Samarco faz retomada gradual com foco em segurança

Dez anos após a paralisação provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas Gerais, a Samarco vive um novo capítulo. A mineradora, controlada pela Vale e pela BHP, retomou suas atividades em dezembro de 2020 de forma gradual e com profundas mudanças em seu modelo operacional, com a adoção de novas tecnologias que reduzem de forma significativa os impactos das operações no meio ambiente. A meta é alcançar 100% da capacidade produtiva instalada até 2028, com investimentos que podem chegar a R$ 13 bilhões.
“O rompimento da barragem de Fundão, em 2015, marcou a história da Samarco. É um acontecimento que lamentamos e jamais esqueceremos. Logo após o rompimento, a empresa se dedicou às ações emergenciais, com atendimento à população atingida, às obras de reforço das estruturas geotécnicas remanescentes e à contenção de rejeitos”, explica o diretor Técnico e Projetos da empresa, Reuber Koury.
A partir de 2016, com a criação da Fundação Renova, atualmente em liquidação, a responsabilidade pela reparação foi formalizada, enquanto a Samarco iniciava um processo interno de revisão de práticas e planejamento de uma possível retomada. Em 2019, obteve a Licença Operacional Corretiva (LOC), mas optou por aguardar mais um ano para reiniciar as operações no Complexo de Germano, assegurando a conclusão de um sistema de filtragem para empilhamento a seco de rejeitos, eliminando o uso de barragens de rejeitos.
Novo modelo de operação
A principal mudança no processo produtivo foi a adoção da tecnologia de filtragem. Hoje, 80% dos rejeitos arenosos no Complexo de Germano são filtrados e empilhados a seco, enquanto o restante, composto por ultrafinos, é depositado em uma cava confinada. Essa inovação substitui definitivamente o modelo de barragens e tornou-se símbolo da nova fase da companhia.
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“O empilhamento a seco, além de uma opção tecnológica segura, também é uma resposta ao passado”, afirma Koury.
O processo de retomada incluiu a atualização de concentradores e usinas de pelotização, no Complexo de Ubu, no Espírito Santo. As estruturas passaram por manutenção eletromecânica, automação e adequação às normas de saúde, segurança e meio ambiente. A Usina de Pelotização 3, reativada em 2024, é considerada uma das mais modernas do mundo.
A ampliação da capacidade produtiva instalada representa, ainda, a continuidade de inovações que a Samarco tem implementado com o propósito de fazer uma mineração mais sustentável, a exemplo do uso de bio-óleo nas pelotizações. O projeto pioneiro visa substituir gradualmente o gás natural na matriz energética e integra a estratégia de descarbonização da empresa.
Escuta ativa – A retomada só foi possível com participação popular. O processo de licenciamento ambiental contou com audiências públicas em Mariana, Ouro Preto e Matipó, que reuniram mais de 5 mil pessoas. Também foram realizados centros itinerantes de informação, ampliando o acesso da população aos estudos socioambientais.
Segundo Koury, a mudança cultural foi essencial: “Sabíamos que, para voltar a operar, tínhamos que mudar não só o jeito de fazer mineração, mas também o nosso jeito de ser”.
Hoje, a empresa mantém diálogo permanente com comunidades vizinhas e acompanha de perto os indicadores socioeconômicos desses territórios, A empresa também apoia a diversificação econômica, o fortalecimento de cadeias produtivas locais e aposta em programas de capacitação. Nos últimos anos, foram abertas 700 vagas em cursos para moradores locais. Cerca de 40% dos formados em 2024 e 2025 foram contratados pela própria empresa ou por prestadores de serviço.
Empresa prioriza mão de obra local em suas unidades
A retomada das operações teve impacto direto no mercado de trabalho. Atualmente, a mineradora emprega cerca de 16,3 mil pessoas em Minas Gerais e no Espírito Santo. Desse total, 2,6 mil são empregados diretos e 13,7 mil atuam por meio de empresas contratadas.
A prioridade é contratar mão de obra local. Somente em Mariana e Ouro Preto, 69% dos empregados vivem nos municípios vizinhos ao Complexo de Germano.
Desde a retomada, em dezembro de 2020, até junho de 2025, a empresa e seus fornecedores recolheram R$ 6,76 bilhões em tributos, sendo R$ 1,08 bilhão para Minas Gerais e R$ 1,51 bilhão para o Espírito Santo.
Caminho para o pleno funcionamento segue até 2028
A Samarco adotou um processo gradual de aumento da produção. Em 2020, voltou a operar com 26% da capacidade instalada. Em 2024, alcançou 60% – o que representa uma produção anual de 15 milhões de toneladas de pelotas e finos de minério de ferro – com a entrada em operação de um segundo concentrador, uma nova planta de filtragem em Germano e a reativação de uma planta de pelotização em Ubu.
Para atingir 60% da capacidade, a mineradora investiu R$ 1,6 bilhão, gerando cerca de 3 mil postos de trabalho.
Próximos passos – O projeto de retomada integral prevê a reativação de mais uma usina de beneficiamento e a instalação de uma terceira planta de filtragem no Complexo de Germano, em Minas Gerais. Em Ubu, Espírito Santo, será necessária a reativação de mais duas usinas de pelotização.
Os investimentos, ainda em revisão, podem alcançar R$ 13 bilhões. A previsão é que o plano seja aprovado pela Governança e pelo Conselho de Administração até o fim deste ano.
Além da expansão, a companhia aposta em reduzir ainda mais a geração de rejeitos, com maior eficiência nas plantas de beneficiamento. O aproveitamento do rejeito arenoso já encontra aplicações na construção civil, especialmente na produção de concreto, e em projetos de pavimentação ecológica.
Um novo ciclo – A retomada da Samarco representa um esforço para reconstruir relações, modernizar processos e mostrar que aprendeu com o passado. Em números, são milhares de empregos, bilhões em tributos e investimentos robustos. Em termos simbólicos, é um trabalho intenso para provar que é possível praticar mineração sem barragens, com tecnologia, segurança e responsabilidade social.
“A retomada vem ocorrendo de forma gradual, considerando todas as lições aprendidas e tendo como premissa a segurança em todos os nossos processos”, destacou o diretor Técnico e Projetos da empresa, Reuber Koury.
Entre a memória do rompimento e a promessa de futuro sustentável, a Samarco caminha para consolidar um novo ciclo – composto não apenas pelo alcance das metas de produção, mas pela capacidade de manter diálogo, garantir segurança e reconquistar a confiança da sociedade.
Produção anual
- 2021: 7,9 milhões de toneladas;
- 2022: 8,3 milhões de toneladas;
- 2023: 9,4 milhões de toneladas;
- 2024: 9,7 milhões de toneladas.
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