Economia

Confiança da indústria mineira atinge o menor patamar para julho em 10 anos

Queda histórica está atrelada aos desafios econômicos internos e externos, marcados pela alta taxa de juros e às incertezas com o “tarifaço” dos Estados Unidos
Confiança da indústria mineira atinge o menor patamar para julho em 10 anos
Crédito: Leo Lara/Aestec

O Índice de Confiança do Empresário Industrial de Minas Gerais (Icei) atingiu o menor patamar para julho em 10 anos, alcançando 45 pontos: um recuo de 5,6 pontos em relação ao mesmo período do ano passado. A queda histórica está atrelada aos desafios econômicos internos e externos, marcados pela alta taxa de juros e às incertezas com o “tarifaço” dos Estados Unidos.

Na comparação com o mês de junho, o indicador também desacelerou e recuou 2,8 pontos, tornando o oitavo mês consecutivo abaixo da linha divisória de 50 pontos – limite entre falta de confiança e confiança. Os dados foram divulgados na quinta-feira, (17), pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

De acordo com a economista da Fiemg, Daniela Muniz, os índices refletem uma falta de confiança ainda mais intensa ainda entre os empresários mineiros. “É uma queda significativa, a maior para o mês de julho desde 2015, quando o País passou por um período de crise pela deterioração do ambiente macroeconômico”, observa.

Em 2025, embora não se fale em crise, um conjunto de fatores têm corroborado com esse quadro, mesmo com fôlego de setores, como o agronegócio, que respirou neste ano com safras robustas. “Estamos em um ambiente adverso, com uma política monetária restritiva marcada pela maior taxa de juros desde 2006, desestimulando investimento e consumo. A inflação também limita o consumo interno e afeta demanda por bens industriais”, acrescenta a economista.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Com relação às condições atuais do empresário da indústria em Minas Gerais, o componente apresentou redução de 3,2 pontos em julho (39,9 pontos) frente a junho (43,1 pontos), enquanto na comparação com julho do ano passado, a retração foi de 5 pontos – o menor resultado para o mês em cinco anos. Para Daniela Muniz, o resultado sinaliza uma piora na avaliação dos industriais sobre economia do País, do Estado e dos próprios negócios.

Donald Trump
A alta taxa de juros e às incertezas com o “tarifaço” dos Estados Unidos, anunciado por Donald Trump, impactaram negativamente a confiança do industrial de Minas Gerais | Foto: Nathan Howard / Reuters

A queda na atual percepção do empresário preocupa, já que esse indicador era o que estava segurando o componente de expectativas para evitar quedas maiores. “Podemos ver que o componente também vem se deteriorando, refletindo uma piora nas condições financeiras dos negócios”, avalia a economista.

A sustentabilidade das contas públicas também continua sendo motivo de preocupação, mesmo diante de ações adotadas pelo governo. “Em um cenário marcado por alta dívida pública e riscos elevados, o descompasso entre uma política fiscal expansionista e uma política monetária contracionista acaba por desestimular o setor produtivo, gerando incertezas e dificultando a retomada mais vigorosa da economia”, ressalta Daniela Muniz.

Tarifaço deve levar a “efeito cascata” a afetar confiança para além das exportadoras

Além do cenário interno, as turbulências nas relações comerciais internacionais também preocupam, especialmente após as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. As incertezas, na visão da economista, geram cautela por parte dos empresários, especialmente para empresas exportadoras.

Somado a isso, projeções internacionais já indicam moderação no crescimento global, reduzindo demanda externa e afetando setores industriais voltado para exportação. “Existe essa falta de clareza sobre os próximos passos dos Estados Unidos e isso gera apreensão no empresariado do Brasil e do mundo”, destaca.

Para os próximos meses, as negociações comerciais internacionais devem pesar na contribuição para o estímulo ou desestímulo do empresário da indústria em Minas Gerais, com impactos que não se restringem às empresas de exportação. “Uma tarifa de 50% é bastante desastrosa quando se compara com as tarifas atuais e pode gerar um efeito cascata. Vamos esperar para ver se haverá negociações e compará-las com tarifas de outros países”, finaliza a economista.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas