Produção industrial em Minas tem alta, porém estoques continuam elevados

A produção industrial em Minas Gerais voltou a crescer em março, de acordo com o estudo Sondagem Industrial, divulgado ontem pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Porém, os estoques estão elevados pelo quinto mês consecutivo, após 18 meses abaixo desse patamar.
Pelo menos dois fatores concorrem para este quadro, a começar pelo fato de que março tem mais dias do que fevereiro e, este ano, sequer teve carnaval, o que representa mais dias de produção.
“Esse aumento também indica que os empresários avaliaram mal a demanda nesse momento de recuperação da economia no pós-pandemia, ao não contabilizar os efeitos da inflação, da queda de renda das famílias e, consequentemente, da redução do consumo”, observa a analista de estudos econômicos da Fiemg, Daniela Muniz.
De acordo com a Fiemg, o índice de evolução da produção aumentou 6,7 pontos ante fevereiro (50,7 pontos) e atingiu 57,4 pontos em março. Com esse resultado, o indicador marcou elevação da produção pelo segundo mês consecutivo, ao permanecer acima dos 50 pontos – fronteira entre queda e crescimento. O índice foi 9,6 pontos superior a sua média histórica (47,8 pontos) e avançou 4,9 pontos na comparação com março de 2021 (52,5 pontos).
Já o indicador de estoques de produtos finais fechou março com 50,2 pontos. Primeira vez que o resultado fica acima de 50 pontos em quatro meses.
Segundo a analista, nenhuma empresa vai querer manter estoques acima da demanda, mas o industrial nem sempre consegue controlar fatores de incerteza. “A utilização da capacidade instalada, por exemplo, melhorou mas continua abaixo do habitual para o mês, o que sinaliza, por exemplo, que ainda há dificuldade para aquisição de insumos e matérias primas”, observa.
Aliás, este continua sendo o maior problema apontado pelos industriais mineiros, seguido pela elevada carga tributária e a demanda interna insuficiente. No entanto, as expectativas com relação à demanda, à compra de matérias-primas e ao emprego nos próximos seis meses foram positivas pela 22ª vez consecutiva.
A indústria gerou mais empregos pelo segundo mês seguido, o que pode ser atribuído à recomposição do quadro de funcionários por muitas empresas que tiveram que demitir nos últimos dois anos, já que a taxa de desemprego continua alta. “Nossa economia está se recuperando da crise sanitária e ainda está muito fragilizada”, destaca a analista da Fiemg.
Os indicadores financeiros recuaram, sinal de que os industriais estão insatisfeitos com sua margem de lucro, após três trimestres mostrando satisfação. “A mesma coisa acontece com a avaliação da situação financeira das empresas e na satisfação com o crédito; este último, mesmo com uma pequena melhora, indica que os industriais seguem com dificuldades para acessar o mercado de crédito”, analisa Daniela Muniz.
Investimentos
As intenções de investimento aumentaram discretamente; mesmo sendo as mais elevadas para o mês desde o início da série histórica, mostram que os empresários estão cautelosos diante de fatores de incerteza como a guerra no Leste europeu e as eleições deste ano. “A falta de previsibilidade tende a inibir investimentos”, conclui a analista.
O levantamento Sondagem Industrial ouviu 58 grandes empresas, 49 médias e 62 pequenas empresas. Ele mostra mensalmente a evolução da produção e do número de empregados, a utilização da capacidade instalada, os estoques e as expectativas das indústrias quanto à demanda por seus produtos, compras de matérias primas e número de empregados.
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