Economia

Queda dos preços do aço no exterior é risco para o Brasil

Cenário deve ficar ainda pior para as usinas que enfrentam alta nas importações
Queda dos preços do aço no exterior é risco para o Brasil
Crédito: Divulgação / Instituto Aço Brasil

O excesso da demanda global e o enfraquecido mercado imobiliário chinês – em crise desde meados de 2021 – têm impactado os preços internacionais do aço, que enfrentam uma tendência de queda nos últimos tempos. Esse cenário coloca as siderúrgicas do Brasil em uma situação difícil, pois a pressão externa pode resultar em uma redução dos preços no mercado doméstico.

Recentemente, o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, disse que as usinas brasileiras reajustaram, em fevereiro, os preços do aço em cerca de 5% a 5,5%. Se antecipando a mudança, os distribuidores compraram mais em janeiro e as aquisições cresceram 25,9% frente a dezembro, percentual acima dos 20% que eram esperados.

Os players nacionais, contudo, podem não conseguir sustentar esse reajuste caso o governo não crie uma barreira para diminuir o volume de importação de aço, sobretudo da China, que segue “assombrando” a siderurgia no Brasil. Conforme o próprio Inda, as importações no País subiram para 192,7 mil toneladas no segundo mês de 2024, uma alta de 25% na comparação anual.

O economista e professor da Faculdade do Comércio (FAC), Denis Medina, enfatiza que devido à facilidade atual de transporte e comunicação, vários distribuidores brasileiros acabam comprando do exterior para distribuir o material no País e, com isso, pressionam os preços do mercado interno. Mas ele ressalta que isso pode mudar se o Executivo federal sobretaxar o aço – desde o ano passado as siderúrgicas pedem ao governo que aumente a alíquota de importação para 25%.

“O governo pode criar uma barreira internacional, por meio de uma sobretaxa chamada de antidumping nas importações de aço. No passado, tínhamos sobretaxa para tubos sem costura, que é um material bem específico, e é fabricado por uma única empresa no Brasil, que através de lobby, conseguiu sobretaxar para beneficiar a indústria nacional. Com a sobretaxa fica mais caro importar, com isso vão buscar a distribuição através das empresas nacionais”, reiterou.

Discrepância de preços entre o mercado doméstico e internacional

Para o economista da Valor Investimentos, Keone Kojin, a discrepância que se vê atualmente entre os preços do aço no mercado internacional e o doméstico tem a ver, justamente, com a pressão das siderúrgicas com relação a sobretaxação, algo que o governo não cedeu ainda. Para ele, as siderúrgicas voltaram a aumentar os preços como resposta a negativa do Executivo.

“E como que fazem isso? Diminuem a produção, o que diminui a oferta e acaba aumentando os preços. Quem se vê mais prejudicado nisso é a própria indústria brasileira, que depende bastante do aço para diversas vertentes que vão de acordo com o crescimento do País”, ponderou.

Para o especialista, os valores internacionais do aço estão em queda em razão do desenvolvimento dos países que geralmente mais demandam o material, como a própria China. Os chineses, segundo ele, inclusive, melhoraram recentemente a demanda, porém, os impulsos do governo na tentativa de impulsionar a economia do país ainda não surtiram os efeitos aguardados.

Neste contexto, Kojin avalia que o movimento de baixa global, pode afetar os preços nacionais, considerando que grande parte da exportação brasileira depende da demanda internacional. Sendo assim, se o preço interno estiver maior, os clientes buscarão lugares com preços mais baixos.

As expectativas definem os preços

O sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, avalia o cenário futuro dos preços do aço pontuando alguns fatores. Ele destaca, por exemplo, que o material siderúrgico tem um comportamento cíclico, ou seja, quando a economia cresce, a demanda sobe. Outro fator, são os conflitos geopolíticos em que os Estados Unidos está envolvido e, por isso, se movimenta na direção de proteger sua indústria e o Brasil pode se beneficiar aumentando a exportação ao país.

Oliveira avalia que, por enquanto, a queda do aço no contexto internacional é puxada pelo mercado imobiliário chinês e a expectativa de que o governo da China fosse mais ativo no auxílio ao setor da construção não aconteceu como era esperado. Ele reitera que as expectativas definem os preços do aço e a tendência no mercado global é seguir o caminho atual.

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