de produtos químicos, como fertilizantes e tintas”, pontua.
Almeida esclarece que o desemprego, a inflação, a crise política no País e a retração do poder de compra do consumidor, são alguns dos motivadores para a queda na produção industrial. “A queda na renda, o alto desemprego, a postura do governo federal diante dessa crise política e a não injeção de investimentos no País, acaba diminuindo a produção industrial”.
Crescimento
Em relação a julho de 2020, cujo crescimento nacional foi de 1,2%, Minas Gerais apresentou um aumento de produção de 8,6%. “Isso mostra que a indústria recuperou gradativamente a produção com o avanço da vacinação e a flexibilização da circulação das pessoas. Vale citar que julho de 2021 teve um dia útil a menos (22 dias) do que igual mês do ano anterior (23), o que também afeta no resultado final da produção”, reforça Almeida.
Bernardo Almeida ressalta, ainda que, nesse mês, os resultados positivos elevados na comparação com julho de 2020 são influenciados, em grande parte, pela baixa base de comparação. “No mesmo mês do ano passado, o setor industrial ainda se encontrava pressionado pelas paralisações ocorridas em diversas plantas industriais, mas já ensaiava o início da retomada de produção, devido à flexibilização de medidas de isolamento social”, finaliza.
O IBGE não faz projeções para o futuro, porém, Bernardo Almeida acredita que, para os próximos meses, a tendência é de que a produção industrial terá um ritmo cauteloso até que haja uma estabilidade política e econômica no País.
Desempenho nacional ficou aquém do esperado
Rio – A indústria brasileira registrou em julho queda bem mais forte do que a esperada, pressionada pelo desempenho da fabricação de alimentos e bebidas, iniciando o terceiro trimestre mais de 2% abaixo do nível pré-pandemia.
Em julho, a produção industrial registrou retração de 1,3% na comparação com o mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem, pior resultado para o mês desde 2015.
O resultado foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 0,5%, depois de queda de 0,2% em junho em dado revisado após estagnação informada antes. Assim, a indústria acumula queda de 1,5% em dois meses, após alta de 1,2% em maio.
Além disso, as perdas de julho levaram a produção industrial a ficar 2,1% abaixo do patamar anterior à pandemia, de fevereiro de 2020. O setor chegou a estar em janeiro 3,5% acima do nível visto naquele momento, segundo o IBGE.
Em relação a julho de 2020, a produção nacional avançou 1,2%, contra expectativa de ganho de 1,8%%.
O setor industrial ainda busca se recuperar da crise da Covid-19, tendo enfrentado neste ano o recrudescimento da pandemia, com isolamento social, em cenário de desemprego e inflação altos.
“O cenário tem como pano de fundo a pandemia e seus efeitos. No início do ano, houve recrudescimento da pandemia. Com vacina e flexibilização, ainda assim teve desarranjo da cadeia produtiva com falta de insumos, encarecimento de produtos”, explicou o gerente da pesquisa, André Macedo.
“Claramente 2021 é um ano negativo”, completou.
Segundo os dados de julho, uma das principais influências negativas entre os ramos pesquisados foi a queda de 10,2% na produção do setor de bebidas, depois de três altas mensais seguidas. Também pressionou com força a fabricação de produtos alimentícios, com queda de 1,8%, a segunda seguida.
Os números são resultado, segundo Macedo, da dificuldade das pessoas em conseguir trabalho, bem como da elevada inflação que diminui a renda das famílias e o consumo.
“O mercado de trabalho ainda tem muita gente fora, a massa salarial não avança e é uma precarização do salário e do emprego. Isso sem falar na inflação mais alta e nos juros também, que atrapalham as pessoas consumirem”, disse ele.
Entre as grandes categorias econômicas, a produção de bens de consumo duráveis despencou 2,7% – sétimo mês seguido de perdas, enquanto a de bens intermediários caiu 0,6%.
Na outra ponta, os bens de capital, uma medida de investimento, aumentaram 0,3%, enquanto os de consumo semiduráveis e não duráveis subiram 0,2%. (Reuters)
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