Reflexos do desemprego no Brasil
José Eloy dos Santos Cardoso*
Quando o professor e economista Paulo Haddad disse em um de seus artigos recentemente publicado que o desemprego da mão de obra entre a população produz enormes estragos para a economia familiar ele está com razão. Ele citou em um artigo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pelo jornal “The New York Times” durante a recessão de 2008 que mostrou, sem surpresas, que mais da metade de um milhão de desempregados teve grandes problemas de saúde e traumas psicológicos, resultantes da perda de emprego e da consequente desorganização do cotidiano da vida familiar.
Nem precisamos realizar esta pesquisa no Brasil. Fica claro que qualquer pessoa sem emprego ou sem nenhum meio de continuar a sustentar sua família por não possuir mais recursos para tal, fica desorientado e os jornais até já noticiaram em suas manchetes vários casos de autoextermínio por causa desse problema. Uma das piores causas e motivos das crises em qualquer país é a elevação das taxas de desemprego da mão de obra, principalmente, em países como o Brasil em que são precárias as estruturas de proteção social e de saúde pública. E não poderia ser diferente.
Mesmo que os futuros ocupantes da cadeira de presidente do Brasil queiram justificar o injustificável, pessoas que perderam o emprego e o governo não consegue com seus precários sistemas de saúde pública tentar falar para a população que o problema de saúde será resolvido, pelas experiências passadas, podemos acreditar que se o Brasil continuar a gastar onde não deve, milhões de brasileiros continuarão sem emprego e, por consequência, continuarão a não ter recursos para pagar um sistema de saúde complementar, que, mesmo com suas falhas, ainda consegue atender a uma boa parcela da população.
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Com novas roupagens, o governo tenta falar para a população que seu programa de saúde vai ser implementado e, em estilo de comunicação social, dizer que “desta vez será diferente”. Precisaria eliminar, por exemplo, vários ministérios que não servem para nada e os recursos assim poupados voltassem totalmente para a diminuição dos problemas de saúde da população. Aumentar a carga tributária vai afetar, principalmente, os orçamentos das classes de média ou baixa renda. A redução dos gastos com a quantidade e a qualidade dos serviços públicos tradicionais prejudica o bem-estar sustentável dos mais pobres, os que mais deles necessitam. Qualquer sobrecarga de natureza recessiva prejudicará e causará mal-estar justamente em um momento em que a economia brasileira está num ambiente pífio. O crescimento e o desenvolvimento da economia não pode ser unicamente um subproduto de um agente qualquer.
Com o quadro de total incerteza que os futuros candidatos a presidente estão demonstrando na prática, fica difícil fazer previsões só tentando combater a corrupção sistêmica brasileira. Os postulantes à Presidência da República não possuem na realidade nenhum plano de governo possível e factível em face da conjuntura atual real da economia brasileira. Mais de três anos de recessão e baixo crescimento não levam qualquer eleitor a acreditar nesse ou naquele candidato. Apostar no futuro e nas incertezas fará qualquer empresário deixar de investir para verificar o que vai acontecer. Até os consumidores estão também deixando de fazer suas compras para ver o que será o Brasil no futuro.
* Economista, professor titular de macroeconomia da PUC-Minas e jornalista
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