Qual será o futuro da inflação? Especialistas analisam a tendência do mercado

A economia é muito sensível às mudanças, e elas podem surpreender quando menos se espera. Após praticamente três meses consecutivos de deflação em grande parte dos produtos, segundo monitoramento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mês de outubro decepcionou quem ainda esperava que o processo de arrefecimento dos preços fosse continuar. A razão para o aumento do custo de vida decorreu de três grandes categorias produtivas: vestuário, saúde e alimentos.
O tão aguardado Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma variação positiva de 0,59% no último mês. O resultado foi além da expectativa do mercado, que aguardava, ao menos, uma variação positiva de 0,48%. Mas a alta foi superior ao previsto.
No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação chegou a 6,47% contra 7,17% registrados no mês anterior, ou seja, em setembro. Dos nove grupos que compõem a análise do IBGE, oito alcançaram alta em outubro.
Especialistas “rogam” por equilíbrio em plano de governo
Mas, diante de um novo governo que entrará em cena em pouco menos de dois meses, há alguma tendência de prolongamento na alta dos preços? A economista e docente da área de Gestão e Negócios do Centro Universitário Una Adriane Sacramento pontua que ainda é cedo para afirmar, mas que há uma expectativa do mercado para que a inflação se estabilize.
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“Precisamos conhecer a composição oficial da equipe econômica para compreendermos quais rumos serão esperados para a economia. Caso os preços dos combustíveis mantenham-se estáveis no patamar que se encontram atualmente, a expectativa é, de fato, redução da inflação. Essa é uma tendência, dado que governos com maior intervenção estatal caracterizam-se por adotar um controle sobre a política de preços da Petrobras”, destaca a especialista.
O desenho desse cenário ainda não é muito claro, segundo o economista Giovane Castro. Para o especialista, o presidente Lula ainda não deixou esclarecido como vai ser a sua política fiscal. “Isso está deixando o mercado muito ansioso, porque como que ele vai tratar o ajuste fiscal com o objetivo de reduzir o déficit público e, ao mesmo tempo, investir mais maciçamente nas políticas sociais? A política social é o grande norte dado por ele para a condução do seu governo, mas sem esse equilíbrio haverá um impacto de forma relevante nas políticas monetárias que o Banco Central atua. Precisamos que a taxa de juros sofra reduções para que a economia possa desenvolver e gerar mais empregos”, aponta.
Para Guilherme Ventura, economista e docente do UniAcademia, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, agora é possível ver as projeções para o final do ano. Segundo ele, o mercado acredita ainda que a inflação deve terminar, talvez, próxima de 6% na reta final de 2022.
“Essa projeção já seria uma grande redução em relação à inflação de 2021, que terminou em torno de 10%. Praticamente, a gente teria reduzido em quase 4p.p. a taxa de inflação acumulada no ano. Então, as perspectivas para o final do ano não são ainda de inflações extremamente elevadas, que leve à impressão de algum tipo de descontrole inflacionário, não”, avalia Guilherme Ventura.
Credibilidade da política econômica nacional é necessária
Adriane, por outro aspecto, observa que um ponto importante será a definição da política fiscal. Segundo ela, o cumprimento das promessas de campanha eleitoral e gastos públicos mais elevados podem provocar o aumento de preços.
“No entanto, a equipe de transição tem se mostrado muito preocupada em manter uma política sustentável. O mercado externo também é um fator sob análise. Mercados externos em crise com redução das exportações, sobretudo commodities, ainda que impactem negativamente na balança comercial podem também contribuir para a redução dos preços internos”, diz.
A docente analisa que, cumprindo-se a expectativa de redução de preços, é esperado que as taxas de juros sejam cortadas pelo Banco Central (BC). Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os juros foram mantidos. “A contar com essas projeções, é esperado taxas de juros menores para 2023”, acredita.
Ainda com relação às perspectivas futuras da taxa de juros, Guilherme Ventura entende que o mercado prevê um cenário de controle fiscal e de um governo responsável. Com base nessas ações, haverá, então, a possibilidade de que a taxa de juros comece a ser reduzida. “Essa redução ocorreria ao longo do primeiro semestre do ano de 2023. E essa trajetória de queda poderia seguir ainda para os anos de 2024 e 2025. Agora, naturalmente, isso vai depender realmente da credibilidade da política econômica no mercado”, aposta.
“De alguma forma, as condições macroeconômicas foram no sentido de um déficit muito persistente e uma política fiscal talvez não seja tão bem equacionada. O que a gente vai fazer é que a taxa de juros deve seguir nesse patamar de 13,75% ainda por um tempo maior, enquanto não ficar bem definida a estabilidade macroeconômica para o próximo governo”, conclui.
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