Progresso do Vale do Jequitinhonha passa por políticas efetivas

A exploração do lítio tem gerado impactos tanto positivos, como geração de emprego e renda, quanto negativos, como pressão sobre os sistemas de saúde e educação, para o Vale do Jequitinhonha. Logo, o resultado final dessa equação passa diretamente pela capacidade de o Estado atuar e adotar políticas públicas que corrijam os problemas e aproveitem o impulso da atividade para, de fato, estimular o desenvolvimento da região.
É o que diz o professor Alexandre Queiroz Guimarães, um dos autores da nota técnica “A exploração do lítio e as possibilidades para o desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha”. Elaborado pela Fundação João Pinheiro (FJP), o documento aponta os efeitos da mineração e as políticas que devem ser priorizadas para que a região efetivamente se beneficie.
Coordenador do Núcleo de Estudos e Análises de Desenvolvimento Econômico e Regional (Neader/FJP), o docente ressalta que o estudo visa refletir sobre o que está acontecendo no Vale do Jequitinhonha a partir da exploração do lítio. E indicar direções para a criação de medidas que respondam os desafios e contribuam para transformar, aos poucos, a região.

“A região não vai se desenvolver naturalmente só por causa do lítio. Se o governo tiver vontade e capacidade de juntar as oportunidades com ações ambiciosas, ele pode trazer efeitos importantes que vão ser bons para o próprio governo, pois todo governo quer entregar políticas que funcionem, e para a região, que precisa dessas políticas”, destaca.
“Sem as políticas, a região tende a ir perdendo população para outras regiões, ficando sem pujança econômica. O lítio oferece oportunidades, mas que precisam ser bem amarradas com outras ações. É isso que o nosso estudo mostra e de forma bastante rica”, reitera.
Estudo propõe eixos estratégicos de atuação
A nota técnica propõe cinco eixos estratégicos principais de atuação pública. São eles: capacitação de mão de obra e conhecimento; políticas de atração de investimentos visando a diversificação produtiva; gestão da água e segurança hídrica; apoio a outras atividades em que a região apresenta vantagens comparativas; e capacidade estatal, governança territorial e infraestrutura social. O documento indica direções que podem ser seguidas em cada um.
“O governo conseguiu atrair investimentos para o Vale do Jequitinhonha e fala muito em ‘Vale do Lítio’, mas é importante que o governo tenha mais políticas. O governo está pensando nisso, no entanto, ainda não vi essas políticas em ação”, afirma Guimarães.
O professor destaca que o governo precisa ser mais incisivo, porque o Vale do Jequitinhonha precisa de projetos concretos. Ele pontua que a região sofre, por exemplo, com falta de infraestrutura e saneamento, tem problemas relacionados à educação e enfrenta dificuldades relativas ao sistema de saúde, uma vez que a mineração ampliou o fluxo de pessoas nos municípios e, consequentemente, aumentou a demanda dos hospitais.
Nota reprova expressão “Vale do Lítio”
Outro ponto que o documento sugere é que o governo faça a distinção entre o Projeto Vale do Lítio e o desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha. O estudo concluiu que a expressão “Vale do Lítio”, evoca as características de uma atividade que, apesar de importante e potencial geradora de riqueza, modifica a paisagem e a transforma em grandes crateras rodeadas de poeira, uma má estratégia em termos simbólicos e de marketing.
Guimarães enfatiza que o Vale do Jequitinhonha é muito mais do que apenas o local onde se explora lítio. Ele sublinha que a riqueza cultural da região é extremamente rica e que, se bem explorada, pode, inclusive, ajudar no processo de desenvolvimento.
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