Economia

Protesto em Betim expõe impasse entre Vibra e transportadoras de combustíveis de Minas

Sindtanque denuncia risco de quase mil demissões após distribuidora contratar empresas de fora; rumores apontam para boicote de prestadores locais
Atualizado em 6 de outubro de 2025 • 08:03
Protesto em Betim expõe impasse entre Vibra e transportadoras de combustíveis de Minas
Foto: Sinditanque-MG / Divulgação

O setor de combustíveis em Minas Gerais enfrenta uma crise que envolve sindicatos, transportadoras e uma das maiores distribuidoras do País. Desde a última quinta-feira (2) motoristas e trabalhadores ligados ao transporte de combustíveis protestam em frente à unidade da Vibra, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) contra a substituição de empresas mineiras por transportadoras de fora do Estado. O movimento já causa preocupação sobre o risco de desabastecimento e impactos econômicos na região.

Segundo o presidente do Sindicato dos Transportadores de Combustíveis e Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Sindtanque-MG), Irani Gomes, a decisão da Vibra descumpre um acordo firmado com cinco transportadoras locais que prestavam serviços para a distribuidora há mais de uma década, ainda no período em que a empresa operava como BR Distribuidora.

“Esse acordo foi feito de boa fé. As transportadoras aceitaram abrir mão de um gatilho de reajuste anual em troca da garantia de mais dois anos de contrato. Agora, a Vibra rompe isso unilateralmente, deixando quase mil trabalhadores em risco, entre motoristas, mecânicos, borracheiros e equipes administrativas”, afirmou.

Para Gomes, a decisão não tem apenas impacto trabalhista, mas ameaça toda a cadeia produtiva em Minas. “Estamos falando de borracharias, postos de combustível, oficinas, fornecedores de peças e serviços que dependem dessas transportadoras. Além disso, a Vibra substitui empresas que geram empregos e pagam impostos em Minas por outras que não têm garagens nem estruturas aqui. Qual é a responsabilidade social dessa decisão?”, questionou.

Sindicato reclama de falta de transparência

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Betim, Igarapé, São Joaquim de Bicas e Juatuba (Sinttrab), Marcelino Alexandre, afirmou que a medida não foi informada aos trabalhadores com antecedência.

“São cinco empresas afetadas e a Vibra sequer comunicou ao sindicato que entraria outra empresa no sistema. Aqui é de praxe procurar o sindicato da base para negociar, mas nada disso foi respeitado”, declarou.

Segundo ele, os trabalhadores foram pegos de surpresa, muitos com décadas de vínculo. “Tem gente com vinte, trinta, até trinta e cinco anos de casa. Esperamos uma decisão respeitosa da Vibra, porque até agora não houve respeito. Além disso, a empresa está descumprindo a lei do frete. O piso nacional hoje é em torno de R$ 13,3 mil, mas fecharam contrato por R$ 8,7 mil, o que já está fora da lei federal”, completou.

O sindicato informou que aguarda uma audiência de conciliação na Justiça do Trabalho, mas não descarta intensificar a mobilização. “Esse é o nosso protesto contra a Vibra, que sequer respeitou a entidade profissional. Estamos defendendo os trabalhadores, não os patrões. Se não houver uma solução, o movimento pode continuar, até porque já começa a faltar combustível, já que os caminhões não estão carregando”, afirmou o presidente.

Versão oficial da Vibra

Em nota, a Vibra informou que o processo de contratação foi “amplo, transparente e competitivo”, com a participação de 18 empresas convidadas, incluindo as que já prestavam serviço na base de Betim. A companhia sustenta que as transportadoras mineiras optaram por não apresentar propostas, caracterizando um “boicote explícito” e que a informação sobre a demissão de mil trabalhadores não procede. Segundo a empresa, cerca de 200 motoristas atuam na base e as novas empresas contratadas já abriram vagas locais.

A distribuidora também reforçou que não há descumprimento contratual, já que os prazos vigentes foram cumpridos. “Todos os contratos têm uma data de encerramento, e a Vibra tem liberdade de buscar as melhores condições de mercado para garantir eficiência, qualidade e segurança. As empresas locais foram convidadas a participar e deliberadamente não apresentaram propostas”, disse uma fonte a par da situação.

Nota

A Vibra concluiu recentemente um processo amplo, transparente e competitivo para a contratação de transportadoras responsáveis pela operação de transporte de cargas na Base de Betim (BABET), em Minas Gerais. Foram convidadas 18 empresas, incluindo aquelas que já prestavam serviços à companhia. No entanto, essas transportadoras locais optaram por não apresentar propostas, caracterizando um boicote explícito à concorrência.

Diferentemente do que tem sido divulgado, atualmente atuam na BABET cerca de 200 motoristas cadastrados. As transportadoras vencedoras estão com vagas abertas e já iniciaram o processo de cadastramento de profissionais, assegurando a continuidade da operação. Portanto, a informação de que mil trabalhadores poderão perder seus empregos não procede.

Ontem, representantes do SEST/SENAT estiveram na unidade para apresentar oportunidades aos motoristas, mas foram impedidos de dialogar pelos manifestantes. A Vibra entende que o movimento atual está sendo instrumentalizado com outros objetivos, em especial a tentativa de reserva de mercado por grupos que, mesmo convidados, não participaram do processo competitivo.

Importante destacar que o bloqueio da base não é uma prática inédita, mas sim uma tática recorrente utilizada para restringir o direito da companhia de buscar melhores opções de serviços no mercado. O Sindtanque/MG e seus representantes, Irani da Silva Gomes e Ailton da Silva Gomes, já foram condenados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) por práticas anticoncorrenciais, inclusive de forma reincidente – sendo a última decisão proferida em setembro de 2025 (Proc. Adm. 08700.000211/2015-51).

A Vibra está adotando todas as medidas necessárias para mitigar riscos e garantir o abastecimento, com mobilização de equipes de contingência. Há decisão liminar da Justiça de Minas Gerais determinando o livre acesso de pessoas e veículos à unidade e suas imediações. Reafirmamos nosso compromisso com a regularidade do abastecimento no estado, com a livre concorrência e com a segurança de todos os envolvidos. Seguimos articulados com as autoridades competentes para assegurar a continuidade dos serviços.

Pressão sindical acompanha mudança de comando em Betim

Nos bastidores, a reportagem do Diário do Comércio apurou que o movimento em Betim tem forte influência sindical. Há rumores de que há uma tentativa de coagir a companhia a manter contratos sem concorrência, em uma prática que já foi condenada pelo Cade em processos anteriores contra o Sindtanque.

A operação da empresa em Minas continuará no mesmo porte e com a mesma demanda. O que está mudando são os empresários responsáveis pelo serviço.

Impasse e próximos passos

Enquanto o Sinttrab mantém o protesto em frente à base de Betim, a Vibra aciona planos de contingência para abastecer clientes a partir de outras unidades. A empresa reconhece que pode haver atrasos pontuais, mas nega risco imediato de desabastecimento. Já as transportadoras locais avaliam recorrer à Justiça para reivindicar o cumprimento do acordo extraoficial firmado com a distribuidora.

O cenário ainda é de incerteza. Caso a mobilização se estenda e ganhe adesão de outras bases no interior de Minas, como Uberlândia, Montes Claros e Governador Valadares, há risco de paralisação mais ampla no transporte de combustíveis no Estado. Para o Sindtanque, a solução passa pela reabertura do diálogo com a Vibra. Já a empresa afirma que não voltará atrás no processo licitatório.

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