Quaresma acentua pressão para queda em preços da carne bovina no País

A suspensão temporária das exportações de carne bovina para a China redirecionou ao mercado interno boa parte do volume que seria destinado ao país asiático. Em consequência disso, assim como do início da Quaresma, houve redução de preços em todos os elos da cadeia da pecuária no País. Em Minas Gerais, quem tem costume de comprar carne tem sentido uma leve melhora no bolso nos últimos dias.
De acordo com a mais recente pesquisa realizada pelo site Mercado Mineiro com o aplicativo comOferta.com, os preços dos cortes bovinos, na Grande BH, por exemplo, já recuaram até 7%. O principal destaque foi para o corte da picanha, que apresentou uma variação negativa de 144%. A redução no corte nobre já havia sido verificada também pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O professor do departamento de Economia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Douglas Ferreira explica que essa queda é reflexo de fatores externos. “Um deles é a suspensão temporária da compra de carnes pela China e mais outros três países. Isso ocorreu em função de um caso do mal da Vaca Louca, ocorrido no Pará, em fevereiro deste ano”.
Segundo o docente, tal medida exerce influência direta no aumento da oferta do produto no mercado interno. Afinal, a exportação de carnes brasileiras para a China é um dos principais negócios do País. Em aspectos de comércio exterior, o mercado chinês é o maior parceiro do Brasil na compra de carnes.
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Caso a suspensão de compra da carne brasileira imposta pelos países, em especial a China, se mantenha, espera-se que a redução no preço do produto continue. O especialista da UFSJ acredita que a carne tende a custar menos nas próximas semanas, como reflexo do aumento da oferta no mercado interno.
“Esse fator se soma ainda à demanda interna que está menos aquecida pelo produto nos primeiros meses de 2023. Essa influência contribuiu para a redução dos preços finais para o consumidor”, sugere Douglas.
Ele ainda relembra que o IPCA havia registrado queda nos preços das carnes no início do ano. “A queda foi de 0,47% em janeiro e de 1,22% em fevereiro. Essas foram as maiores quedas registradas nos últimos 15 meses”, ressaltou Douglas, fazendo referência aos preços dos cortes bovinos e de frango.
Analista de Assistência Técnica e Gerencial do Sistema Faemg Senar, Rafael Moreira Rocha pontua que a China detém mais de 50% das exportações de carne bovina. No entanto, as exportações se sustentam, atualmente, com outros grandes mercados. “Por mais que a China represente um pouco mais da metade do volume das exportações de carnes no País, mercados importantes como Estados Unidos, Chile, Egito e Hong Kong continuam importando do Brasil. Esse movimento é importante para a economia”, elenca.
Combinação de fatores já havia ocorrido em 2017
O período tradicional da Quaresma, a época que antecede a Páscoa, também estimula o barateamento do preço da carne. “É um período em que os católicos fazem uma redução do consumo. Quando se tem menos pessoas procurando pelo produto, a oferta se torna maior e, consequentemente, interfere no bolso”, diz o professor de Economia da PUC Minas Flávio Constantino.
Segundo ele, apesar de ser uma interferência de curto prazo, é um fator levado em consideração devido à proporção de católicos existentes no País.
Para o professor, o efeito de queda do preço dos cortes da carne não é uma novidade. Ele relembra que em 2017 ocorreu a mesma combinação de fatores, ou seja, a suspensão das exportações conciliando com a época da Quaresma.
“Essa questão das exportações é uma realidade que já vimos antes. E, como ocorreu na época da operação da Carne Fraca, em um período que foi o da Quaresma, o preço caiu. Ele cai, depois de um tempo volta a subir, sem um aumento expressivo. Creio que essa tendência deva se repetir“, avalia Constantino.
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