Projeções para a balança são negativas

O saldo da balança comercial brasileira e, consequentemente, da mineira, vem caindo desde o início do ano. Mas isso não se deve necessariamente à queda do dólar ou dos preços das commodities. As negociações são feitas com antecedência, preservando o valor e, pelo menos este ano, o preço dos principais itens de exportação se manteve.
O que se vê no mercado internacional, na verdade, é uma redução na quantidade das encomendas – o mundo está comprando menos, o que é especialmente grave numa pauta de produtos primários, na qual a quantidade é que define o valor da receita.
O Brasil teve um superávit comercial no ano passado de US$ 61 bilhões, mais de 20% superior ao de 2020. A perspectiva dos exportadores é que este saldo caia para US$ 54 bilhões este ano.
“As importações estão crescendo percentualmente, mas a base de cálculo das exportações é maior. Então elas mostram um crescimento real, mas provocado pelo preço e não pela quantidade”, explica o presidente da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), José Augusto Castro.
Isso se aplica em especial aos três produtos que mais pesam na balança comercial: minério de ferro, soja e petróleo. A soja continua em alta (30% acima do ano passado), o petróleo sobe e desce ao sabor da conjuntura mundial, bem como o minério de ferro. “Está (minério de ferro) a US$ 78 a tonelada, mas já esteve a US$ 96 no ano passado e a US$ 120 este ano”, informa Castro, ressalvando que isso significa menos receita para Minas Gerais, que responde por 43% das exportações de minério de ferro do País.
No acumulado do ano até julho, os embarques de minério de ferro do Estado movimentaram US$ 7,7 bilhões, queda de 33% na comparação com o mesmo intervalo de 2021, quando a receita atingiu US$ 11,4 bilhões.
Saldo em queda
As exportações de Minas Gerais, entre janeiro e julho deste ano, movimentaram US$ 23,8 bilhões, 4,6% a mais do que em 2021. Por outro lado, na mesma base de comparação, as importações cresceram 48,3% e chegaram a US$ 10,05 bilhões. Com isso, o superávit da balança mineira atingiu US$ 13,81 bilhões, montante 15,85% inferior ao do ano passado (US$16 bilhões).
Neste contexto, de redução do saldo da balança comercial, a valorização do real e a consequente queda do dólar é um fator a se considerar, já que, se está mais barato, é melhor comprar fora do que produzir internamente. Mas não é um fator preponderante, já que as negociações são feitas com antecedência e por períodos maiores, destaca a analista econômica da Fiemg, Verônica Winter.
“Na verdade, há uma tendência de queda no saldo da balança comercial provocada pela redução da demanda internacional, em especial por parte da China, nosso maior parceiro. O desequilíbrio entre a oferta e a demanda já vem da pandemia e foi agravada pela guerra na Ucrânia e o consequente aumento da inflação mundial. Os produtos vão ficando mais escassos e os compradores procuram substitutos ou outros mercados”, avalia a analista.
O resultado é que, com o preço nas alturas, o mundo está comprando menos quantidade. “Este impacto para o Brasil é mais relevante porque a pauta de exportações inclui produtos em que o peso é importante, já que as commodities têm baixo valor agregado”, completa.
Para José Augusto Castro, da AEB, é difícil avaliar se estes saldos comerciais continuarão diminuindo. “Cada dia surge um fato novo, mas a tendência é que no ano que vem a gente tenha preços mais baratos do que os que estão sendo praticados. Os preços da commodities vão se acomodando, com pequenas quedas e aumentos, mas sem explosões de preço”, espera.
Quanto ao dólar, ele observa que, há dois anos, o preço estava muito baixo. E que de lá para cá, vem oscilando muito, flutuando numa faixa grande, de 10 a 20%, entre R$ 4,70 e R$ 5,70. “Está reduzindo agora, a R$ 5, mas nada garante que amanhã não vá subir”, diz Castro.
Justamente por causa dessa oscilação, o dólar não influi na balança comercial, sustenta o exportador. “São ‘n’ fatores que fazem o dólar subir. Essa oscilação é tão grande que o mercado se protege, em especial através de hedge”, revela.
O professor do Departamento de Economia da PUC, Flavius Marcus Lana de Vasconcelos, reforça o fato de que a cotação do dólar está na média dos últimos anos, nem tão valorizada ou desvalorizada. Ele acredita em um movimento de queda das commodities, mas que não é permanente, já que os preços flutuam muito no mercado internacional.
“O problema é que o País está reprimarizando sua pauta de exportações. Deixamos de exportar bens industrializados, em favor das commodities, que se tornaram o carro-chefe das nossas exportações. Esse tipo de trajetória nos condena ao subdesenvolvimento, já que são bens primários e que geram salários médios mais baixos do que os dos países com produção de bens com alto conteúdo tecnológico e maior valor adicionado”, lamenta o professor.
Se essa pauta comercial de produtos primários se manter, Vasconcelos vê dois cenários. “Se houver altas contínuas nos preços das commodities, o que ninguém consegue prever, o país pode recuperar parte do saldo da balança comercial. Mas se a guerra sair das manchetes e não criar grandes movimentos especulativos, a tendência é que o declínio nos preços das commodities continue. Aí seguramente os nossos superávits comerciais vão cair também”, finaliza.
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