Samarco: credores entram na Justiça

Rio e São Paulo – Credores da Samarco entraram ontem com um pedido na Justiça para que seja negada autorização para a mineradora receber um financiamento adicional de R$ 1,2 bilhão de Vale e BHP, sócias da empresa em recuperação judicial.
Em documento entregue à Justiça na última quinta-feira (10), a Samarco afirmou ser fundamental que tenha acesso ao financiamento de suas atividades no curso da recuperação judicial, a fim de preservar sua atividade empresarial. E que uma proposta apresentada por suas sócias teria sido “a mais economicamente atrativa”.
No entanto, credores de grande parte da dívida atual da companhia pediram à Justiça que negue o pedido da Samarco e ainda proíba que a mineradora realize qualquer pagamento à Fundação Renova, criada para gerir as reparações do desastre com o rompimento de uma barragem em Mariana (região Central), segundo documentos judiciais vistos pela Reuters.
As dívidas da Samarco com detentores de títulos é de cerca de R$ 26 bilhões, enquanto Vale e BHP são credoras de R$ 23 bilhões. Os credores de 80% da dívida – excluindo-se as duas sócias – estão por trás do questionamento judicial.
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Em sua justificativa, eles argumentam que Vale e BHP deram empréstimos bilionários à mineradora nos últimos anos, “no intuito de que a Samarco fizesse frente sozinha aos aportes à Renova, como se apenas ela fosse responsável pelas obrigações socioambientais”.
Os credores ressaltaram ainda que o novo empréstimo junto às sócias, na modalidade DIP, prevê um juros de 9,5% ao ano, enquanto a Vale emite dívida a juros de 3,75% no exterior.
“Vale e BHP se utilizam da Samarco para fazer os aportes devidos à Renova, pelos quais são objetiva e solidariamente responsáveis, como se assumir tal responsabilidade fosse uma prerrogativa e não decorrência legal e constitucional”, disse o grupo de credores, que inclui fundos de investimentos internacionais das gestoras Canyon, York, Ashmore, Maple Rock e outros, no documento enviado à Justiça.
“O Empréstimo DIP é, na realidade, o golpe final das acionistas para, fraudulentamente, utilizarem a Samarco para se furtarem de sua responsabilidade solidária pelas obrigações socioambientais decorrentes do desastre e ainda escaparem do concurso de credores.”
Procuradas, Vale, BHP e Samarco não responderam imediatamente a pedidos de comentários.
A Samarco protocolou, também na última quinta-feira, seu plano de recuperação judicial na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, onde apresenta detalhes dos termos e condições propostos para a reestruturação de sua dívida de cerca de R$ 50 bilhões.
O colapso da barragem da Samarco em novembro de 2015 deixou 19 mortos e centenas de desabrigados, além de poluir o importante rio Doce em toda a sua extensão, até o mar do Espírito Santo. A empresa levou anos para renovar suas licenças e retomar atividades.
Retomada -As operações da Samarco foram reiniciadas em dezembro de 2020, com a retomada de um de seus três concentradores para beneficiamento de minério de ferro no Complexo de Germano, localizado em Mariana, e de uma das quatro usinas de pelotização do Complexo de Ubu, em Anchieta (ES), totalizando capacidade de produção de 7 milhões a 8 milhões de pelotas de minério de ferro. (Reuters)
Vale expande a produção em mina no Canadá
São Paulo – A Vale anunciou ontem a primeira produção de minério no projeto de expansão da mina de Voisey’s Bay, no Canadá, onde está um dos maiores depósitos de níquel do mundo.
Voisey’s Bay produz níquel a partir de uma operação a céu aberto desde 2005, e a transição para lavra subterrânea envolve o desenvolvimento de duas minas – Reid Brook e Eastern Deeps, estendendo a vida útil das operações da Vale em Labrador, ressaltou a companhia.
Com a expansão, a mineradora prevê produção de 40.000 toneladas de níquel em concentrado a uma taxa de produção anual máxima de 2,6 milhões de toneladas até 2025, com cerca de 20.000 toneladas de cobre e 2.600 toneladas de cobalto como subprodutos.
O projeto está 65% concluído, com US$ 1,260 bilhão em investimentos executados. O start-up da mina Eastern Deeps está previsto para 2022.
A Vale destacou que a produção de níquel, cobre e cobalto ajudará a atender a demanda futura dos clientes dos setores de veículos elétricos e energia limpa, à medida que a indústria busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa e apegada de carbono. Metais como níquel são utilizados para a produção de baterias.
Greve -Os membros de um sindicato que representa os trabalhadores da mina de níquel da Vale em Sudbury, Canadá, que estão em greve, rejeitaram a última oferta da empresa brasileira, e pediram que a mineradora se comprometa a negociações de “boa-fé” para que a paralisação seja resolvida.
Uma maioria de 87% dos membros do USW Local 6500 votou por rejeitar a segunda oferta realizada pela Vale em duas semanas, de acordo com o sindicato, que acrescentou que a oferta não foi diferente da anterior, que havia desencadeado a greve em 1º de junho.
O sindicato havia recomendado que seus membros rejeitassem a nova oferta da empresa brasileira, dizendo que ela oferecia “melhorias mínimas”.
Os 2.500 trabalhadores da mina cruzaram os braços em 1º de junho, reclamando dos planos de cortes de benefícios médicos e de saúde para aposentados, bem como aumentos salariais mínimos.
“A Vale quer reduzir o padrão de vida dos aposentados em nossa comunidade”, disse o presidente da United Steelworkers Local 6500, Nick Larochelle, em um comunicado.
A mineradora decidiu paralisar no início do mês as atividades de níquel, cobre e cobalto em Sudbury.
Segundo o sindicato, os trabalhadores da unidade são expostos a substâncias tóxicas e perigosas ao longo de suas carreiras, e muitas vezes eles desenvolvem doenças graves e têm problemas de saúde na aposentadoria.
A Vale Canadá disse estar decepcionada com a rejeição da oferta pelo sindicato. Mais cedo, a companhia havia afirmado que sua segunda oferta tentou abordar questões que preocupam os trabalhadores, incluindo salários, pensões e benefícios pós-aposentadoria.
“Nossa oferta foi uma tentativa genuína e sincera de tentar abordar as questões levantadas pelo comitê de negociações do sindicato na rodada mais recente de discussões. Claramente, continuamos afastados em temas importantes”, disse a empresa em comunicado.
A Vale foi obrigada a parar a mina depois que os trabalhadores rejeitaram sua oferta inicial. O USW Local 6200, que representa os funcionários em sua refinaria separada de Port Colborne, favoreceu o acordo proposto. (Reuters)
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