Economia

Produção volta a crescer, mas com baixo dinamismo

Para analista do IBGE, cenário atual é desafiador para o setor industrial
Produção volta a crescer, mas com baixo dinamismo
Produção industrial no País cresceu 0,4% em agosto na comparação com mês anterior | Crédito: REUTERS/Carla Carniel

São Paulo/Rio de Janeiro – A produção da indústria do Brasil voltou a crescer em agosto mas sem conseguir recuperar totalmente as perdas do mês anterior, sufocada pelo aperto de crédito e mantendo o baixo dinamismo. Em agosto, a produção industrial cresceu 0,4% na comparação com o mês anterior, resultado que eliminou apenas parte da queda de 0,6% de julho e ficou ligeiramente abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,5%.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ainda que, na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve expansão de 0,5% ante projeção de crescimento de 0,8%. Em agosto, a produção industrial ficou 1,8% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e está 18,3% menor que o ponto mais elevado da série histórica, de maio de 2011.

Sem conseguir dar sinais de retomada em meio a um cenário desafiador tanto interna quanto externamente, analistas avaliam que o setor industrial brasileiro deve seguir em ritmo fraco até o final do ano. De acordo com André Macedo, analista da pesquisa no IBGE, o setor industrial permanece operando em um quadro de “perde e ganha”, girando em torno do mesmo patamar.

“Nossa impressão é que o setor industrial vem no mesmo patamar nos últimos meses, não mudou muita coisa. Estamos só 0,1% acima de dezembro do ano passado”, disse. “O setor industrial está muito longe de indicar uma trajetória ascendente”, completou Macedo.

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Isso seria reflexo do impacto defasado da política monetária restritiva por longo período e da desaceleração da economia global, com destaque para a China. Os juros altos afetam especialmente os setores relacionados a bens.

“Juros altos e alto comprometimento de renda das famílias são ruins para consumo de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito. De outro lado, o governo tem promovido políticas de estímulos à atividade econômica, que podem incentivar a indústria”, disse em nota a equipe do PicPay.

O BC já deu início a um ciclo de afrouxamento monetário com dois cortes de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros Selic, que agora está em 12,75%. “Porém, ainda temos um patamar elevado dos juros, o que afeta as decisões de consumo e também de investimentos”, explicou Macedo.

Setores

No mês de agosto, as principais influências positivas entre as atividades vieram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (18,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (5,2%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (16,6%).

Por outro lado, o principal impacto negativo foi exercido pelo setor de indústrias extrativas, com queda de 2,7%, ampliando a retração registrada no mês anterior de 1,6%.

Entre as categorias econômicas, bens de consumo duráveis e bens de capital registraram as maiores taxas de crescimento, de 8,0% e 4,3% respectivamente.

O setor de bens de consumo semi e não duráveis também mostrou expansão, de 1,0%, enquanto os bens intermediários recuaram 0,3% em agosto.

Segmento industrial terá apoio de R$ 1,5 bilhão

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse ontem que o governo vai ampliar um programa de apoio à produtividade de micro, pequenas e médias indústrias, que poderão ter acesso a linhas de financiamento com juros de até 4%. Os recursos virão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Finep, agência ligada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (Mdic).

Com isso, as duas entidades passam a integrar o Brasil Mais Produtivo, programa criado em 2016 com o objetivo de melhorar a competitividade e fomentar o acesso a novas tecnologias. “O programa fará um trabalho customizado, empresa por empresa, fazendo uma consultoria, identificando o problema e propondo soluções. Havendo necessidade de máquinas e equipamentos, o BNDES e Finep financiam com juros de até 4%, que é a TR [taxa referencial] –juro menor que existe”, disse Alckmin.

O anúncio foi feito durante o 15º Congresso da Micro, Pequena e Média Indústria, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista.

Em julho deste ano, o governo havia anunciado R$ 1,5 bilhão para intensificar as atividades do programa. A novidade agora é a entrada do BNDES e da Finep como instituições financiadoras, além da meta de aumentar o número de empresas atendidas para mais de 90 mil.

“Podemos dar um salto importante através do Brasil Mais Produtivo, com recursos expressivos e trabalho focado, empresa por empresa, no sentido de que ela possa ter melhor produtividade”, afirmou Alckmin.

Durante o evento, o vice-presidente destacou que a chamada neoindustrialização do Brasil é uma das prioridades da terceira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lembrou que governo também lançou um programa de inovação, com apoio de R$ 60 bilhões previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Dividindo o palco com representantes do setor e discursando para uma plateia formada em sua maioria por empresários, Alckmin disse que a indústria é tributada em excesso no Brasil.

“A indústria está supertributada. A Reforma Tributária vai impulsionar a atividade industrial, vai desonerar completamente o investimento e desonerar completamente a exportação”, afirmou.

Segundo ele, a proposta – que ainda está em tramitação no Congresso – vai acabar com a cumulatividade de crédito e reduzir o chamado custo Brasil ao substituir cinco impostos sobre consumo por um único IVA (Imposto sobre Valor Agregado).

Vice-presidente disse que recursos virão do BNDES e Finep | Crédito: Adriano Machado/REUTERS

Durante o evento, Alckmin citou indicadores econômicos que considera positivos e disse que, embora o cenário internacional não esteja tão favorável, o país está diante de boas oportunidades. O vice-presidente afirmou que o Brasil é hoje o segundo país que mais recebe investimento externo direto, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo ele, isso ocorre devido a uma mudança na dinâmica de produção global que, além de preço e qualidade, passou a valorizar também a sustentabilidade –o que é considerado um diferencial brasileiro.

No fim de seu discurso, Alckmin ainda falou sobre os acordos internacionais, dizendo que acelerar as possibilidades de tratados é uma das prioridades do governo Lula. “Quando você não faz um acordo, você não fica parado, fica para trás, porque o outro país fez e vai ter uma preferência sobre você”, afirmou.

“Nós perdemos comércio com os vizinhos, que é para onde vendemos valor agregado, para onde vendemos caminhão, geladeira, produto industrial”, acrescentou o vice-presidente. (Thiago Bethônico/Folhapress)

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