Economia

Redução das tarifas pelos Estados Unidos é vista com cautela por exportadores mineiros

Mesmo com crescimento de US$ 8,95 bilhões nas exportações mineiras, setor cafeeiro avalia risco de avanço do café da Colômbia no mercado americano
Redução das tarifas pelos Estados Unidos é vista com cautela por exportadores mineiros
Foto: Mike Dombrowski / Autoridade de Nova York e Nova Jersey

Em meio à redução parcial das tarifas de reciprocidade impostas pelos Estados Unidos (EUA), entidades mineiras mantêm cautela sobre o impacto para o Brasil. O governo americano diminuiu em 10% as tarifas de importação de cerca de 200 produtos brasileiros, porém preservou os 40% aplicados como sanção após acusação de perseguição ao presidente Jair Bolsonaro.

No caso do café, principal commodity exportada por Minas Gerais aos Estados Unidos, o cenário segue desfavorável ao Brasil, já que a Colômbia teve as tarifas zeradas e amplia sua posição competitiva no mercado americano.

Apesar disso, Minas Gerais registrou crescimento de 44,6% no valor do café exportado neste ano, alcançando US$ 8,95 bilhões. Dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) indicam que, embora o volume de embarques tenha recuado 11,6% entre janeiro e outubro de 2025, em comparação com igual período de 2024, o preço do grão compensou a queda.

Para a assessora técnica da Seapa, Manoela Teixeira, a ampliação de mercados contribuiu para o resultado. Segundo ela, “mesmo diante da redução das compras de alguns produtos pelos Estados Unidos, o agro mineiro demonstrou capacidade de reação rápida, redirecionando embarques para novos destinos”.

Brasil em desvantagem em relação à Colômbia

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) afirma que o cenário preocupa o setor. O diretor-geral da entidade, Marcos Matos, avalia que “a competitividade segue afetada, porque nossos concorrentes estão isentos, e o Brasil segue com tarifa de 40%”.

Ele acrescenta que a entrada de países como Colômbia, Costa Rica, Etiópia, Vietnã e Indonésia nos blends vendidos aos americanos pode se consolidar. “Cada dia que passa é um prejuízo, porque fica mais difícil ou irreversível ocupar novamente esses espaços”, diz Matos.

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) também projeta retração nas exportações. “A manutenção da tarifa elevada imposta ao Brasil amplia distorções no comércio e tende a intensificar, no curto prazo, a queda dos embarques aos Estados Unidos”, reforça a entidade.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) avalia que a redução das tarifas representa avanço inicial, porém limitado. Em nota, a entidade afirmou que persistem dúvidas sobre a cobrança adicional de 40%, que afeta a competitividade de cafés e carnes. O presidente da Fiemg, Flavio Roscoe, declara que “é necessário avançar mais para remover todas as barreiras adicionais e restabelecer condições adequadas de competitividade para a indústria mineira”.

Cenário brasileiro

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que 80 produtos agrícolas exportados pelo Brasil aos Estados Unidos serão beneficiados pela diminuição da tarifa global. Eles representaram US$ 4,6 bilhões em 2024, o equivalente a 11% das vendas do Brasil ao mercado americano.

O levantamento aponta ainda que quatro produtos — castanha-do-pará e três tipos de suco de laranja — ficarão totalmente isentos, pois já constavam da primeira lista de exceções aberta pelos Estados Unidos em julho. Os outros 76 itens, como carne bovina e café não torrado, continuam sujeitos à cobrança de 40%.

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) calcula que as tarifas adicionais aplicadas em agosto geraram prejuízo de US$ 700 milhões ao setor de carne bovina. As vendas aos Estados Unidos caíram 36,4% no trimestre em que as medidas entraram em vigor.

Em outubro, o recuo se intensificou: as exportações de carne bovina in natura tiveram queda de 54% em relação ao mesmo mês de 2024; os embarques de carne industrializada recuaram 20,3%, e os de sebo e gorduras bovinas diminuíram 70,4%.

*Com informações da FolhaPress

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