Economia

Redução do frete rodoviário não ameniza custos

Segundo entidade das transportadoras de cargas, outros custos importantes pesam muito para setor
Redução do frete rodoviário não ameniza custos
As condições precárias da malha rodoviária no Brasil aumentam o consumo de óleo diesel | Crédito: Divulgação

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciou, na última semana, a nova tabela com preços mínimos do frete rodoviário no País. Dentre as medidas, estão as reduções médias de 2,89%, 3,21%, 3,37% e 3,68% para definições. De acordo com o órgão, a mudança nos valores ocorreu depois que a Petrobras comunicou outra retração do preço do diesel.

Segundo Alexandre Miserani, professor de economia da Faculdade Arnaldo Janssen, em conformidade com a lei, sempre que for apresentada uma oscilação no preço do óleo diesel no País haverá alterações. Na prática, se o preço do diesel estiver a 5% para mais ou para menos, a ANTT deve publicar novos preços na planilha. A lei à qual o especialista se refere foi sancionada pelo ex-presidente Michel Temer, como efeito provocado pela pressão com a greve dos caminhoneiros que paralisou o País em 2018.

Procurado pela reportagem, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Lobato, avaliou que a mudança não impacta a rotina das empresas do segmento.

“Na realidade, o que a ANTT fez é uma situação de planilha. Aquela tabela que é apelidada de tabela de frete, na verdade é um custo de frete. Ou seja, ali só tem custo. Não tem a remuneração de pessoas e não têm os valores dos impostos. Há uma série de outros fatores que não possuem e que são importantes para contemplar a questão de frete para as empresas de transporte de carga. A planilha em questão é voltada para quem é autônomo”, explica Lobato.

“A ANTT só fez uma adaptação que, diante da queda do óleo diesel, um certo valor, ela foi lá na tabela de frete e corrigiu o percentual. Isso não quer dizer que o frete vai cair, ou que o frete vai trazer um fôlego para as empresas de transporte de carga, ou que as empresas vão adotar um outro preço. Isso tudo é uma negociação. No nosso setor, essa negociação é feita com os embarcadores”, acrescentou.

Frete não é tudo

Segundo ele, há outros custos que pesam muito para o setor, além da realidade do frete para as operações. Dependendo do tipo de segmento do transporte de carga, por exemplo, Gladstone pontua que o custo da mão de obra é sempre muito alto. “Esse tipo de custo representa em valores a variação entre 20% e 30% dos gastos”, observa o dirigente.

Na prática, outros custos que oneram as atividades das empresas de transporte de cargas e logísticas de Minas Gerais estão relacionados à reposição de peças. “Trocar peças tem um custo impressionante, como é o caso do próprio pneu, que possui um valor bem elevado. Há situações ainda de reposição do próprio transporte de carga, do cavalo mecânico ou da carreta do equipamento que o cavalo mecânico puxa. Ou então do próprio caminhão quando sobe o chassi. Esse sistema todo exige investimentos que pesam bastante para as empresas do setor”, diz.

Além disso, acrescenta Lobato, as transportadoras tiveram problemas de abastecimento e continuam enfrentando a escassez de componentes, que já tinha pressionado o setor em 2021, quando faltaram no mercado ou aumentaram muito de preço equipamentos, pneus e até veículos.

“Frequentemente estamos encontrando problemas para encontrar peças. Tivemos aí a necessidade de repor itens ou que não estavam disponíveis ou que levavam um grande atraso para entrega, dificultando o setor. E, se formos avaliar, nenhum de nossos embarcadores quiseram repor os custos, mas nós tivemos que repassar”, relembra.

Estradas afetam logística

Um dos fatores que elevam os custos é certamente o aumento de consumo de óleo diesel, mas em estradas que não oferecem inteligência logística ao sistema de transporte de cargas. “Na realidade, o nosso Estado de Minas Gerais é muito pobre de estradas. Essas nossas estradas são muito ruins, e a nossa logística fica prejudicada com essas vias precárias”, afirma Gladstone.

“Em Belo Horizonte, por exemplo, tudo o que você cruza pela cidade precisa passar por um anel rodoviário, que na verdade não é um anel rodoviário. Praticamente você tem que passar pela avenida do Contorno. Outro exemplo é a estrada para o Vale do Aço que não existe. Ou seja, nós não temos uma logística boa. Então, tudo isso gera um custo alto para as empresas de transporte de carga. A nossa expectativa é que, o governo do Estado tendo um apoio do governo federal, a gente consiga mudar estas estradas por meio das privatizações”, acredita.

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