Economia

Saiba como a guerra entre Israel e Irã pode afetar a economia de Minas

Possível fechamento do Estreito de Ormuz pode afetar fornecimento de fertilizantes
Saiba como a guerra entre Israel e Irã pode afetar a economia de Minas
Foto: Rami Shlush / Reuters

O conflito entre Israel e Irã, no Oriente Médio, está crescendo e as consequências dessa disputa vão além dos ataques militares, já que atingem a economia em diversas nuances. Além do preço do petróleo, o possível fechamento do Estreito de Ormuz pode impactar o fornecimento de fertilizantes nitrogenados, o que afeta a agricultura do Brasil e de Minas Gerais. Diante desse cenário, especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio apontam a possibilidade de aumento nos custos para o setor produtivo.

Eles destacaram que o Irã é um fornecedor relevante de ureia, produto essencial para fornecer nitrogênio às plantas. “O fertilizante é amplamente utilizado na agricultura. Logo, caso a situação no país se agrave, existe a possibilidade de o fornecimento ser reduzido ou até mesmo interrompido”, analisa o professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Vicente.

“O impacto no agronegócio pode ser grave porque os preços de vendas estão relativamente baixos, o que pode fazer a margem de lucro estreitar ainda mais”, acrescenta. Ele explica que, indiretamente, o conflito também pode influenciar no preço do petróleo, encarecendo o diesel. “Com isso, há uma preocupação quanto aos efeitos sobre toda a economia do Estado, particularmente em relação aos custos de energia e combustíveis”, diz.

No ano passado, o Brasil importou 100% da ureia utilizada na agricultura. No caso de Minas Gerais, os principais fornecedores desse insumo em 2024 foram Omã (24%), Nigéria (22%) e Rússia (19%), segundo a analista em negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Verônica Winter. “Agora, se o Irã não conseguir escoar a produção, isso tem impacto, pois é menos um player neste mercado”, ressalta. Ela observa que o petróleo e os fertilizantes são insumos importantes para a cadeia produtiva. Logo, ao se tornarem mais caros, impactam os custos de produção no Brasil, bem como no Estado.   

Verônica Winter acrescenta que, em termos de comércio internacional, Irã e Israel não são parceiros expressivos em termos de valor para o Estado. No ano passado, Minas Gerais exportou US$ 67 milhões para o Irã e US$ 23,41 milhões para Israel. Já a importação para o Estado proveniente de Israel totalizou US$ 31,96 milhões e do Irã, US$1,63 milhão em 2024.

Entre os produtos que Minas compra do Irã, estão o pistache, uvas secas, sementes e frutas cristalizadas. O país do Oriente Médio comprou em 2024 do Estado, em especial, soja, milho e açúcar.

Já os itens de destaque adquiridos por Israel naquele ano foram café, madeira e pedra preciosas. Do lado de Minas, as compras mais relevantes foram de válvula de segurança e adubos.  

Tempo do conflito impacta nos resultados

O economista Fernando Sette Júnior observa que os impactos, tanto na economia brasileira como na mineira, vão depender do tempo de manutenção do conflito. Ele acrescenta que o preço e a oferta do petróleo e dos fertilizantes podem impactar no custo de produção.

 Na terça-feira (17), os contratos futuros de petróleo fecharam com altas acima de 4%, seguindo as sinalizações de intensificação no conflito entre Irã e Israel. Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma série de indicações de que o país poderá se envolver na guerra, enquanto ataques de ambos os lados seguiram.

O professor do Centro Universitário Newton Paiva Wyden, Franz Petrucelli, observa que os custos logísticos marítimos podem aumentar em função do conflito, caso o Estreito de Ormuz seja bloqueado, já que em torno de um quinto do consumo total de petróleo do mundo passa pelo local. “O momento é de incertezas. O fato é que guerra não é boa para ninguém”, destaca.

O estrategista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima, diz que a infraestrutura petrolífera não foi comprometida até o momento, e o tráfego no Estreito de Ormuz continua fluindo, reduzindo a preocupação sobre riscos reais de oferta.

“No médio prazo, porém, a incerteza ainda pesa: se o conflito se prolongar ou houver interrupção nas rotas de exportação, especialmente no Estreito de Ormuz, os efeitos no preço do petróleo podem ser duradouros. Historicamente, essa interrupção poderia elevar o Brent para US$ 120 a US$ 130 por barril, pressionando a inflação global e obrigando bancos centrais, como o Fed, a manter juros elevados por mais tempo”, analisa. 

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