Produção industrial mineira cresce em agosto, mas diminui em relação a 2022

A produção industrial no Estado cresceu no mês de agosto e registrou 52,3 pontos na pesquisa Sondagem Industrial, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). É a primeira vez que o índice fica acima dos 50 pontos – ou seja, registra aumento da produção – em três meses. Apesar disso, é o número mais baixo para o mês nos últimos quatro anos. Em 2022, o índice de evolução da produção registrou 53,6 pontos.
Para a economista da Fiemg, Daniela Muniz, ainda não dá para mensurar se o aumento da produção foi pelo maior número de dias úteis em agosto ou pela entrada do segundo semestre, tradicionalmente mais aquecido que o primeiro. “No segundo semestre nós costumamos ter um aumento da produção. As empresas começam a contratar, por conta da Black Friday, das festas de final de ano, mas só vamos saber se realmente é um aquecimento para o segundo semestre agora a partir dos próximos meses”, comenta.
A economista explica que a produção de agosto ser a menor para o mês nos últimos anos é um reflexo da alta taxa de juros estabelecidas pelo Banco Central. Apesar do BC ter começado um ciclo de cortes, o impacto das alterações na economia é refletido apenas após algum tempo. “Nós temos um descasamento do prazo do aumento da taxa de juros e o tempo que ela chega na economia. O Banco Central teve que aumentar a taxa de juros ao longo de um certo período para desacelerar a economia e conter a inflação, só que isso demora um pouco para atuar na economia. E estamos vendo que agora está atuando com essa desaceleração que temos visto na atividade”, disse.
Além disso, a pesquisa mostra que o indicador de estoques de produtos finais recuou em agosto (49,1) e ficou próximo do planejado pela indústria, após cinco meses de estoques indesejados. A representante da Fiemg explica que, desde 2021, a indústria aponta problemas de estoque excessivo, resultado de uma demanda enfraquecida pela política monetária restritiva para conter a inflação.
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“O mecanismo de transmissão da política monetária atuou sobre a demanda doméstica e consequentemente sobre setores que dependem dessa demanda. Após muitos meses acima do planejado, os estoques ficaram ajustados, ou seja, mostra que a demanda foi de acordo com o esperado. Vamos ver no próximo mês se vai continuar como uma tendência ou se foi apenas um movimento pontual”, afirma.
A pesquisa da Fiemg captou que os industriais mineiros continuam otimistas com a economia do País, mas mais moderados nessa confiança. O índice de expectativa de demanda de setembro, de 55,6, é 2,3 pontos menor do que o mesmo mês do ano passado. Os indicadores de expectativa de compra de matéria-prima (53,9), de número de empregos (51,9) e intenção de investimento (59,4) são, respectivamente, os mais baixos para o mês em seis, quatro e três anos.
A economista explica que fatores externos e internos contribuíram para essa moderação do otimismo. No mundo, ela aponta a desaceleração da economia chinesa e a manutenção da política monetária nos Estados Unidos. No Brasil, ela destaca a inflação acima da meta e o conflito entre uma política fiscal expansionista com uma política monetária restritiva, que deve dificultar uma redução mais intensa da taxa de juros.
“As expectativas positivas foram influenciadas pela resistência do mercado de trabalho, medidas de transferência de renda promovidas pelo governo, alívio recente da inflação e início da redução dos juros. Mas há muitos desafios pela frente e com isso os empresários ficam cautelosos. Isso impede que os índices de expectativas se alterem muito”, disse.
Daniela Muniz expressa que a incerteza com o equilíbrio das contas públicas brasileiras ainda é um fator de relativa intranquilidade para o empresariado. Mesmo que medidas como o arcabouço fiscal e a reforma tributária tenham avançado no Congresso Nacional, não há muita clareza sobre como serão finalizadas e quais seus impactos.
“Essas medidas dão um pouco mais de tranquilidade. Nós vemos que os empresários têm continuado otimistas, mas ao mesmo tempo tem vários fatores que ainda estão um pouco nublados. Nós temos dúvidas como vai acontecer, não está muito definido. Até que o empresário tenha um terreno mais firme para poder pisar, ele vai continuar cauteloso. A tendência é que esse otimismo não deslanche por enquanto”, finalizou.
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