Economia

Consumidor evangélico: conheça o público que será o maior grupo religioso do País em 2026

Pesquisa mostra o perfil dos evangélicos no Brasil, que pretendem consumir mais do que os 'não evangélicos' nos próximos 12 meses
Consumidor evangélico: conheça o público que será o maior grupo religioso do País em 2026
Foto: Adobe Stock

No último sábado (30), algumas regiões do Brasil celebraram o Dia do Evangélico. Essa parcela da população vem crescendo nos últimos anos e se tornando um público consumidor cada vez mais relevante no mercado. No entanto, as empresas devem se atentar para atender a este público, que possui características distintas dos demais, com mais assertividade.

Um levantamento realizado em outubro deste ano pela Data-Makers, do grupo HSR Specialist Researchers, especializado em pesquisas de mercado para negócios, mostra que os evangélicos representam 35% da população brasileira, ficando abaixo apenas dos católicos (39%).

Considerando a queda gradual observada no número de católicos, a empresa projeta um cenário em que os evangélicos se tornarão o maior grupo religioso do País a partir do final de 2026.

Já em novembro, a Data-Makers também produziu, em parceria com a Dolores, a pesquisa “O Brasil Evangélico”, que demonstra algumas características fundamentais desta parcela de consumidores no mercado.

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O estudo apontou que 47% das pessoas desse grupo pretendem consumir mais nos próximos 12 meses, frente a 32% entre os “não evangélicos”.

Evangélicos e católicos divergem sobre consumo

O CEO da Data-Makers, Fabrício Fudissaku, explica que os evangélicos possuem uma visão diferente dos católicos, por exemplo, a respeito do consumo, sem juízo de valor.

“As igrejas evangélicas não coíbem o consumo. Em muitos casos, o ato de consumir está relacionado à demonstração de virtude, sucesso e valor. Essa é uma questão que está muito intrínseca dentro da religião”, pontua.

Outro ponto destacado no levantamento é que essa parcela da população brasileira é muito mais envolvida com a religião, se comparada com as demais. Dentre os entrevistados, 43% dos evangélicos disseram que possuem um alto nível de envolvimento com a religião, contra apenas 14% entre os membros das demais religiões.

Religião evangélica tem influência nas compras

Além do forte envolvimento, a religião evangélica possui grande influência nas compras desses consumidores. Mais da metade (58%) relata algum nível de influência, sendo que 14% das pessoas definem a religião como muito influente.

Para efeito de comparação, entre os “não evangélicos”, somente 7% afirmaram que a religião possui muita influência na decisão de compra.

“Nós temos vários sinais ao longo da pesquisa que nos permite dizer que, de fato, a religião evangélica influencia muito o consumo, e ela é a que mais influência entre todas as religiões do Brasil”, avalia Fudissaku.

Evangélicos buscam compras para fortalecer a fé

Para a gestora da Galeria Mundo Evangélico, em Belo Horizonte, Gabriela Braga, um dos grandes diferenciais desse público é que essa parcela dos consumidores tende a buscar mais por produtos que fortaleçam a sua fé, como uma espécie de “autoajuda”.

“São produtos que, de alguma forma, simbolizam o fortalecimento da fé e se aproximam mais de Deus”, completa.

Pessoas segurando as mãos sob algumas bíblias.
Foto: Adobe Stock

Por isso, o respeito das marcas pelos valores evangélicos é visto como algo importante para 78% dos entrevistados no estudo, com 36% avaliando como algo muito importante. Essa taxa é ainda maior entre as pessoas da geração X (81%) e das classes D e E (83%).

Além disso, 31% dos respondentes relatam ter deixado de comprar algo por perceber que uma determinada marca desrespeitou esses valores, e 20% já deixaram de entrar em lojas por identificar produtos que não condizem com seus valores religiosos.

Ainda dentre os evangélicos que participaram do estudo, 59% afirmam ter preferência por produtos evangélicos, e 58% estão dispostos a pagar mais para adquiri-los.

Conforme o levantamento, o consumidor evangélico também tende a consumir mais produtos de marcas que apoiam o bem-estar dos animais (88% contra 87% dos “não-evangélicos”); marcas locais (81% contra 80%) e produtos zero açúcar ou com nível reduzido (77% contra 75%).

A pesquisa ainda aponta para um empate entre evangélico e “não-evangélicos” quanto a tendência de consumo de produtos de marcas que apoiam causas sociais ou ambientais (84% em ambos os grupos) e de produtos com embalagens sustentáveis ou biodegradáveis (83% nos dois públicos).

Relação das marcas com o consumidor evangélico

Outro dado interessante do levantamento é o de que 39% dos evangélicos não se sentem atendidos pelo mercado.

Dentre os setores da economia que menos atendem essa parcela de consumidores, o grande destaque fica para os bares, restaurantes e casas noturnas, citados por 69% dos entrevistados. Em seguida aparecem os setores de moda (26%) e de eventos, espaços públicos e locais de lazer (21%).

Vale ressaltar ainda que, segundo o estudo, pouco mais da metade (52%) dos consumidores evangélicos também não se sentem representados pela publicidade. No caso das pessoas das classes D e E essa taxa sobe para 63% do público total.

O CEO da Data-Makers, Fabrício Fudissaku, explica que essa percepção pode estar relacionada ao fato das marcas e das agências de publicidade estarem adotando uma postura mais progressista no intuito de demonstrar modernidade. Esse tipo de iniciativa, conforme o especialista, acaba desagradando a parcela da população mais conservadora.

Fudissaku pontua também que temas como o aborto, o consumo de bebidas alcoólicas, a causa LGBTQIA+, diferente formatos familiares e o divórcio não estão alinhados com os valores dos consumidores evangélicos.

“As marcas acabam agradando uma parcela da população que está alinhada com esses valores, mas desagrada os evangélicos”, completa.

Segundo ele, as marcas não precisam abandonar uma determinada causa ou posicionamento, mas sim, ter conhecimento a respeito das consequências deste tipo de decisão para poder calcular os riscos. Segundo Fudissaku, há casos em que as empresas não têm esse tipo de informação.

“As marcas não sabem se comunicar com o consumidor evangélico. Elas, mesmo sem saber, acabam desagradando esse consumidor, que é um público que se mobiliza de uma forma muito rápida”, relata.

Bíblias cristãs.
Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

Comportamento dos consumidores evangélicos

Esse grupo, segundo a pesquisa, é mais propenso a gostar e a comprar algo de uma marca recomendada por uma figura pública. Dentre os evangélicos, 16% afirmam que as figuras públicas possuem muita influência quanto à simpatia por determinada marca, e 17% relatam grande influência dessas figuras na decisão de compra.

Para efeito de comparação, no caso dos “não evangélicos”, apenas 11% relataram uma grande influência das figuras públicas quanto à preferência por uma marca e somente 12% apontaram o mesmo cenário em relação ao consumo de produtos de uma determinada marca.

O levantamento também demonstra que 46% dos consumidores evangélicos entrevistados afirmaram que evitariam comprar algo por motivos religiosos. Apesar de não ser a maioria, essa taxa é quase duas vezes maior se comparada com o observado entre os “não evangélicos” (28%).

Evangélicos são mais propensos a boicotar marcas

Além disso, as pessoas evangélicas são mais propensas a boicotar ativamente uma marca, estimulando outros consumidores a não comprar algo.

Um quarto (25%) dos evangélicos que participaram da pesquisa afirma que boicotaria ativamente uma marca por motivos religiosos. Já entre os “não evangélicos” essa taxa cai para 10% dos respondentes.

Fudissaku avalia que as marcas, em muitos casos, acabam correndo o risco de desagradar este público e sofrer com os boicotes. Para ele, uma das formas de evitar este tipo de problema é a realização de pesquisas de mercado para conhecer melhor esse perfil de clientes.

O especialista reforça que as empresas precisam ficar mais atentas ao consumidor evangélico, por se tratar de uma parcela que representa mais de um terço da população e segue em crescimento.

Ele ainda destaca que esse público é um dos principais responsáveis por movimentar a economia no Brasil. “É impensável uma marca que não entenda esse consumidor”, disse.

O CEO da Data-Makers também aponta que grande parte das empresas tendem a realizar estudos com base em classes sociais ou gerações de consumidores. Na visão de Fudissaku, o País está muito atrasado quanto a compreensão sobre as oportunidades oferecidas pelo grupo evangélico. “As pessoas não têm a real dimensão do quão grande e relevante é esse grupo”, afirma.

Já Gabriela Braga, do Mundo Evangélico, pontua que o consumidor evangélico possui a mesma importância que qualquer outro no mercado. “Ele é importante no segmento cristão tanto quanto em outros segmentos”, completa.

Homem rezando.
Foto: Adobe Stock

Mídias e conteúdos mais consumidos pelos evangélicos

Quanto ao consumo de mídia, a Internet é a mais utilizada, com 91% dos evangélicos, seguida pela TV aberta (53%), TV paga (46%) e streaming de áudio e vídeo (44%).

No caso da frequência nos canais de televisão aberta, 53% dos evangélicos relatam que assistem a programas diariamente, um ponto percentual acima do observado entre os “não evangélicos”.

A pesquisa realizada pela Data-Makers também aponta que o Instagram e o YouTube são os canais mais utilizados pelos consumidores evangélicos, com 27% e 23% do público, respectivamente.

Por outro lado, TikTok (33%), X, antigo Twitter (31%) e o Kawai (28%) estão no topo dentre os mais rejeitados.

Quanto aos tipos de conteúdos, o estudo demonstra que, em geral, os evangélicos tendem a consumir menos conteúdos, com algumas exceções. Os programas religiosos são os grandes destaques, com 46% dos evangélicos consumindo este tipo de conteúdo contra apenas 17% dos “não evangélicos”.

Além deste, as novelas bíblicas (37% contra 12% entre os “não evangélicos”) e os programas infantis (33% contra 23%) são os outros conteúdos em que público evangélico é maioria entre os consumidores.

No entanto, filmes e séries são os mais consumidos pelo grupo, com 79% do total, quatro pontos percentuais (p.p.) abaixo do observado entre os “não-evangélicos” (83%).

Os programas adultos estão no topo da lista dos mais rejeitados, com mais da metade (52%) dos evangélicos frente a 36% de rejeição dentre os demais consumidores.

Consumo em lojas físicas e on-line

O levantamento ainda demonstra uma maior preferência entre os evangélicos por compras em lojas físicas, em comparação com os demais consumidores: 34% contra 27%.

Porém, o consumo on-line via celular é forte em ambos os grupos (50% entre os evangélicos e 52% entre os “não evangélicos”).

A gestora da Galeria Mundo Evangélico avalia que muitos lojistas, não só do segmento evangélico, têm sofrido com algumas dificuldades devido à concorrência com o mercado on-line. “Tira o povo da rua”, disse.

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