Economia

Restrição da China pode impulsionar os preços dos semicondutores

Restrição visa, principalmente, impactar os americanos
Restrição da China pode impulsionar os preços dos semicondutores
Crédito: Florence Lo/Reuters/Foto ilustrativa

A restrição imposta pelos chineses à exportação de materiais relacionados ao gálio e ao germânio, metais essenciais para a fabricação de semicondutores, deve impactar a cadeia de suprimentos global e inflacionar os preços dos produtos que dependem da matéria-prima. É o que apontam especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO

Na última segunda-feira (3), o Ministério do Comércio da China comunicou que os exportadores dos dois insumos precisarão solicitar licenças e informar detalhes sobre os compradores internacionais ao País. A medida, que entra em vigor a partir de 1º de agosto, tem o objetivo de “proteger a segurança e os interesses nacionais”.

O professor de Economia do Ibmec Brasília, Renan Silva, explica que essa restrição remete à guerra tecnológica entre os chineses e os americanos. Os dois países “lutam” pelo controle da tecnologia de fabricação de chips. O insumo é usado em quase todos os itens do dia a dia, desde smartphones aos veículos, bem como nos equipamentos do futuro, da chamada Indústria 4.0, que envolve a inteligência artificial (IA), computação quântica, entre outros.

Silva explica que os Estados Unidos vêm dificultando o acesso da China a alguns semicondutores mais tecnológicos. Ao mesmo tempo, o país asiático resolveu restringir as exportações dos dois metais, utilizados na constituição de chips para carros elétricos e produtos de telecomunicação, por exemplo. É válido destacar que os chineses são os maiores produtores do gálio e um dos maiores exportadores do germânio.

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Ainda conforme o docente, essa medida tenciona pressionar os preços dos semicondutores e gerar uma inflação global, mas visa, principalmente, impactar os americanos. No caso do Brasil, ele salienta que o País não é um exportador desses metais. Logo, salienta que não deve ter nenhum tipo de benefício a princípio, pelo contrário, sofrerá com impactos negativos.

“Teremos dificuldades e impactos na cadeia produtiva, uma vez que somos extremamente dependentes da importação de chips e semicondutores. Não fabricamos de forma relevante, ou seja, não conseguimos suprir a demanda interna. Então isso deve encarecer, por exemplo, o preço do automóvel e do celular, um impacto indesejado em termos inflacionários”, avalia.

Impacto deve alcançar diversos setores

O professor e vice-coordenador do curso logística da Fundação Vanzolini e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Daniel Mota, reitera que as cadeias de suprimentos têm cada vez mais aumentado o volume de tecnologia embarcada – dispositivos dentro de equipamentos que ajudam na gestão e no seu uso diário. 

Conforme ele, tudo que se pode imaginar, como geladeiras, celulares e carros, está permeado de microcontroladores, cuja matéria-prima são os chips. E com o advento da Indústria 4.0 e inteligência artificial, a tendência é que isso cresça ainda mais. Com essa perspectiva, o docente ressalta que, na ótica da cadeia de suprimentos, a restrição imposta pela China deve ter um impacto severo e tende a afetar os mais diversos setores.

Por outro lado, Mota reitera que somos tão reféns da tecnologia atualmente que existe também uma tendência de desenvolvimento de novos produtos. 

“Então do ponto de vista de supply chain, existem aspectos positivos que vão favorecer porque é uma coisa muita escassa e muito demandada, então vai favorecer o desenvolvimento de outras tecnologias sem sombra de dúvida. Daqui a um ano, cinco anos ou dez anos? É difícil prever, mas a tendência é que se busque opções para essa restrição”, destaca.

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