Produção industrial de Minas Gerais atinge menor nível para março em cinco anos

A produção da indústria de Minas Gerais voltou a recuar em março, conforme mostra a Sondagem Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A retração na atividade industrial foi observada pela 5ª vez consecutiva e atingiu o menor nível para o mês em cinco anos, mostrando uma tendência de desaceleração da atividade no ano. A elevada carga tributária e a falta ou o alto custo da mão de obra qualificada são as maiores dificuldades enfrentadas pela indústria mineira.
De acordo com a economista da Fiemg Daniela Muniz o baixo desempenho do mês de março foi influenciado pelo feriado de Carnaval. “Além de março ser um período mais fraco para a indústria, quando você compara os meses de março dos últimos anos, o deste ano ficou mais prejudicado. Nos anos anteriores, o Carnaval foi em fevereiro. Feriados prolongados assim acabam reduzindo a produção nas empresas”, avalia.
Segundo a sondagem, no terceiro mês do ano, o índice de evolução da produção industrial mostrou estabilidade se comparado a fevereiro (48,9 pontos). Comparado com o índice apurado em março de 2024 (51,9 pontos), houve uma retração de 3 pontos.
O número de postos em trabalhos formais também caiu e a utilização da capacidade instalada ficou abaixo da média habitual. O indicador de evolução do número de empregados registrou 47,6 pontos em março. Ante o índice de fevereiro (48,3 pontos), houve uma redução de 0,7 ponto, e, na comparação com março de 2024 (51,6 pontos), a queda foi de 4 pontos.
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Apesar do cenário de retração da atividade industrial em Minas Gerais, os estoques de produtos finais diminuíram e seguiram abaixo do nível planejado pelas empresas pelo segundo mês seguido. Conforme Daniela Muniz, avaliar os estoques é importante porque as empresas têm um custo para mantê-los. “Eles também funcionam como indicadores de produção futura. Quando as empresas acumulam estoque, tendem a limitar a produção nos próximos meses. Não foi o que aconteceu neste mês, pelo contrário o resultado ficou até abaixo do esperado”, pondera.
Insatisfação com condições financeiras aumenta
No primeiro trimestre de 2025, a insatisfação com as condições financeiras também aumentou em Minas: empresários relataram margens de lucro comprimidas e dificuldades de acesso ao crédito. O índice de avaliação da situação financeira, que havia se mantido acima da linha dos 50 pontos nos últimos trimestres, voltou a indicar insatisfação. “Os empresários mineiros mostraram-se insatisfeitos com as margens de lucro pelo décimo trimestre seguido (42,9), e também insatisfeitos com o acesso ao crédito (43,3)”, afirma a economista da Fiemg.
Nos três primeiros meses do ano, o índice de satisfação com a situação financeira registrou 48,6 pontos e sinalizou, após três trimestres acima dos 50 pontos, que os empresários da indústria mineira estão insatisfeitos com a situação financeira de seus negócios. O indicador caiu 3,4 pontos em relação ao quarto trimestre de 2024 (52 pontos) e 0,7 ponto frente ao primeiro trimestre de 2024 (49,3 pontos).
Impostos e mão de obra seguem como principais problemas na atividade industrial em Minas
No que se refere às principais dificuldades enfrentadas pela indústria de Minas Gerais no período, a elevada carga tributária liderou o ranking, chegando a atingir 32,6% das reclamações, seguida pela falta ou alto custo de trabalhador qualificado (31,3%) e pela demanda interna insuficiente (29,2%).
“A alta carga tributária é um problema antigo na indústria, que oscila mas acaba voltando aos primeiro lugares da lista de reclamações”, pontua Daniela Muniz. Segundo ela, as questões relacionadas com a qualificação do trabalhador têm ocupado os primeiros lugares desde o quarto trimestre de 2022. “Há uma limitação persistente nesse quesito e já é uma preocupação para o desempenho do setor, a questão da falta ou alto custo da mão de obra qualificada”.
Os índices de expectativa para o número de empregados marcou 50,6 pontos no mês de março. Porém, apesar de positivo, se comparado com as expectativas de abril de outros anos, ela mostra o menor patamar em cinco anos. O que para Daniela Muniz é uma mostra clara da diminuição do otimismo dos empresários em relação aos anos anteriores.
Tendência para a indústria é de ano desacelerado
A moderação do otimismo observada pela Sondagem Industrial da Fiemg, de acordo com a economista, está ligada aos desafios do governo em controlar a inflação, à política monetária que vive um ciclo de alta de juros, aos gastos públicos elevados e à incerteza com relação à dissonância entre política monetária e fiscal. “Isso levanta uma preocupação com a sustentabilidade fiscal”, diz pontuando ainda a questão da política comercial do governo Trump. “Ainda há uma falta de clareza sobre o que esperar, deixando o contexto global mais incerto”, avalia.
Apesar de todas dificuldades, as expectativas para os próximos meses ainda são positivas, mas em níveis historicamente baixos. O índice de expectativa de intenção de investimento recuou 0,8 pontos em relação a março do ano passado, embora continue acima da média histórica de 52,5 pontos ao marcar 58,2 pontos.
“O empresário ainda enxerga o mercado aquecido, apesar da moderação do otimismo. Tivemos uma valorização recente do câmbio, uma safra de grãos robusta e o governo tem estimulado a economia para minimizar os impactos da desaceleração como liberação de recursos, Fundo de Garantia e crédito consignado”, comenta Daniela Muniz.
Os índices de expectativa de demanda e aquisição de matérias-primas também seguem acima dos 50 pontos, mas marcaram os menores patamares para o mês de abril nos últimos cinco anos.
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